twenty three

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— Jack Daniels com gelo, por favor. — um arrepio percorre a minha espinha. Sem olhar para trás, pego um copo, coloco gelo e despejo o líquido cor de âmbar. Ao passar a bebida pelo balcão a mão dele toca-me. Tem os nós dos dedos vermelhos, notando-se terem estado feridos, e eu apenas observo. O meu olhar vai subindo pelo antebraço, a preto desenhos de uma caveira junto com uma árvore e rosas confundem-se em rabiscos. Mais acima uma corrente partida e dois pássaros enjaulados até a manga da t-shirt me impedir de ver mais.
— O que fazes aqui? — finalmente ponho as minhas íris nas suas. Ele está bonito, muito bonito. Os cabelos pretos desgrenhados como sempre caem pela sua testa emoldurando-lhe o rosto. Lábios avermelhados enquanto bebem do seu recém preparado whiskey com gelo. Está vestido com uma t-shirt branca e calças skinny pretas, básico mas assenta-lhe que nem uma luva.
— Acho que precisamos de falar.
— Ah, agora já queres falar comigo? — pergunto, com a voz encharcada de ironia.
— Sim, tenho algumas coisas a dizer. — ele encolhe os ombros, pouco ou nada abalado com o meu tom de voz.
— Daqui a... — olho para o relógio na parede. — ...meia hora tenho um intervalo de dez minutos, esse tempo serve?
— Eu espero até saíres, não te preocupes. — ele bebe o resto da bebida e permanece ali. De antebraços pousados no balcão, a observar-me. Assinto timidamente.
   — Okay...

   O resto da noite foi uma correria. Hoje a casa esteve cheia e não houve quase descanso para nenhum de nós. Agora, à meia noite e meia, acabo de fechar o meu armário na sala de arrumos pronta para encarar o que me espera. Assim que passo pela porta tenho um vislumbre de Ace lá fora. Consigo vê-lo encostado ao poste de luz em frente à porta de vidro do estabelecimento e assim que me vê sair para o frio da noite descarta o cigarro.
— Vem, trouxe o carro. — aponta com a cabeça para o outro lado da rua. Fazemos o trajeto em silêncio e assim permanecemos até sentados.
— Então... — começo, sem conseguir levantar os olhos das minhas mãos. — O que precisamos de falar?
— Desculpa, Zara. — dispara, olhar preso em frente, deixando-me incrivelmente surpresa. Ace Braden sabe pedir desculpas? — Naquela noite tudo o que não devia ter acontecido acabou por acontecer. Nomeadamente eu ter agido como um idiota contigo.
— Hm, sim é verdade. Mas-
— Deixa-me acabar, preciso de dizer tudo antes que me esqueça de alguma parte. — a mão dele inquieta a titubear no volante denuncia o seu nervosismo e parece que a qualquer momento ele pode, sei lá, partir?
— Eu sou assim, e não tenho necessidade. Acredita que não tenho sequer motivos para ser como sou, para tratar as pessoas mal, sobretudo aquelas que gostam de mim. Não é algo que me orgulho, a sério, porque eu tenho uma família carinhosa que me ama e ninguém me partiu o coração. Aquele dia não teve justificação para eu ter sido tão... — ele procura a palavra.
— Rude?
— Sim... E também sobre a festa... acho que estamos quites. — encolhe os ombros. Espero uns segundos para ter a certeza que ele acabou o seu pequeno discurso.
   — Sobre a festa eu peço desculpas. Tu estavas lá todo embrulhado com a Valentina e eu agi por ciúmes... — brinco com uma linha solta no rasgo das minhas calças. — Não há muito que falar sobre o assunto.
   Ambos ficamos em silêncio por uns minutos, a absorver as palavras um do outro. Não sei bem o que Ace pretende com esta conversa. Obviamente não é apenas para ficar em paz consigo mesmo sabendo que eu não o odeio, tem algo mais.
   — Podemos tentar de novo?
   Pela primeira vez desde que entrámos no carro encaro-o. Ele, para minha surpresa, observava-me com um olhar ansioso. Olhá-lo assim faz-me perceber que apesar de tudo ele pode ser uma pessoa frágil por debaixo de toda aquela tinta e pose de durão. Independentemente disso, se tentar de novo for ter que passar pelo mesmo de antes não me parece uma ideia convidativa.
   — Mas desta vez vamos fazer da maneira certa. Agora sim, eu quero que dê certo. — ele suspira. — Sem atitudes de criança, sem os meus ataques de desprezo ou raiva. Prometo.
— E é suposto eu acreditar que desta vez é a sério? — pergunto receosa. — Da última vez também era sem jogos e sem más atitudes e olha no que deu!
A verdade é esta. Por muito que eu sinta pelo Ace ele já me deu esta conversa uma vez e não valeu de nada. Agora, pensando no assunto, não sei se consigo acreditar nesta canção de embalar uma segunda vez.
— Ouve, — vira o corpo no banco e pousa a mão no meu pescoço acariciando a minha bochecha com o polegar. — eu quero conhecer mais de ti, quero que me leves a Chicago, quero levar-te a a Beaufort. Quero partilhar um pouco de mim contigo, e quero saber as coisas mais incríveis que fizeram Zara Pearson a mulher mais bonita e forte que já vi. Não é de hoje que me sinto assim, acredito que me apaixonei assim que entraste no meu quarto na primeira festa, mas nunca tive coragem de admitir nem a mim próprio. — ele faz uma pausa, parecendo ganhar coragem. — Como sabes eu nunca estive numa relação, sempre foi comer uma aqui, comer outra ali, mas nunca, e repito, nunca quis alguém como te quero a ti.
   Encaro-o congelada. Tento abrir a boca para dizer algo mas nada sai. A minha cabeça gira com todo o discurso bonito e apaixonado que acabei de ouvir. Mais uma vez Ace Braden conseguiu surpreender-me. O meu silêncio parece deixar o whiskey nas íris de Ace mais escuro, tempestuoso, e tão rápido como se aproximou também se afastou.
   — Porra, eu sabia que não ia dar. Não tenho jeito para palavras bonitas então vou só levar-te a-
   Interrompo-o puxando o braço dele que estava pronto para rodar a chave do carro na ignição.
   — Cala-te e beija-me.
   Lentamente um sorriso aberto, branco e genuíno surge na boca do rapaz à minha frente.  Aos poucos, aproxima-se de mim até que os nossos lábios se encostem com suavidade. É incrível a maneira que as nossas bocas encaixam e é doce o sabor.

reta final de tatuagens 😭 como nos sentimos?

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