Gayla não foi ir dormir assim que a festa acabou, apenas atravessou o salão e pediu para conversar com o rei. Nunca antes a moça tinha feito aquilo, muito menos daquela forma quase desrespeitosa, mas estava assustada e queria respostas rápidas e claras. Vincent não negou o pedido, parecia mais distante e abatido que o normal, Akanta e Caleb saíram da cabine, para então Aires, que segurou o braço dela por meio segundo a olhando com muito medo.
- Desculpa por isso, mas... - ela começou a disse e a sentar do lado dele - Por que?
- Pequena, sabe como funciona os arranjos de casamento aqui... - ele suspirou - Pensei em seguir a forma que Zaark faz, mas nenhum homem iria aceitar que a mulher desse palpite no acordo ou aprovasse a união. Por outro lado, acho que Darlan por ser seu amigo pode trazer mais flexibilidade aos costumes conjugais.
- Não foi isso que eu perguntei... - ela disse desolada.
- Gayla, em breve você terá dezoito anos, pedidos de casamentos inesperados iriam aparecer na minha mesa e, talvez, muitos deles não fossem agradáveis. - ele suspirou - Não quero ser obrigado a casar você com um homem bem mais velho, muito menos um que eu sei que não cuidará bem de você.
- Mas Darlan?
- Darlan e eu tivemos uma longa conversa, se ele ousar atrair a união todos os benefícios serão cortados imediatamente e você retornará a ficar sobre minha custódia ou de Aires, caso já tenha partido. - o homem suspirou - Eu sei que não é o seu desejo, pequena, mas... estou tentando te proteger e criar um futuro feliz.
Gayla não conseguia contrargumentar diante daquilo, mesmo que não concordasse. Era claro na voz do homem a sua boa intenção. Dando boa noite ela saiu do local e caminhou para o seu quarto de cabeça baixa, se pegou limpando algumas lágrimas e até evitando caminhos que normalmente estavam cheios. O que ela poderia fazer para reverter a situação?
Enfim no quarto fechou a porta e encostou sua testa na madeira. Estava claro que o seu caso não tinha esperança.
- Gayla? - um voz masculina chamou atrás dela, após um pequeno susto se virou e viu Aires forçando um sorriso com o tio do lado - Está tudo bem?
- Acho que sim... - ela disse se aproximando e aceitando o abraço - Espero que sim.
- Eu não sabia o que meu filho planejava... - Jhon disse a abraçando também - Estou tão surpreso quanto você. Quer dizer, eu nem sabia que ele queria casar.
- O que meu pai disse? - Aires falou a soltando o suficiente para olhá-la nos olhos.
- Que foi um bom acordo e um casamento é um destino inevitável para mim. - ela disse distante, suspirou e olhou para o príncipe - Eu sei que ele está certo, mas não precisava ser tão cedo!
- Irei conversar com ele! - Aires disse decidido, mas Gayla negou com a cabeça.
- Ele já se decidiu. - sentou na cama e tentou sorrir - Mas tudo bem. Como ele mesmo disse é Darlan, não vai ser tão ruim assim.
Os dois homens trocaram olhares, claramente desconfortáveis com aquele assunto, precisavam resolver isso, mas não tinham ideia de como fazer. Aires suspirou, estava morrendo de ciúmes do primo, queria gritar para o mundo que aquilo era injusto, só que não tinha o menor direito de fazer isso, para Gayla a situação tinha sido mais cruel.
- Bem, mas vamos falar de coisas mais tranquilas... - Jhon disse sentando ao lado da menina e tirando de debaixo da cama o machado que havia comprado - Faz treze anos que você chegou!
Os olhos da menina brilharam diante do presente e um sorriso sincero subiu aos lábios. Todos os anos Aires e Jhon lembravam da data, contudo todos os anos ela ficava surpresa por eles lembrarem. Abraçou o senhor segurando as lágrimas, depois olhou para o trabalho tão bem feito daquele ferreiro de Zaark.
