twelve

3.2K 236 14
                                    



   Depois de mais duas aulas a contar os intermináveis segundos posso sentir o frio no meu estômago passar a gelo glaciar. Estou ansiosa por esta noite com Ace, não posso negá-lo, e assim que vejo a mensagem que ele me mandou sinto a excitação percorrer-me as veias.

   "Estou no estacionamento à tua espera, baby. Não te esqueças de levar roupa interior a mais porque a que tens vestida hoje vai ser arruinada ;)" 17:02

   Sorrio mais uma vez enquanto faço o meu caminho para fora da sala. Ao almoço, depois de fingir ir ao dormitório, voltei à cantina a tempo de conversar um pouco com Dess. Ela contou-me sobre os planos com Corey, que ele iria levá-la para jantar na pizzaria do centro da cidade e depois ao cinema ver um filme que ela não sabia. Segundo Corey era surpresa e a minha amiga pareceu apenas ficar encantada com todo o suspense que o namorado está a fazer.

   Ao longe finalmente consigo ver Ace. Desta vez está encostado num carro preto, um clássico Charger 68, lindo de morrer! Ace não está para menos. Percebe-se que tomou banho pelos seus cabelos negros húmidos caírem numa ondulação quase cacheada. As roupas também são lavadas. Agora perto dele, ele sorri para mim terminando de tragar o seu cigarro. Malditos cigarros que o fazem ficar tão quente! As suas órbitas claras encaram-me com intensidade suficiente para eu querer ficar envergonhada.

   — Cuidado para não sujares a roupa de baba. — ele passa o polegar no meu queixo. — Estou assim tão bonito?

   — Idiota. — sorrio perante o seu sorriso torto. Ele passa a língua pelos lábios e leva o cigarro uma última vez à boca antes de o pisar no chão. Ele então pega a minha mochila do meu ombro sem encostar sequer um dedo em mim e coloca dentro do carro.

   — Entra, temos uma longa noite pela frente. — e entra no carro. Ace não me tocou, não me beijou, nem sequer se aproximou. Fico parada durantes uns segundos a absorver o que quer que se tenha acabado de passar. Eu queria que ele me beijasse...

   Entro no lado do passageiro e aperto o cinto. Dois segundos depois Ace liga o carro e arranca em direção a sua casa.

   — Então, ahm, isto da Andressa e... do teu irmão é sério? — questiono a fim de começar uma conversa. Ele permanece com os olhos na estrada e uma expressão impassível.

   — É, eu acho que sim. Acho que o Corey nunca esteve tão empenhado numa mulher quanto com Andressa.

   — Ele é do tipo festeiro, não é? — encaro a rua através da janela. — Casos de uma noite, sem criar sentimento.

   Ace não me responde. Mais uma vez permanece em silêncio com o olhar focado na estrada. Os seus dedos tamborilam algum ritmo da sua cabeça no volante, o que me traz arrependimento instantâneo de ter feito aquela pergunta. Não era da minha conta, obviamente mas acho que não consegui conter-me de perguntar. Eu bem lá no fundo sabia a resposta, aliás toda a gente sabia. Pelo historial e fama de Ace Braden o irmão caçula não podia ficar atrás. Corey só entrou na Franklin este ano mas os seguidores fiéis da fofoca que é a vida de Braden não pouparam o James mais novo ao lhe darem a mesma fama do irmão. Creio que é assim que acontece. Quando as pessoas esperam alguém assumir certo comportamento a própria pessoa em questão começa a comportar-se como todos esperam. Até que chega a ser algo natural, algo que já passou a ficar nas veias e não é mais uma tentativa de corresponder às expectativas do resto.

   — Conta-me um pouco sobre ti. — a voz grossa irrompe o ambiente pela primeira vez por vontade própria. Há minutos eu realmente queria que ele iniciasse algum tema de conversa, mas não aquele. Eu não quero falar sobre isto.

   — Não há muito para contar. — suspiro.

   — Hm. — murmura. — E se for eu a contar uma coisa e depois tu fazes o mesmo. Troca por troca, é justo!

   Encaro-o com certa dúvida. Não me parece que este caminho seja a melhor opção. Por fim, depois de um longo silêncio da minha parte, ele dá uma rápida olhada à espera de receber a minha resposta.

   — Tudo bem. — murmuro quase num sopro.

   — Bem, o meu nome completo é Ace Braden James, tenho vinte e dois anos e venho de uma pequena cidade chamada Beaufort, na Carolina do Sul.

   Ele então para de falar e percebo que quer que eu fale então da minha origem.

   — Tudo bem, eu posso fazer isso. — murmuro mais para mim do que para ele e suspiro. — Zara Harper Pearson, vinte anos, e venho de Chicago.

   — A cidade da máfia...

   — Sim, a cidade mãe da máfia estado-unidense. — sorrio pela constatação.

   O carro abranda para entrar numa rua estreita mas bem iluminada. No fundo da pequena rua posso ver um grande portão branco com as palavras 'South Side' a dourado. É claro que os irmão James moram num condomínio de luxo.

   — Vês, não foi assim tão difícil, baby. — ele sorri pela primeira vez desde que saímos do estacionamento do campus e carrega num botão no carro que abre os portões.

   — Vemo-nos mais tarde, Ace, Zee. — Corey despede-se de nós a caminho da porta. — Ah, e cuidado, não quero ser tio ainda!

   Todos rimos e ele fecha a porta atrás de si. Ace vira-se para mim agora com uma carranca desenhada no rosto.

   — E desde quando é que vocês têm a intimidade para ele te chamar de Zee? — resmunga.

   — Desde que ele namora a minha melhor e, provavelmente, única amiga. — abro um sorriso divertido. Ver Ace com ciúmes traz-me uma sensação estranha no estômago. Quer dizer, estranha, mas boa.

   — Hm, estou a ver.

   Suspiro e aproximo-me dele um pouco. Ele está sentado no meio do grande sofá de couro castanho e eu estava em pé no balcão da cozinha americana. Lentamente sento-me a seu colo e as mãos de Ace viajam para a minha cintura num impulso.

   — O que é que se passa? — pergunto referindo-me a todo o seu comportamento desde que entrámos no carro.

   Ele não me encara, as suas íris âmbar encaram um ponto fixo na parede de tijolo branco atrás de mim mas não se atrevem a focar nos meus olhos.

   — Nada, só tive uma tarde má. Tenho muita coisa na cabeça.

   — Eu posso ir embora para, hm, tu descansares. — arrisco em sugerir. Não é bem o que eu quero e rezo silenciosamente todas as rezas que sei para que ele não me deixe ir. Quando não obtenho resposta faço menção de me levantar mas os braços fortes e tatuados dele puxam-me para baixo com veemência.

   — Não. Não vás. — finalmente as suas orbes encaram as minhas. A sua voz é dura como uma ordem e traz um efeito de latência ao centro das minhas pernas. Observo bem as sua boca involuntariamente e sei que ele faz o mesmo com a minha. A sua língua passa pelo lábio inferior demoradamente revelando um pouco da bolinha de metal prateada. A tensão sexual é de cortar à faca e ambos parecemos querer sucumbir a ela.

   — Então beija-me. — peço.  

TatuagensOnde histórias criam vida. Descubra agora