Um barco, uma biblioteca e um louco

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- Você não acha que deveria procurar a polícia?

- Pelas costas do Levi? Nem pensar. Ele me mata se souber. – Eren sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao se recordar do olhar glacial que lhe era lançado sempre que fazia algo “errado” perto do mais novo.

- O adulto da história é você, Eren! – Acusou Armin. – Vai ficar com medo de um garoto?

  Naquela manhã, os dois tinham ido tomar um café no Flying Biscuit. Jaeger precisava conversar com alguém que não fosse enfiar na cabeça que eles iriam morrer na manhã seguinte, julgando a partir de suas desconfianças. Armin sempre fora muito comedido e inteligente, além de ser bom em dar conselhos, não se alardearia facilmente.

  Eren estava estressado com as constantes sensações de estar sendo observado. Ultimamente Levi também estava se sentindo vigiado com uma frequência grande demais e o mais velho começava a preocupar-se de verdade, muito além da mera desconfiança da semana anterior.

- Ele é quase maior de idade, ok? Aliás, estou pensando em fazer algo pra ele porque o aniversário está se aproximando. Além disso, você não o conhece como eu. Aquele ali só é pequeno, mas assusta que é uma beleza! Enfim, eu sei que deveria tomar uma atitude agora, mas não saber o que está acontecendo de fato me faz não querer envolver a polícia nisso. Deveria ser o contrário, eu sei também, mas e se essa pessoa fizer algo com... As pessoas que eu gosto? Nem sequer sabemos se a pessoa tem algo contra mim ou o Levi. Isso considerando que há mesmo uma pessoa. Até onde sei, isso pode ser uma brincadeira de péssimo gosto ou até mesmo algum tipo de vingança. Não dá pra se basear em adivinhações. – Ponderou.

- Bom, a única prova visual que vocês têm é essa do carro. Se alguém diminuiu a velocidade apenas pra observar o que estava acontecendo entre vocês lá dentro, significa que algo estranho tem na situação. Um fofoqueiro não ia se dar ao trabalho. – O loiro comentou. – Além disso, não é possível que os dois tenham a mesma sensação até mesmo quando estão separados.

- E não foi só nesse dia. – Jaeger suspirou ao se lembrar dos inúmeros comentários sobre o assunto entre ele e Levi. Aquilo estava se tornando muito recorrente. - Agora que estamos você e eu, está tudo bem, mas vim aqui no começo da semana com o Levi e tivemos a mesma sensação de estarmos sendo observados. O Levi disse que teve a impressão de estar sendo seguido várias vezes enquanto procurava trabalho. Quando saí da escola semana passada pra comprar o material na papelaria, percebi alguém andando atrás de mim, mas perdi de vista quando me virei completamente pra olhar.

- Eren, isso é muito sério, você precisa envolver a polícia. Não estou brincando e não é uma opção. Você vai envolver as autoridades nisso! – O loiro batia o dedo na madeira da mesa, usando seu tom sério e um olhar que se aproximava ao de Levi no quesito “assustador”.

- Eu vou conversar com o Levi porque ele não tem muita fé na polícia, – Ele fez de conta que não viu as sobrancelhas juntas e a aura de autoridade do amigo. As coisas não eram assim tão fáceis. – e acha que podemos resolver isso sozinhos. Sabe como é, ele já passou por muita coisa e já não acredita na justiça.

- Tá, mas como ele quer resolver? – Arlert indagou, cético de que pudesse haver uma solução que não fosse arriscada demais para os dois.

- Eu não sei. Ele tem a própria maneira de lidar com as coisas.

  Tudo bem, era muito vago, mas Jaeger confiava em Levi e sabia que ele tinha muitos “amigos” – entre mil aspas - no bairro que poderiam ajudar a descobrir o que estava acontecendo na vida deles, quem estava seguindo-os e observando-os de longe, e com que finalidade.

  O loiro suspirou. Arlert gostava de Levi, tinha aprendido a lidar com suas respostas rápidas e ácidas; o admirava por ter uma história um tanto triste e mesmo assim continuar sendo forte, aparentemente sem rachaduras no muro que construíra em volta de si, além de que era um garoto inteligente e o de olhos azuis tinha grande apreço por pessoas inteligentes. Contudo, a segurança dele mesmo e de Eren estavam em jogo e o loiro sabia que as coisas só iriam piorar se deixassem levar sem tomar uma atitude condizente com a situação. Caso fosse real, deviam estar protegidos por quem é capacitado para isso, caso não fosse real, paciência. Difícil seria se eles não fizessem nada e fossem pegos desprevenidos numa situação arriscada.

Nos passos do destino • EreriOnde histórias criam vida. Descubra agora