Capítulo X

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Nos dias que se seguiram Anahí não voltou a falar e nem apresentou um quadro de melhora, pelo contrário, o fato de não conseguir falar, de abrir a boca e não sair nada, era agonizante. Isso fez com que ela entrasse em um estado depressivo, os olhos sem vidas, a tristeza e a desesperança. Quando alguém entrava no quarto ela não esboçava nenhuma reação, ela simplesmente criou uma bolha para viver com sua dor, lembrar dos últimos dias e do dia em que tudo aconteceu e não poderia falar nada com o marido, não poder dizer a Alfonso tudo que estava sentindo e  que ele deveria tomar cuidado, aquilo era demais para ela.

Alfonso se mantinha ali, sempre ao lado dela, mesmo vendo a esposa se apagar a cada dia. Ele ia a capela e rezava, pedia que Deus a curasse, porque aquela culpa estava o matando, estava o consumindo lentamente. Não poder ouvir a voz dela, ele se lembrava de como era o som do riso dela, das juras de amor dos dois no início do namoro, dos gemidos enquanto faziam amor, deles conversando enquanto jantavam ou assistiam a um filme, como ele sentia falta daquele som, não era justo que a esposa ficasse sem falar. Na frente dela ele era forte, passava força e esperança, mas quando saia daquele quarto, ele desmoronava. Ele já não ia trabalhar  vivia exclusivamente para Anahi.

Ucker: Você precisa comer. Disse ao amigo assim que chegou ao Hospital e encontrou Alfonso na capela.

Alfonso: Não tenho fome.

Ucker: Você precisa estar bem para ajudar a Annie. Você não pode definhar junto com ela.

Alfonso: A culpa é minha, eu deveria estar no lugar dela.

Ucker: Poncho, a culpa não é sua. A culpa é do desgraçado do Carlos. Ele quem mandou fazer isso e o capacho dele que fez isso com ela. A culpa é deles, não sua.

Alfonso: Mas se eu não o tivesse prendido, nada disso estaria acontecendo.

Ucker: Você estava fazendo seu trabalho, e a Annie te admira por isso. Por ver que o marido dela de alguma forma faz justiça. Eu tenho certeza que ela não te culpa pelo que aconteceu.

Alfonso: Eu arrisquei a vida dela. Eu...eu..sou um péssimo marido. Disse deixando as lágrimas escorrerem.

Ucker: Não é. Você fez seu trabalho, o Carlos quem não presta.

Alfonso: Não aguento ver minha mulher sofrendo, Ucker. Isso está me matando aos poucos.

Ucker: Ela é forte, amigo. Vocês vão conseguir superar.

Dulce entrou no quarto de Anahí disposta a falar tudo o que precisava para levantar a amiga. Ela e Maite entraram juntas e como sempre Anahí não esboçou nenhuma reação ao vê-las ali.

Dulce: Annie... Anahí a olhou. - Você precisa lutar, nós estamos aqui vamos te ajudar a superar isso, mas você precisa querer também. Anahí a encarou. - Eu sei que estava difícil, que deve ser horrível o que está passando, mas você não pode entregar os pontos desse jeito. Seus pais já estão vindo para cá, seu marido não come e não dorme há dias preocupado com você, ele se sente culpado. Anahí arregalou os olhos não tinha ideia de que Alfonso sentia culpa. - Pois é, ele diz que a culpa é dele por ter prendido o Carlos, não pôs os pés na delegacia até hoje. Você precisa ficar bem, reagir ao tratamento para poder dizer a ele tudo o que tem vontade, dizer que o ama, dizer não foi culpa dele. Se você continuar assim vai levar o seu marido junto, é isso que quer? Ver o Alfonso infeliz? Anahí negou com lágrimas nos olhos - Eu sei que é difícil, não conseguimos imaginar o que está sentindo, mas nada na vida é fácil. Eu perdi os meus pais faz pouco tempo, depois descobri que meu marido não pode ter filhos, a Mai perdeu um filho e um marido no mesmo dia, mas estamos aqui, estamos de pé. Então lute, amiga. Lute por você, por seu amrido, pela família que quer construir com ele. Anahí assentiu. Dulce e Maite a abraçaram percebendo que as palavras de Dulce trouxeram resultados.

Quando Alfonso entrou no quarto viu a esposa sorrir de leve, ele estranhou há dias ela sempre estava tão triste. Ela o chamou e ele se sentou ao lado dela na cama, ela procurou o peito dele e era o contato mais íntimo depois de dias. Ele afagou os cabelos dela sentindo o coração acelerar ao estar assim com ela. Até que viu que ela segurava uma coisa, era um caderninho e tinha uma caneta.

Alfonso: O que é isso?

“ Preciso me comunicar enquanto não recupero minha voz”. Ele a encarou sem saber o que dizer e ela escreveu: “ A culpa não é sua!”.

Alfonso: Annie, quem te contou? Ficou tenso.

“ Não importa”

Alfonso: Claro que importa!

“ A culpa não é sua, amor. Nunca foi, você fez seu trabalho e desde o início sabíamos que era perigoso, eu fiquei orgulhosa, porque o meu marido prendeu um dos maiores bandido do país”.

Alfonso: Annie...

“ Em nenhum momento eu o culpei, eu fiquei triste, eu fiquei com medo, mas eu percebi que ainda estou viva, que ainda estou aqui com você que podemos ser felizes que podemos ter a nossa família, isso me faz querer lutar, me faz querer enfrentar o que vier”.

Alfonso: Eu te amo, e estou orgulhoso de você, do quanto você é forte, de como luta sempre.

“ Também te amo, muito”.

Ele a segurou pelo rosto e a beijou, um beijo afoito e com urgência, matando a saudade que seus corpos sentiam um do outro. Ele se afastou bruscamente a deixando confusa

Alfonso: Os pontos. A lembrou, ficou com medo de machucá-la.

“ Não doeu"

Ele voltou a beijá-la só que agora mais calmo, mais brando, como se quisesse guardar e gravar cada pedaço. As línguas se encontraram em um ritmo calmo e saudoso. Eles se permitiram sentir, claro que aquele beijo os levavam a querer mais, muito mais que aquilo, muito mais que a suadade os permitia sentir. Ela interrompeu o beijo e foi a vez dele ficar confuso.

“ Faz amor comigo!” Ele leu e ficou surpreso.

Alfonso: Aqui? Alguém pode nos ver e....

“ Eu preciso de você, eu preciso sentir que algumas coisas ainda estão iguais e que não vão mudar, eu preciso de você. Inteiro!”.

Alfonso: Ô meu amor, eu sou seu, sempre fui, isso nunca vai mudar, não importa o que aconteça, nada vai mudar o que sentimos um pelo outro, eu te amo. Eu também preciso de você, preciso sentir que você é minha, que está tudo bem entre a gente que nada mudou. Ele jogou o caderno que ela segurava no chão e passou a ficar por cima dela, devorando os lábios dela como queria, como precisava.

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