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FELIPE


A vida é foda. Desde pequeno morador de favela lá no Jardim Guarani, minha mãe sozinha batalhou pra criar eu e meu irmão. Trabalhava o dia e a noite pra dar uma condição boa pra nós, nossa obrigação era só os estudos e manter a casa limpa. Só que é aquelas, a rua te convidava e os amigos te induzia, aí começou eu e o Leandro esperar minha mãe sair pra matar aula e ir pra rua ficar de pinote com os moleques.

Quando fui ver já tava fazendo favor pros cara e com um cigarro de maconha na boca. Me achando o tal.

Vou mentir não, no início era muito emocionado. Quem não ia ser? Na minha casa só não faltava comida, mas roupa era doada, móvel bom não tinha, e a casa que era no tijolo? Várias vezes vi minha rainha chorar no quarto achando que eu e meu irmão estava dormindo.

Comecei fazendo favor pra bancar meus pequenos luxo sem que ela percebesse. Mas teve um dia que não teve jeito.

Ela foi chamada na escola por causa das nossas faltas e quis saber onde estávamos. Leandro ficou com medo da prensa e abriu o bico. Naquele dia nós apanhamos, adiantou nada, a coroa lembra até hoje. Ela ficou no nosso pé mais firme pra terminar os estudos e hoje agradeço muito isso.

Só que já não tinha mais jeito gostei da coisa, principalmente da minha maconha.

Leandro era gente boa pra caralho, meu irmão mais novo, minha obrigação proteger ele. Falava com todo mundo, menor firmeza. Porém a vida de trairagem que nos cercava tirou ele alguns anos depois de nossas vidas. Levou dois tiros de um parceiro que andava com agente.

Minha revolta só cresceu, eu vi a minha mãe ser destruída por uma escolha nossa então eu prometi vingança. Os mano da quebrada me deram a fita de quem foi, só fiquei palmeando por um tempo. Então pedi autorização do disciplina pra fazer o acerto.

Peguei e ficou fudido. E ali foi quando entrei e me tornei um irmão. Meu envolvimento cada dia era maior, era emocionado, mas também trazia um lucro avanço.

Minha mente trabalhava a milhão e aquilo já estava sendo pouco pra mim. Minha cara já estava sendo caçada e não tava legal deixar minha mãe a vista. Levei ela pra uma cidade no interior da Bahia. Ela vive lá, dou as férias que ela merece. E ninguém sabe disso, não gosto de explanar minha vida pessoal.

Me tornei ruim devido a caminhada, emocionado pra caralho com poder nas mãos, tu queria o que? Já estava dominando a maioria das favelas na zona norte e parte da oeste. A inveja cresceu pro meu lado. Até que o mano que sempre esteve ao meu lado, já era velho entre os irmãos sentou e me passou uma visão que nunca vou esquecer.

Comecei a me fechar mais, era mais discreto e com isso meu poder foi aumentando, até que fui chamado pra uma sociedade. Deixei de ser comprador pra ser fornecedor.

O prêmio pela minha cabeça vale milhares, mas quero ver me pegar.

É aquelas, a firma tá faturando a rodo. E os funcionários é das mais variadas profissões. Tem juíz, advogado, tem empresário, tem meus vendedor, tem polícia, tem militar, tem políticos. Tudo que tu imaginar.

E falar, nenhum deles se interessam na minha prisão. A sociedade me vê como lixo, mas não sabem que os verdadeiros lixo é aqueles que se fazem de bonzinhos atrás de uma farda ou de um terno e gravata e eles trouxa acredita.

...

Conheci a Tayane num dos bailes da vida, tava na resenha de um amigo e ela lá, toda gostosinha, me encantei. Já quis pra mim e ela já veio na intenção porque sabia quem eu era.

No começo foi bom, maravilhoso, ela fodia pra caralho, mas eu era puto, um puto das putas. E não sosseguei, tava com ela, mas tava com outras. Nunca foi sentimentos, foi carne.

