Capítulo 16- Lagrimas

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Narrado por Gustavo

Desligo o telefone e sinto que tudo que Matheus falou era verdade, a única coisa que ele não entendeu é que eu não quis usar o meu irmão, apenas fui sincero. Uma perda já tinha sido dolorosa, só que ela não teria como reverter. Agora essa distância com Matheus eu faria o máximo para acabar com ela.

Pego meu celular e vejo que tem uma mensagem de Matheus pedido para eu parar de incomoda-lo, penso em responder, acabou desistindo, ele precisa de um tempo. Eu preciso de um tempo essa é a verdade, nos últimos meses meus sentimentos têm sido muito intensos. Sei que já sou um homem, mas também me sinto uma criança em alguns momentos. Meus pais ainda estão tão distantes, saudades de ganhar abraços e carinhos. Hoje em dia parece que só ganho informações, como se tudo fosse programado, posso estar exagerando, o que é bem a minha cara devo admitir. No entanto, sinto como se todos naquela casa fossem robôs.

Olho algumas fotos no celular, alguns momentos com meus amigos de escola, nossa última viagem ao Hopi Hari no dia das bruxas do ano anterior. Lembro que em uma dessas fotos estou abraçado com Felipe e um monstro. Queria ele aqui agora me protegendo do monstro que estou me tornando.

Não sei se com vocês é assim, mas eu quando estou triste, me jogo mais para baixo ainda, procuro músicas ou filmes melancólicos para assistir. E assim eu faço, começo assistir o filme do menino do pijama listrado. Não é novidade para mim, já tinha assistido ele uma vez, só que não tinha sentido seu drama como estou sentindo nesse momento.

Como alguém pode ser tão ruim? Como o mundo permitiu que tudo aquilo tenha acontecido de verdade, é sério sempre que pendo na segunda guerra mundial eu fico assim. Acho que se não fosse uma história real, ninguém conseguiria escrever algo tão nojento. Minha angustia e aquela história triste se completam, fecho meus olhos por um segundo e sinto como se meu corpo pesasse algumas toneladas, como se até respirar fosse algo difícil, por fim me rendo ao choro, sinto minhas lagrimas rolarem.

Geralmente quando choro acredito que minhas lágrimas aliviam minha dor, dessa vez parece que elas não possuem esse poder, por que tudo que eu sinto é dor e mais dor. Sei que minha briga com Matheus, não é a responsável nem por 20 por cento de toda aquela dor, a verdade é que estive sendo forte por tempo demais.

 Não eu ainda não sou um homem, eu sou um garotinho que precisa de carinho esse é o real motivo da minha dor. Talvez eu não queira crescer, ou ainda não esteja preparado para isso, nem sei se um dia eu vou estar, realmente nem sei se quero estar.

Ainda com minha voz embargada pelo choro grito por mim mãe, que logo sobe junto ao meu pai. Ao me verem naquela situação me abraçam e ficamos assim por um tempo. Só ouço nossos soluços e suspiros alongados, em alguns momentos minha mãe fala. Vai ficar tudo bem!! Nós te amamos e também sentimos a falta dele!

Aos poucos nosso chorou foi diminuindo até que estávamos recompostos, minha mãe sai do quarto falando que iria preparar uma sopa para mim e logo voltaria, concordo com um sorriso. Nem gosto de sopa, mas essa foi um dos raros momentos em que tive meus pais para mim desde o ocorrido.

Me levanto, tomo um banho refrescante, daqueles que encostamos na parede e sentimos a água cair em nossos corpos, levando cada emoção que nos incomoda. Volto para o quarto e me deito.

Sempre comigoOnde histórias criam vida. Descubra agora