Capítulo 30

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Depois de um farto jantar com a mesa cheia de pessoas, Asterin foi levada para um quarto simples com uma única cama e uma janela com cortinas verdes escuras. Deixou sua bolsa em um canto qualquer e recebeu de Nora uma bacia para se limpar, a moça disse que assim que terminasse era só jogar a água pela janela, pois tinha um canteiro de flores ali de baixo.

Finalmente sozinha em muito tempo, Asterin tirou a roupa e com uma caneca tentou limpar sua sujeira de estrada do corpo e do rosto, tinha recebido um produto para passar no cabelo e com muito dificuldade lavou o cabelo. Pronta e fresca ela suspirou feliz, vestiu roupas novas e jogou a água em flores de lis vermelhas, percebendo, pela primeira vez em muito tempo, que estava em contato com uma flor que não fosse os cravos de Catalan.

Olhou para o horizonte e foi agraciada pela visão do mar revolto e seus barulhos batendo nas pedras, assim como o céu, lotado de estrelas com a constelação do vaga-lume pouco a pouco chegar em seu ápice.

O que ela iria fazer? Seus olhos se encheram de lágrimas. Tudo o que ela queira era a resposta para aquilo, como toda aquela bagunça poderia ser arrumada sem que ninguém se ferisse, inclusive ela. Fechou a janela com raiva.

Deitou na cama e pensou que talvez fosse melhor se esconder para sempre no mato com Marlon, mas seus pais apareceram na mente, impedindo que aquela decisão fosse levada a diante. Então, ela pegaria aquele peso nas costas, depois do aniversário viraria rainha, um nó formou em sua garganta quando se via assumindo seu lugar contra Aires, Akanta e Vincent, ainda não conseguia desvincular a imagem deles a sua família. Girou na cama, não importava para que lado ela tentasse tomar em sua mente, tudo parecia dar em paredes, as quais ela seria obrigada a derrubar.

Uma lembrança atravessou em sua mente, ela deveria ter uns doze anos, corria com Aires e Darlan pelos corredores por alguma de suas travessuras. Ela tinha reparado que o castelo estava bem mais movimentado do que o normal, aparentemente, Catalan estava para receber visitas e enquanto passavam pelos corredores a menina acha que viu quem era esse visitante, o homem usava roupas estranhas, eram de algum país do sul.

Enquanto ela tentava compreender como um homem estava usando saias, ela bateu de frente a uma das nobres de Catalan que caiu no chão bagunçando seus cachos castanhos claros. Aquela mulher gritou com ela, chamou atenção de todos que estavam por perto, inclusive do visitante. Quando a bronca terminou, a menina de cabeça baixa saiu correndo dali, fugindo até os jardins, se escondeu sob um arbusto, sujando sua bata e calças, encolhida e chorando muito.

Depois de quinze minutos ela começou a ouvir o rei a chamando e sem demora ele a achou escondida. Sem hesitar ele ajoelhou no chão, sujando suas roupas mais formais e a convenceu da sair dali ao abraça-la e a acalmando, mesmo com um visitante importante ali, Vincent tinha ficado o dia todo com ela, arrumou doces na cozinha e concordou de brincar com ela com as espadas de madeira. Descobriu depois que quem recebeu uma longa bronca tinha sido a nobre e, assim, ela fora obrigada a pedir desculpas.

Sentia saudades deles.

Virou para o outro lado e abraçou o travesseiro frio, mas... não era o suficiente, tentou abrir a janela e fazer o som do mar a acalentar e ainda assim seus pensamentos não deixam em paz. Tirou as cobertas, sentiu frio, as colocou e sentiu sufocada, virou para o outro lado e enterrou o rosto frustrado no travesseiro. Sentou na cama bufando, aquilo já estava ficando ridículo.

Uma ideia passou por sua cabeça e ela saiu da cama, sentindo o frio da madeira em seus dedos, abriu a porta e foi para a sala em silêncio. Viu no sofá Marlon, não só ocupando tudo, mas estando apertado em um lugar tão pequeno, ele respirava tranquilamente. Indo para perto dele tocou em seu ombro com delicadeza.

- Marlon, está acordado? - ela sussurrou.

- Não. - ele respondeu resmungando

- Eu não consigo dormir.

Princesa de Zaark [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora