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MARIANA


Às mãos que me acalentou durante a minha infância e minha adolescência fazia o mesmo trabalho agora depois de adulta.

Joana: Que vento foi esse que te trouxe?

_ah! Mãe...

Eu fui até seu colo e me inclinei colocando a cabeça em seu ombro como tantas outras vezes eu já havia feito.

Chorei minhas mágoas e como sempre ela tão compreensiva.

Sabia que assim que soubesse o motivo de minhas dores a decepção a abraçaria.

_Fiz coisa errada mãe. E agora está doendo aqui. - Apontei para o meu coração.

Joana: Quer me contar?

Eu sabia que podia confiar na minha mãe, mas o medo de desapontá-la era tão grande.

Joana: Todos os nossos erros são passíveis de correção. Desabafa e veremos o que pode ser feito, e se não puder fazer nada, vamos tomar um sorvete de morango com calda de chocolate e esperar o amanhã chegar, para que tudo fique passado.

Minha mãe é sem dúvidas minha melhor amiga. Nunca tive problemas de conversa sobre qualquer assunto. Ela sempre tão amorosa me criou como se fossemos duas amigas, não tínhamos segredos e ela sempre procurou me mostrar o lado bom de todo drama que vivi na adolescência, sempre ao meu lado. Me apoiando, me motivando, me corrigindo e orientando a buscar sempre o melhor.

Quando meu pai sentou para falar comigo que aos 18 ia ser por minha conta, eu lembro que minha mãe conversou bastante. Me explicando sobre a vida adulta, sobre não desviar das responsabilidades, sempre ser honesta e verdadeira, manter o meu bom caráter e que a vida é uma eterna colheita.

Mas uma coisa eu não consegui, escolher bem o cara que eu queria para o resto da minha vida, que eu me apaixonaria.

Eu olhei em seus olhos com a vergonha me consumindo.

_ Eu estou apaixonada.

Joana: Ah, meu amor. - Me abraçou. - Isso é tão bom. Amar é uma dádiva para poucos neste mundo.

_ Mãe... ele é casado.

Vi em seus olhos um misto de decepção e mágoa. Sabia que isso ia acontecer no momento que ela soubesse.

_Quando eu o conheci, eu não sabia. Estávamos num bar comemorando o novo trabalho, eu e Anna com algumas amigas e ele apareceu. Foi tão gentil, diferente de todos os outros. Conversamos bastante e nós ficamos.

Joana: Ficaram?

_ Sim, saímos de onde estávamos e ele me levou para um motel.

Ela se levantou da cama e foi até a janela permanecendo em silêncio e eu chorando na cama.

Contava todos os meus segredos para minha mãe, ela sabia que eu era virgem e também da minha vontade de me entregar a alguém apenas quando eu sentisse que fosse especial.

_ Nós estávamos indo bem, ele foi tão cuidadoso comigo. Só que depois teve que viajar a negócios e depois de um tempo ele voltou, continuamos juntos até que uma noite eu peguei o seu celular por engano e vi uma mensagem da mulher dele. Mãe, eu tentei me afastar, mas ele insistiu tanto. Disse que já estava gostando de mim.

Joana: E você caiu minha filha? - Perguntou incrédula, um tanto alterada.

_ Eu já estava gostando dele.

Joana: Eu não sei o que te dizer. Você sabe o que eu passei com seu pai.

Lembro quando Marcos era pequeno e meus pais passaram por uma fase difícil no casamento, meu pai chegou a passar um tempo fora de casa e logo depois voltaram, desde então ele trata a minha mãe de maneira diferente. É totalmente atencioso a ela e os dois estão mais fortes e unidos.

Anos depois, quando eu era adolescente minha mãe me contou sobre a traição, me explicou que foi uma fase que os dois tiveram que passar e que ele percebeu a família que quase perdeu.

E desde então eu o vejo cuidar dela de maneira gentil.

Constatar isso me faz ver que eu e Felipe realmente nunca vai acontecer.

_ Eu tentei resistir mãe, tentei. Não consegui e aceitei ser amante dele porque me disse que o casamento dos dois estava mal. Foi nisso que eu me apeguei.

Joana: Todos dizem isso.

_ Eu senti que era verdadeiro, sei que fui egoísta, mas eu queria acreditar em suas palavras, só que ontem a mulher dele nos pegou em uma festa e queria me bater.

Joana: Oh! Meu Deus, há que ponto essa história vai chegar Mariana?

Colocou a mão na boca, parece que quanto mais eu contava, mais sua decepção aumentava.

Só que eu precisava desabafar. Precisava que alguém me trouxesse a realidade para o que eu estava vivendo.

_ Eu sai, não briguei. Sabia que não estava certa e não ia aceitar brigar com ela por causa de homem. Ele veio atrás de mim, me falando que eu não ia sair da vida dele. Passei a noite em claro e de madrugada vim para cá. Ele não sabe que eu estou aqui. O que eu faço mãe? Já estou apaixonada por ele. A verdade é que acho que o amo.

Joana: Ah, meu amor, minha florzinha você cresceu tão rápido, estava indo tão bem focada na sua faculdade e do nada isso?

_Eu sei mãe.

Joana: Ele não vai largar a mulher, e vai inventar mil desculpas para você permanecer ao seu lado. A pergunta que eu quero te fazer é "você está preparada para sair destruída dessa história"?

Ouvindo aquilo tudo perturbou ainda mais o meu coração.


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