Suspeita

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  Foram horas de angústia.

  Assim como havia feito desde que acordou, Levi permanecera em silêncio.

  Durante seis horas, Hanji esteve em seu quarto, saindo do mesmo e voltando minutos depois. Não havia nada a ser dito ainda. Eren permanecia dentro da sala de cirurgia e ninguém podia sair de lá antes que o procedimento terminasse, portanto não haviam notícias a serem dadas.

  Nesse dia, o Ackerman não tentou, em seu mundo de imaginação, se aproximar do moreno. Sabia que a notícia que recebera da amiga faria alguma diferença naquilo – em sua ilusão. Iria interferir de forma negativa e sua mente já não seria capaz de ver Eren como tinha sido desde que aquilo começou. Inevitavelmente ficaria perturbado por finalmente visualizar seu namorado numa cama, cheio de tubos pelo corpo e sendo aberto no abdômen pelos médicos que seguravam lâminas afiadas. O pequeno procurou esvaziar a própria mente. Queria manter o foco na esperança de que o homem de olhos verdes sairia ileso de tudo aquilo no final. Ansiou a cada segundo que tal final se achegasse mais rapidamente, visto que já não suportava a sensação de vazio.

  Fora como um lobo solitário durante grande parte da vida, então primeiro encontrou a Hanji, o Farlan e a Isabel, depois Irwin - que era como um padrinho -, para só então ser presenteado com Eren. Antes deste último, por mais próximo que fosse de Hanji, ainda não tinha em quem se apoiar quando necessitava de um tipo específico de afeto. Um que não estivesse pautado apenas na amizade. Estivera tão sedento por isso, ainda que inconscientemente, que acabou se entregando para o primeiro que lhe ofereceu algum tipo carinho, entretanto arrependeu-se amargamente. Queria apagar a parte de sua vida em que fora bobo, idiota o suficiente pra cair na lábia daquele jovem desgovernado que aparecera derrubando todas as suas estruturas quase inexistentes. Seu primeiro estragou ilusões que Levi sequer sabia ter. Depois disso, foram apenas momentos frios. Esteve sempre caindo naquele poço que parecia não ter fundo por tempo demais em invernos inacabáveis.

  Só ele sabia o quão devastador e assustador era cair por um tempo tão longo.

  Sem que se desse conta, Eren Jaeger o segurou antes que alcançasse o fundo, o protegeu, salvou, aqueceu, amou e ensinou que as aparências não dizem muito sobre quem uma pessoa é. Ter status e dinheiro não significa que uma pessoa é má ou quer brincar com seus sentimentos. Todos têm direito de possuir bens materiais, porém isso não necessariamente os corrompe. É claro que o mais novo tinha consciência sobre as pessoas cruéis que ainda existiam no mundo; não tinha se tornado um bobo apenas por amar alguém, contudo aquele professor de ballet o ensinou que podia ser livre e que era possível sentir sem estar totalmente em perigo, sem sentir-se acuado e fraco. Tudo bem que sentir é sempre um perigo, sempre se trata de expor seu coração a outro, porém valia a pena arriscar, visto que seu íntimo lhe dizia que podia se entregar, que estaria a salvo de qualquer forma se fosse Eren a amá-lo.

  O bailarino chegou aos poucos, tirando-o de uma dificuldade, apoiando-o e salvando-o quando já não tinha para onde ir ou o que fazer da vida. Deu lhe um propósito e outra forma de ver a vida. Já não era vazio. Já não era um lobo solitário. Não pertencia somente ao mundo como sempre pensou. Voluntariamente passou a pertencer ao Eren e já não queria estar sem o conforto de sua presença, por isso sofria tanto ao imaginar tal desfecho.

  Suas mãos estavam frias e tremendo quando Hanji entrou no quarto pela oitava vez.

  Levi estava contando.

  Toda mísera vez em que a porta se abria, seu coração se esquecia de pulsar uma vez.

  Podia ser Eren morrendo...

Nos passos do destino • EreriOnde histórias criam vida. Descubra agora