- E eu? - Aires disse pegando o escudo escondido também - Quero abraço!
A menina riu e o abraçou com força, pegou o escudo e o machado e sorriu vitoriosa. Por ainda está pintada e com o vestido ela parecia tanto com uma nobre bárbara que chegou a doer no peito de Jhon. Ela merecia mais do que um casamento arranjado
Após alguns agradecimentos da menina ele disse que estava com muito sono e pediu licença, caminhou pelos corredores refletindo o que falaria. Parou apenas na frente da porta do quarto do filho, bateu duas vezes bem forte.
- Pai? - Darlan disse abrindo a porta, estava descabelado e sem a camisa - O que foi?
- Deixa eu entrar. - o rapaz ficou tenso, mas não resistiu quando o pai invadiu o quarto para ver uma das criadas na cama - Senhorita, pode dar licença para que eu e meu filho troquemos uma ideia.
A moça vermelha como um pimentão apenas ajeitou a roupa e começou a sair pela porta correndo. Darlan também teve a sensatez de sentir vergonha.
- Pai, isso é a penas uma despedida, depois disso eu vou exclusivo de Gayla.
O duque apenas cruzou os braços, não acreditando em nenhuma palavra.
- Eu sei que não faço nada para ter sua confiança, mas isso faz parte do acordo com o rei. - ele disse quase derrotado.
- O que você conseguiu disso tudo?
- A mão de Gayla. - ele disse engolindo seco.
- Não tenta fingir para mim! - Jhon disse bravo - Você tem o mesmo sangue que o resto da família! Darlan, o que você teve em troca?
- O rei garantiu que eu seria a mão do rei, assim como meus filhos, netos e bisnetos. - ele disse engolindo seco - Além de algumas terras ao sul que não estão sendo aproveitadas devidamente.
- E o que mais?
- Depois da guerra eu terei a capital de Zaark. - ele apertou os lábios até ficarem brancos.
Jhon respirou fundo e concordou, era um acordo excelente e seu filho não tinha perdido nada no processo, apenas Gayla que perdeu tudo.
- Você vai até o rei e dirá que não pode se casar com a menina.
- Perdão, meu pai? - Darlan disse bravo - Ouviu o que eu ganho?
- Sim, mas não concordo com o que você fez! - ele olhou para o estado do filho e negou com clara desaprovação - Sem contar com o fato de você não está nenhum pouco preparado para sossegar!
- Essa seria a última vez, mas se desejar nem ela ocorrerá! - ele disse se aproximando do nobre - Pai, isso garantiria uma boa vida aos seus netos! Um nome para nós!
- Eu não irei discutir Darlan.
O duque deu as costas e começou a caminhar lentamente até a porta. Darlan torceu a boca e ficou refletindo durante alguns segundos, não precisou tomar muita coragem ao disser:
- Desculpa, mas não irei obedecê-lo.
O duque parou na porta e se virou para olhar o rapaz, os punhos dele estavam fechados e seu rosto era uma máscara de ódio.
- Apesar de não concordar com muita coisa que você me fez fazer nessa vida eu lhe obedecia, mas isso... - ele negou com a cabeça - Não vou jogar essa oportunidade fora por sua causa!
Jhon suspirou, teria que conversar com o próprio rei para parar essa loucura. Sem mais nada a dizer um pai via o filho sendo consumindo pela ganância.
Em Zaark a noite de festa terminava com os soldados de Catalan mandando todos voltarem para suas casas. Tradicionalmente aquela comemoração ia até o amanhecer, os camponeses mais corajosos se escondiam na floresta.
Ali, no meio do mato, Kay observava as estrelas se perguntando se a prima também estava olhando para elas.
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Princesa de Zaark [Concluída]
FantasyUma contadora de histórias não tem paz, para onde vou encontro com pessoas famintas por novas narrativas de amor, poder e vingança, sempre querendo mais e mais. O que as pessoas normalmente não sabem é que todas as histórias existentes, sejam lenda...