† Prólogo

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Pater noster, qui es in caelis...
Pai nosso, que estais no céu...

Passos ocos e frios ecoavam no chão da igreja. O culto ainda não se iniciara, mas o Padre viu motivo para apresentar seu irmão primeiro à família do seu melhor amigo.

Sanctificétur nomen tuum
Santificado seja o vosso nome

— Bom dia, família Bellard. Como estão? – Atraindo a atenção dos matriarcas e das três crianças menores, Fábio se pronuncia, arrumando sua batina e sorrindo gentilmente para os amigos como sempre. — Esse aqui é meu irmão, Ângelo. Chegou ontem de viagem.

O mesmo apresenta seu irmão para todos, que se apresentam um por um, até a jovem Bellard, que ao cumprimentar, demora mais do que o necessário em aperto de mão.

Fiat voluntas tua,
Seja feita a vossa vontade,

— É um prazer, senhores, e senhoritas. – A voz arrastada, grave e teimosamente sensual de Ângelo soa, causando um breve arrepio quando seu olhar pousa sobre as senhoritas Bellard's, em especial, na filha, Gabriele. Um sorriso breve se apossa do mesmo, e ambos, olham no mesmo instante, como se fugissem da situação, para o Padre Fábio, que conversava sobre assunto quase fúteis com o Padre Joseph, um senhor, com qual dividia a congregação.

Notando os olhares sobre si, Fábio se vira. — Aliás, vocês não me confirmaram se vão à comemoração de domingo hoje na minha casa. Já decidiram? – Ele pergunta, refazendo simpaticamente o convite à família, que fora a única que não deu resposta sobre a ida.

sicut in caelo, et in terra.
Assim na Terra como no Céu

— Iremos sim, na verdade, se puder esperar alguns minutos depois do culto... – O pai fala, atraindo um olhar instigado de Ângelo.

— Porquê? – De maneira quase grosseira Ângelo questiona, ganhando um olhar negativo de Fábio. Olhar esse que ignora.

— Bem, nossa Gabriele sempre se confessa nos finais de cultos... – A mãe explica, como se aquilo tivesse algum sentido. Se tivesse, Ângelo não podia compreender.

Panem nostrum quotidiánum da nobis hódie.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje

— Tudo bem, não seja por isso. Esperamos sim. – Ainda carinhoso, Fábio olha Gabriele, mantendo seu coração calado, enquanto o mesmo implorava por respostas à questão que ele sempre se fazia. — Agora vamos! Breve, breve, A Palavra será iniciada. – Ele finaliza, de forma sutil encerrando o assunto e assim abrr a congregação para mais um culto. Ângelo também se senta no fundo, onde podia observar a todos.

Et dimítte nobis débita nostra, sicut et nos dimíttimus debitóribus nostris.
Perdoai as nossas dívidas, assim como perdoamos os nossos devedores.

Internamente, tanto Ângelo quanto Fábio se perguntavam o que Gabriele poderia confessar. Tão nova, virtuosa,  pura...
E ambos sempre esqueciam de algo quando se faziam tais questões: o pecado é algo pessoal, e sendo assim, só quem o tem, sabe seu peso.

Et ne nos indúcas in tentatiónem;
E não nos deixeis cair em tentação

Os devaneios de Gabriele em nada condiziam com sua criação formal ou seus jeitos doceis. Eram rudes, selvagens, docemente eróticos. E sendo asim, ela nunca os confessava, e mesmo se confessasse, ainda assim seria levada ao inferno.

Sed líbera nos a malo
Mas livrai-nos do mal

E sabem porquê?
Porque é no inferno o lugar de Pecadoras como ela.

Amen.
Amém.

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