Capítulo 5: Seguindo em frente

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Ainda era manhã de sábado quando o caixão com o corpo do Fê foi sepultado. Me despedi da sua família e segui para a saída do Cemitério da saudade, onde meus pais já me esperavam. Estava cansado e com muito sono, afinal de contas pouco tinha dormido de quinta para a sexta e de sexta para sábado havia passado havia passado a noite no velório.

 Entrei no carro e fiquei calado o caminho todo até a minha casa, chegando lá tomei um banho para relaxar e me deitei na minha cama, logo minha mãe entrou trazendo um chá e umas bolachas, antes de sair ela beija a minha testa, e fala que tudo ia ficar bem. Deitei na minha cama e pouco tempo depois estava dormindo, mal sabia o que os sonhos me trariam.

Estou em uma área de laser, tem muitas crianças aqui, acho que elas devem ter uns 4 ou 5 anos pelo tamanho, essa farda me lembro um pouco dela, parece com a da escolinha que eu ia quando era criança. Calma, esse emblema eu conheço, sim claro! É a escolinha Ayrton Senna, foi aqui que fiz minha educação inicial, também foi aqui que eu conheci o Felipe, faz anos que não volto nesse lugar, nem lembrava que existia. 

Nesse momento alguma coisa chama minha atenção e vejo dois garotos brincando no escorregador, um branquinho do cabelo castanho e olhos castanhos e outro moreno claro, com calos e olhos negros. Penso comigo caramba, se eu não estivesse vendo tudo isso, poderia dizer que esse sou eu e o Fê brincando. Nesse momento sinto um toque no meu ombro, ao olhar para trás vejo um rosto que fazia parte do meu dia a dia.

Era Fêlipe, aquele garoto de cabelos e olhos castanhos, um sorriso gigante e um jeito de falar e andar inconfundíveis. Olho para aquela pessoa do meu lado e começo a me tremer. Como assim o meu amigo estava do meu lado, me lembro de ter enterrado ele agora a pouco. Será que tudo aquilo era um sonho e no fim ele está vivo. Nesse momento como se pudesse ter ouvido tudo o que eu pensei o Felipe começa a falar.

Felipe- Fala, Matheus! Que saudades de tu rapaz, sei que tudo isso é confuso para você,  também é confuso para mim. Está vendo aquelas crianças? Você estava certo, elas são a gente de anos trás, legal né cara. Se não me engano foi nesse dia que começamos a ser amigos. Foi nesse dia que eu caí do balanço quebrando o braço, e lembro que dali em diante você nunca mais saiu de casa Matheus. Nem sei como a minha mãe aquentou a gente ao longo desses anos todos, ela deve ser uma santa.

Fico olhando para o Felipe desconfiado, como assim se essas crianças somos nós, então como estamos vendo elas? No entanto meu amigo continua falando.

Felipe- Cara, eu sei que é estranho e eu adoraria falar que isso é real e que tudo que você passou nesses últimos dias foi um sonho. Mas a verdade é que agora você está sonhando. E eu não estarei mais presente em sua vida. Sei que é estranho já que você perdeu seu amigo mais bonito, o melhor jogador do time, o cara que te chamava para os roles e dava show com as gatinhas, acho que nesse ponto é até bom. Agora sem o bonitão aqui, você deve ter mais chance com as mulheres, seu tampinha. 

Foi estranho ouvir aquilo, se ele estava morto o porque ele estava no meu sonho, e porque estávamos na escola, tinha tanta lembrança para ele me mostrar porque logo a escola. Nesse momento vejo o pequeno Felipe caindo do balanço apoiando com a mãozinha a queda. E vejo que o menino que deveria ser eu correndo ao encontro dele e chamando as tias que estavam olhando as crianças.

 Acho engraçado que enquanto as responsáveis entram com Felipe dentro da escola para leva-lo a enfermaria eu acompanho elas correndo e fazendo uma cara de desesperado.

Está vendo Matheus, você sempre cuidou de mim parceiro, desde aquele dia você sempre esteve do meu lado, me ajudou em tudo, claro que eu também fui um ótimo amigo. Mas você sempre foi e será meu melhor amigo. (Felipe me diz essas coisas sorrindo).

Fico parado olhando ele tentando entender alguma coisa, até que pergunto. Felipe, se você realmente morreu e isso é um sonho porquê você está falando comigo e porque estamos aqui?

Calma Matheus, não tenho a resposta para todas as suas perguntas, só quero te pedir para que cuide da minha mãe e meu pai e principalmente do Gustavo, ele vai sentir muito a minha falta. Tomás já é um adulto, não mora mais em casa, só está passando as férias aqui, mas o Gú esse menino vai precisar da sua ajuda, seja para ele um bom amigo como sempre foi para mim.

Após essas palavras sinto uma forte pressão como se algo me arremessasse e acordo em minha cama. Já estava começando a anoitecer, então eu devo ter dormido o dia todo. Também com o cansaço que eu estava era esperado.

Os dias foram passando sem grandes novidades, logo era a segunda semana de dezembro e eu estava de férias. De fato, nem podia chamar de férias afinal eu tinha terminado o ensino médio. Por esses dias já seria a missa de um mês da morte de Felipe, como o tempo passa rápido. Me lembrei desses lances de missa, pois cabo de receber o convite para a cerimônia. Dona Lúcia havia mandado o convite no meu Messenger, penso comigo que não vejo a menor lógica nisso tudo, afinal missa todo mês até parece essas mães que comemoram o mesversário do recém-nascido, penso comigo.

 Mas, acho que dessa vez eu irei, já não fui na de sétimo dia, minha mãe e meu pai foram, e disseram que todos perguntaram por mim, afinal eu era o melhor amigo do Felipe. Sinceramente é um saco essas crendices dos outros, acho que já é chato para pessoas de religiões diferentes, agora imagina para um ateu.

A missa foi em uma sexta feira dia 13 de dezembro. Fui junto com meus pais, enquanto eles estavam falando de como deveria estar sendo difícil para os familiares do Felipe, eu só desejava que aquela cerimonia acabasse logo. A missa ocorreu na capela do bairro dos Eucaliptos, a igreja estava cheia, de fato não me surpreendeu, Felipe sempre foi muito querido. Vi muita gente conhecida, alguns me chamaram para me sentar com eles, mas preferi ficar com os meus pais nos últimos bancos, pensei comigo, acho que assim vai ser mais fácil de fugir.

Confesso não ter prestado a atenção em nenhuma palavra do que foi dito naquela missa, pensei em muitas coisas enquanto não acabava. Quando acabou, já ia me dirigindo para o carro, quando a minha mãe me segura e diz que temos que falar com a família, embora eu não estivesse nem um pouco afim, aceitei acho que realmente deve ser o certo a ser feito.

Abracei todos, dona Lucia, Sr António, Tomás e Gustavo, não sabia o que falar então apenas dei um abraço em cada um dizendo que sentia muita falta do Fê. Dona Lucia disse que a saudades apertava a cada dia, que a casa estava vazia e que nunca mais tinha conseguido entrar no quarto do seu filho, eu apenas concordava com a cabeça, realmente deve ser horrível perder um filho, eu perdi meu melhor amigo e estava sofrendo, imagina ela o filho.

Antes de sair o Gustavo me chama,  pedindo para eu aparecer na casa deles, que estava com saudades e queria conversar sobre o irmão. Achei estranho, afinal nunca fui amigo do Gustavo, mas como a dona Lúcia confirmou as palavras de Gustavo, respondi que iria passar na casa deles por aqueles dias. Embora na minha cabeça  eu dissesse que  não gostaria nada de ir até lá.

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