Conclusões precipitadas

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Eu que não fumo queria um cigarro

Eu que não amo você

Envelheci dez anos ou mais nesse último mês

E eu que não bebo pedi um conhaque

Pra enfrentar o inverno que entra pela porta que você deixou aberta ao sair.”

                                     Engenheiros do Hawaii – Eu que não amo você

 



  Era o pesadelo mais real que já tivera.

  Na realidade, Levi teve que admitir que não era um pesadelo mesmo, ainda que fosse idêntico ao que considerava como um.

  Lá estava ele na escola. Cada passo parecia pesar toneladas. Aquele era um ato completamente forçado pelas circunstâncias, porém no fundo estava curioso pelo funcionamento do lugar, por conhecer os rapazes que estudavam ali e que vira dançando no primeiro dia. Estava curioso com relação à sexualidade deles também, a maneira como eram tratados, a relação que tinha com as meninas e com seus professores.

  Ele sabia que existiam sim bailarinos heterossexuais e homoafetivos, mas queria saber especificamente sobre os seus futuros colegas, talvez se encaixasse melhor do que pensara. Queria saber se seria bem aceito ou se eles o rejeitariam. Também não era algo que Levi realmente queria pensar, era involuntário, pois não queria se importar. Sua meta era entrar e sair sem nunca ser notado verdadeiramente, porém sempre gostou de observar o comportamento alheio. Não gostava de se misturar, mas se interessava pelo comportamento humano.

  Eren aguardava Levi no salão. Esperava que se atrasasse e que tudo de pior fosse acontecer. De fato desde que recebera a noticia da admissão forçada do jovem, Jaeger tinha depositado nele todas as suas negatividades acumuladas. Após ver seu rosto as coisas só pioraram. Queria acreditar que se tratava de um terrível engano e seria assim que o trataria, como um engano. Um simples erro de percurso que logo seria corrigido.

  Notou em Levi aquela postura de quem se considera superior. Percebeu que o outro considerava aquilo tudo banal demais, errado demais, e Eren se propôs mentalmente a provar para ele que não era da forma como pensava, tendo sempre em mente a correção do erro.

  Jaeger não gostou da postura do jovem, especialmente porque não sabia de tudo que tinha passado para estar ali. Só Eren e a mãe sabiam de tudo que ele estudou e das horas que passou ensaiando para ser cada vez melhor. Recordava-se das dores, da pressão para alcançar a perfeição, do trabalho árduo da mãe para mantê-lo e de todo o sofrimento.

“Ele não sabe nada sobre mim.” Considerou. “Não pode me julgar como alguém que teve uma vida fácil. O único aqui que deve ter tido isso foi ele. Roubar... Onde já se viu uma coisa dessas? Ser desonesto nunca é uma opção. Ele deveria era ter estudado mais.”

  Eren marcou a aula num horário em que a turma estava mais avançada. Seria mais assustador para Levi, porém essa atitude não fora proposital. Na verdade o professor teria que dar mais atenção ao novato e numa turma de novatos, isso não seria possível. Teria vinte alunos em média para dar atenção. Se colocasse Levi numa turma de iniciantes ele teria dificuldade de pegar os primeiros movimentos por não ter assistência adequada, até porque parecia se importar mais com as lutas e o moreno achava que o outro não daria conta, principalmente por subestimar o nível de dificuldade de uma dança como o ballet clássico. O baixinho fora claro em suas demonstrações de desdém.

Nos passos do destino • EreriOnde histórias criam vida. Descubra agora