Oito - Jaebum quer sentir alguma coisa

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UM DIA ATRÁS

Jackson encarou as roupas quentinhas que foram deixadas em sua cama com curiosidade. Jaebum tinha sugerido um banho e ele não pensou duas vezes antes de aceitar. Wang ajeitou a toalha amarrada no quadril antes de começar a andar até a cama, não deu dois passos e a porta do quarto de hóspedes foi aberta.

Jaebum tinha dois travesseiros e uma roupa de cama nova nas mãos, além de cobertores que manteriam seu mordomo aquecido devidamente durante a noite. Interrompeu os passos quando viu Jackson parado e seminu.

Os dois se calaram, mas os olhos do coreano passearam pelo abdômen do esgrimista. Havia uma gotícula aqui e ali da água do chuveiro que a toalha fofinha deixou passar, estas escorriam pelos quatro gominhos malhados que Jackson tem; não eram extremamente definidos, mas sim no ponto certo. Em um ponto bonito e muito, muito atraente.

― Talvez eu precise de um copo de água. ― Jackson comentou, rindo pelo nariz e pegando as roupas da cama.

― O quê? ― JB franziu o cenho, saindo do transe. O chinês o olhou, raspando a ponta da língua na parte interior da bochecha com um meio sorriso.

― Depois dessa secada, acho melhor eu me hidratar.

― Você está fora de forma.

― Você olha assim pra mim e depois me diz que estou fora de forma?

Jaebum assentiu com a cabeça, sem saber o que dizer. Sentiu vontade de rir de constrangimento, mas se limitou a um sorrisinho envergonhado antes de pressionar os lábios. Ele arrumou a cama de Jackson quando o viu voltar ao banheiro para se trocar.

― Não era eu quem deveria estar fazendo isso? ― Jackson falou quando já estava devidamente vestido. Andou alguns passos até se por ao lado do cantor, assistindo-o trocar os lençóis por aqueles que foram recentemente lavados.

― Por que? ― Jaebum endireitou a coluna, antes estava curvado encaixando as pontas corretamente da roupa de cama.

― Bom, quem é o mordomo aqui sou eu. ― Wang deu de ombros, as mãos nos bolsos frontais da calça de moletom. ― Certo, hyung?

O chinês passou a ponta dos dedos esquerdos pelo colchão, vendo o quão macio aquilo deveria ser. JB encarou os dedos do rapaz e ignorou o tom de voz baixo e os pensamentos impuros que invadiram sua mente.

Não podia nem sequer cogitar a hipótese de achar Jackson algo além de bonito. Era o noivo do seu melhor amigo, não era certo que aquela semente de desejo começasse a crescer tão lentamente dentro de si.

― Você não é mais meu mordomo depois... ― Jaebum começou, a concentração se perdendo conforme Jackson se aproximava em passos lentos como um felino, por mais que tivesse uma expressão despreocupada no rosto, havia alguma coisa brilhando nos olhos do chinês que JB não conseguia decifrar.

― Depois do quê? ― Wang perguntou quando estavam há um palmo de distância, agora com apenas uma mão escondida no bolso.

― Depois das seis. ― O coreano disse com pressa, sem fôlego. Se sentia sufocado por mais que houvesse espaço para se mover, não conseguia. Jackson não havia feito nada, mas JB sentia seu corpo começar a aquecer naturalmente, uma ansiedade imensa crescendo para tocar qualquer parte que fosse do chinês.

JB só queria sentir alguma coisa, e a vontade só aumentou quando viu o sorriso ladino do esgrimista.

― Boa noite, Jaebum. ― Jackson disse, quebrando o silêncio tenso que surgiu entre os dois e JB aproveitou a deixa para sair do cômodo, murmurando um boa noite embolado.

Fechou a porta e se trancou dentro do próprio quarto, escorou-se na porta e respirou fundo algumas vezes. Sentia as mãos suarem e um sentimento de culpa invadia seu consciente. Mas, por que? Não havia feito nada de errado, nem sequer tocou em Jackson. As conversas deles dois nunca faziam muito sentido, entretanto, JB conseguia sentir os flertes sutis que eles soltavam e isso o incomodava.

