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Assim que entro na sala o ambiente entra em silêncio, fica pesado. Consigo sentir os olhares das dezenas de alunos sobre mim à medida que eu ando para o meu lugar, numa das mesas do fundo. Sento-me na cadeira habitual perto de uma mulher de cabelos rosa pelos ombros e roupas escuras. Ayla, é o seu nome. Conheço-a pois temos várias aulas em comum apesar de nunca termos trocado mais de duas palavras.

Ignoro toda a atenção e olhares curiosos da turma, deixando prosseguir a aula. Não faço a mínima ideia do porquê de todos estarem tão interessados em mim, estou completamente às escuras, ao que o melhor que tenho a fazer é exatamente ignorar.

O professor Reynolds ensina algo sobre o inconsciente, matéria de psicologia, mas eu não consigo concentrar-me no seu discurso devido aos olhares de relance que Ayla, ao meu lado, lança na minha direção.

— Não és muito discreta, sabias? — murmuro, ainda com os olhos focados no professor.

— Não entendo o que ele viu em ti. — encolhe ombros, tirando finalmente os olhos de mim. Um grande ponto de interrogação forma-se na minha mente e logo se reflete na minha expressão confusa. A pergunta que agora ronda a minha cabeça escapou-me pelos lábios num ápice.

Ele quem?

— O Sawyer, claro. Ou tens amnésia e não te lembras de ontem? — pergunta, com um tom de voz irónico que me chega aos nervos. Se não criei uma amizade com ela antes agora não vou criar de certeza.

Ontem... Ontem, depois das aulas Lewis convidou-me para comer um gelado numa gelateria próxima ao campus e eu, por alguma razão que eu ainda desconheço, aceitei. No fim da tarde, quando ele me deixou na porta dos dormitórios beijou-me, um beijo que me apanhou desprevenida causando-me a corresponder. Não que tenha sido mau, aliás tenho que reconhecer que ele beija bem, mas eu nunca fui propriamente uma fã de Lewis Sawyer, o integrante da tão cobiçada equipa de Andebol da FNU. Foi então que tudo descambou; no fim do beijo, o loiro convidou-se para subir para o meu quarto e termos uma ótima noite, ou pelas suas palavras "para ele conhecer os meus lençóis". Eu nunca iria para a cama com ele, nunca perderia a dignidade de tal forma e aquele beijo não era suposto ter acontecido. Então eu recusei o convite, entrei no dormitório e fui dormir.

Não entendo o que Ayla quis dizer com "não te lembras de ontem", mas não sou burra para não entender que alguma coisa se passou para tudo estar do avesso hoje.

— Sim, eu esqueci-me. Gostarias de me fazer o favor de refrescar a minha memória? — fiz a minha melhor cara de sonsa e cuspi todo o meu sarcasmo.

— Não te faças de burra, Zara, não te fica bem. — diz revirando os olhos. — Se não querias que todo o campus soubesse tinhas bom remédio, era só não fazeres sexo com ele.

— NÃO O QUÊ?!

— Srta. Pearson, por favor, se quiser fazer barulho faça-o à vontade... mas lá fora. — o professor Reynolds adverte e eu apercebo-me do quão alto ficou o meu tom de voz.

— Desculpe professor, não se voltará a repetir. — depois viro-me para a mulher de cabelo rosa, suspirando. — Mesmo que tivesse acontecido alguma coisa, não era da tua conta.

Ayla Clarkson não tocou mais no assunto, ou melhor, não falou mais comigo, para grande alívio meu. E assim quando chega o final da aula eu corro pelos corredores até o enorme relvado do campus para encontrá-lo, que, como sempre, está com os colegas encostados a uma árvore e sem camisa, rodeados de alunas desesperadas por atenção.

— Lewis. — chamo, com os olhos em chamas. Todos os presentes olham para mim, uns com olhares maliciosos, outros com nojo ou divertimento.
— Zara — ele abre um ridículo sorriso presunçoso.

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