15°

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MARIANA


Depois do sexo Felipe pegou no sono, por outro lado, eu não consegui dormir.

O peso na consciência me golpeou em cheio e a moral e bons costumes que eu sempre acreditei foi defasada, me trazendo uma dor imensurável, ver ele ali deitado e dormindo como se nada estivesse acontecendo, como se o que estávamos vivendo não fosse errado me destruía.

Não consegui descansar, e durante a madrugada mesmo repensei meus atos, perto dele eu não iria conseguir raciocinar, eu precisava de espaço. E foi isso que fiz.

Fiquei com o olho aberto até de madrugada quando olhei no relógio 04:15. Levantei no mais absoluto silêncio, recolhi todas as minhas coisas e fui no guarda roupa para pegar um casaco dele.

Com certeza lá fora a brisa da madrugada deixava o tempo gelado.

Desci as escadas da casa que estava em total penumbra. Cheguei a porta principal sem que ninguém me percebesse e andei pelo pequeno jardim da frente da casa abrindo o portão logo em seguida.

Estava tudo tranquilo demais para ser verdade. Dei de cara com dois homens altos e enormes o suficiente para desencorajar qualquer invasão, muito mal-encarado por sinal.

Porém eu não tinha escolha, estava em meu momento de ação, então vesti a minha armadura de coragem, pois não poderia fracassar logo agora.

Se não fosse essa a minha oportunidade não seria nunca mais.

Porque um golfo de coragem me atingiu neste momento e se ele chegasse perto eu cederia novamente.

Xxx: Tá indo onde senhora? - Perguntou um cara parado na calçada de forma tão séria.

Esses homens que trabalham com Felipe dá medo quando olham diretamente no seus olhos e lhe dirige a palavra.

Deus me livre um dia cair nas mãos deles de forma errada.

_ Estou indo trabalhar. - Menti, foi a primeira coisa que me veio à cabeça.

A verdade é que não era uma mentira, mas também não era verdade.

Xxx : Chefe não falou nada.

_ Eu dou aula numa escola lá no bairro do Limão, você sabe que no horário do rush vai ser impossível ir pra zona norte.

Xxx: Tranquilo dona, só que o chefe não falou nada.

Ele parecia que não ia ceder.

_ Ele está dormindo. Quer acordar?

Xxx: Aí cê me complica.

_ Faz o seguinte, vou mandar mensagem para ele, quando acordar ele visualiza e não dá problema nenhum!

Peguei meu celular na bolsa e abri no aplicativo e mandei um áudio.

_ Fê, estou saindo para trabalhar. Pedi para o cara que está aqui na porta me liberar. Obrigada.

Olhei para o homem que me deu um aceno de cabeça.

Ele pareceu convencido, e agradeci por não relutar mais.

_ Como eu faço para pegar um ônibus para o centro até Pinheiros?

Ele me explicou como fazia. Só que meus planos eram outros.

Toda essa confusão me deixou aflita. Estava sem conseguir respirar e não estava pensando de maneira justa para ambos os lados. O meu e o da Tayane.

Fui até Pinheiros e de lá mudei meu trajeto até o Jabaquara, uma longa caminhada de metrô.

Peguei um ônibus para o litoral, ia para a casa dos meus pais para respirar um pouco, lá era meu refúgio e sabia que como ele não conhecia, não iria atrás de mim. Desliguei meu celular e joguei na bolsa, com a roupa do corpo estava, com a roupa do corpo eu fui.

Dei graças a Deus por conseguir chegar sem interferência.

Era por volta de umas três horas da tarde quando eu estava caminhando pela calçada do bairro dos meus pais em Santos. Saudades!

Aqui eu era inocente, aqui eu era uma boa menina, aqui eu era uma pessoa racional, sonhadora, porém justa.

Fazia meses que não vinha aqui. Vi os murinhos baixos da casa da minha mãe com vasinhos de flores que ela sempre cuidou, e senti meus olhos encherem d'água.

Bati na porta, pois a chave ficou no meu apartamento na capital. E quem abriu foi o Marcos.

Marcos: Não temos pão, nem água! - Ele me disse com aqueles pentelhos que ele chama de barba.

Não muda nada, um adolescente adulto demais para sua idade.

_ Pirralho, saudades! - O abracei forte e senti lágrimas em meu rosto.

Marcos: Iiiiiiiiiihhhhhhh! Que houve? Tá naqueles dias?

_ Não, só saudades mesmo. Cadê a mamãe? - Perguntei já entrando.

Marcos: Na pensão com o papai.

_ Certo, vou comer alguma coisa e vou deitar.

Marcos: Tá tudo bem? - Me olhou preocupado.

_ Tá sim. Não se preocupe. Só preciso descansar.

Fui até a cozinha e esquentei um escondidinho que vi na geladeira. Depois de saciada, fui para o quarto dos meus pais e tomei um banho para relaxar o meu corpo, peguei umas roupas antigas minha que a minha mãe insiste em guardar e me troquei, depois deitei, fiquei pensando em como tem sido as coisas na minha vida, meu relacionamento com o Felipe, na Anna que meio que andou sumida, na minha carreira que nem vi a hora que apaguei.

Despertei depois de não sei quanto tempo com uma mão fazendo carinho nos meus cabelos.

Abri os olhos lentamente e sorri.


AMOR INCONDICIONALOnde histórias criam vida. Descubra agora