Por Deus, primeiro ele xingava até os ancestrais de Jinyoung por se permitir se apaixonar por um cara daquele e, agora, ele sentia vontade em tocar naquele que queria esganar semanas atrás.

No dia seguinte, Jackson acordou com a casa vazia. Na cozinha havia um bilhete de Jaebum com uma caligrafia bonitinha, mas escrita às pressas: "Tenho uma reunião essa manhã, então precisei sair cedo. Não sei o que atletas comem de manhã, mas tem arroz fresco no balcão, ovos e peixe grelhado. Tem legumes e vegetais na geladeira, coma o que quiser. Ou não coma, eu não me importo. Tenha um bom dia, vejo você e Jinyoung mais tarde. Jaebeom. PS: se comer meus morangos, eu te mato."

Jackson riu pelo nariz e olhou para o balcão, vendo a quantidade de comida que havia ali, por mais que JB dissesse com todas as letras que não se importava, ele havia feito comida para exatamente duas pessoas, e isso fez Wang rir da contrariedade. Abriu a gaveta e retirou dois palitinhos dali, fez uma prece rápida antes de colocar as tigelas na mesa de jantar e comer com calma, queria repor as energias devidamente antes de se encontrar com Jinyoung novamente.

DIA ATUAL

Após Jaebum deixar o restaurante, Jackson engoliu em seco e suspirou antes de pegar as mãos do noivo com ambas as suas, encarou os olhos redondinhos de Jinyoung e sentiu o coração derreter e se apertar ao mesmo tempo. Não aguentava mais mentir, mas não podia dizer. Não agora.

― Jiny... ― Começou, segurando a vontade imensa de fazer manha, sabia que as coisas nunca eram fáceis com o coreano e por isso se manteve firme. ― Isso não faz diferença alguma.

― Como não faz? ― Jinyoung rebateu rapidamente, deixando o chinês um pouco assustado. ― Jackson, assim como eu, você está fora todos os dias para trabalhar. Sei que você treina esgrima com Jooheon um dia, e no outro você trabalha, faz isso todos os dias ao decorrer da semana.

― E o que mais você precisa saber além disso? ― Eles soltaram as mãos, o contador completamente contrariado a tudo que o noivo dizia.

― Eu quero saber o que meu noivo faz da vida.

― Eu trabalho para alguém. ― Jackson disse e cerrou o maxilar, se negando a falar mais do que isso. Jinyoung pendeu a cabeça para o lado, cerrando os olhos. Estava desconfiado, e Wang odiava quando isso acontecia. ― Faço alguns serviços para essa pessoa.

― Que tipo de serviço? ― Ele esperou. Sem resposta. O absurdo já tomou conta de sua mente. ― Jackson não me diga que você apelou para isso.

― Misericórdia, Jinyoung. ― Revirou os olhos e cruzou os braços. ― É claro que eu não estou me prostituindo, acha que eu perdi o juízo?

― Você não me conta, é claro que eu vou pensar o pior! ― Jinyoung riu da cara de ofendido que o chinês lhe deu em resposta.

― Serviços domésticos. ― Murmurou, num tom quase inaudível. Park congelou, não sabia medir o tamanho do ódio e da mágoa que ele sentiu ao ouvir aquelas palavras pronunciadas num coreano com um sotaque sutil por não ser o primeiro idioma do esgrimista. ― Eu sabia que você ia fazer essa cara, foi por isso que eu não te contei.

― Que cara eu deveria fazer? Você virou empregado, Jackson. Acha mesmo que estamos tão na merda assim? Você é um esgrimista famoso, pelo amor de Deus. Não pensou nisso?

― Mas é claro que pensei nisso, Jinyoung. ― Ele bufou. Discussões o deixavam cansado. ― Eu trabalho pra alguém de confiança, não se preocupe.

― Pra quem?

― Jinyoung...

― Pra quem? ― O coreano repetiu e Jackson não respondeu. Ele balançou a cabeça, vendo a atitude do noivo e se recostou na cadeira. ― Tudo bem. Na hora que você decidir me contar, você volta para a nossa casa, não estou com pressa.

Jackson estalou a língua conforme Jinyoung levantava para ir embora.

― Jiny, não faz isso... ― Ele disse, com manha e foi ignorado. ― Por favor, fala comigo.

― Eu vou falar, é só você não mentir pra mim, Jackson. 

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