Ela queria luxo eu dava, em recompensa, me satisfazia na cama. Já me pegou várias vezes com outras mulheres. Dava o show dela, mas não largava o osso.

Até uma vez que tava visitando meu irmão Bruno, meu parceiro das antigas. Ele domina algumas favelas da sul e eu do outro lado. Nós fechava junto.

Tava de boa tirando um lazer com ele quando a Tayane apareceu na favela do mano do nada e me viu com uma garota. Já veio pra cima. Deixei elas se pegar porque se eu me metesse ali naquele instante não ia dar bom.

Tayane sabe que eu odeio esses shows, mas ela continua. Sai até de perto e mandei o Lacoste levar ela pra minha casa aqui na favela. Lá eu catei ela bolado, foi uma surra das brabas. A falta de postura já tava me incomodando. Quis forçar relacionamento sem eu querer e fica aí dando show pela rua. Eu ia terminar com ela, só que do nada a mina começou a sangrar. Era muito sangue.

Chamei o Biano pra me ajudar. E esse dia eu nunca vou esquecer. A culpa carrego nas costas até o dia de hoje.

...

Quando eu conheci a morena, porra! Puta que pariu! Que morena.

Coração do vagabundo tirou até as teias de aranha e as engrenagens voltaram a funcionar. Maluco.

Não me lembro de ser apaixonado por ninguém, mas essa era uma forte candidata. Já quis no meu nome. E coloquei. As pessoas acham que por que nós é bandido não se apaixona. Não gosto de render muito, até porque com os inimigos que eu tenho, não dá, mas a morena balançou o coração aqui. E falar, fechada, lacradinha. De pensar que só eu atuei ali naquele corpo já bate aquele homem das cavernas, tá ligado?

Com a Tayane é mais sensação de culpa, ela quer ser minha mulher? Faço. Quer ter os luxo? Eu dou. Quer viajar? Vamos. Mais não rola sentimentos. Nem lembro a última vez que transamos. Real que não consigo mais tocar nela. Já com a Mariana é diferente. Quero tá com ela sempre, foder ela sem parar. Não só isso, me preocupo com a sua vida, tanto é que já coloquei um segurança na cola sem ela perceber.

...

Tava no Damasceno cumprimentado uns amigos da antiga quando ela me ligou.

_ Fala minha gostosa.

Mariana: Tem um cara aqui na porta com uma Captiva disse que foi você que mandou me buscar.

_ Real, mandei mensagem pra tu, não chegou?

Já fiquei meio escaldado porque eu mandei a porra da mensagem e ela me liga desse jeito.

_ Não. Não percebi.

_ Foi eu que mandei, Biano falou que tá arriscado eu ficar cortando todo dia pro teu lado. Não vou poder fazer isso sempre. Ele vai te levar pra onde eu vou ficar hoje, jaé?

Mariana: Tá bom, tudo bem.

_ Gostei hein, ligou pro pai antes de entrar. Confia em ninguém não viu! Tá comigo tem que tomar cuidado.

Mariana: Bobo.

_ Tô aqui pelas redondezas, daqui a pouco tô indo pro Paraisópolis. Vamos ficar lá, tá?

Mariana: Você está aqui por perto e eu não posso ir ficar contigo?

_ Não pode, já falei, é arriscado. Eu tô resolvendo uns negócios de trabalho, morena vou desligar. Até mais tarde.

_ Beijo.

Vida arriscada essa que eu levo e não quero ela exposta.

Fiquei curtindo com os caras até que deu minha hora. Caminho tava limpo pra voltar pro favelão.

Sou muito desconfiado nessas coisas, gosto de ficar muito tempo nos lugares não. Sou cria daqui, conheço vários irmãos daqui, só que a vida que eu levo me obriga a desconfiar de tudo e todos e nunca parar em lugar nenhum.


AMOR INCONDICIONALOnde histórias criam vida. Descubra agora