Onze - Carência

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Jackson se alongou pela terceira vez depois de ter sentido uma câimbra forte na perna. Era sempre assim, o chinês ficava extremamente empolgado para praticar esgrima que pulava até os exercícios mais importantes do aquecimento. Jooheon riu alto quando viu Wang se contorcer de dor, xingando em cantonês. 

Todos os treinos acontecia isso, ou algo do tipo.

Certa vez Jackson deu um mal jeito no ombro e, por consequência, teve que terminar o treino mais cedo; Jinyoung deu um sermão de quase quarenta minutos no noivo, alegando que Wang era pior que uma criança na educação física.

Enquanto esticava a perna direita, segurando os dedos do pé para que esta continuasse reta, o campeonato cruzou sua mente. Por mais que o treinador de sua equipe elogiava o desempenho de Jackson mais do que criticava ― afinal, ele era um esgrimista olímpico ― ele não podia negar o tamanho de seu receio. Só de lembrar que teria que lidar com Son Shownu caso passasse para as competições individuais, logo, teria que utilizar o florete como arma, ele estremecia de medo. O coreano era ágil, com movimentos certeiros e raramente previsíveis.

Modéstia a parte, mas era um dos únicos de equipes opostas que poderia facilmente deixar Jackson no chinelo. Além de Jooheon, é claro, por mais que fôssem grandes amigos, existia uma competitividade absurda e implícita entre os dois.

E eles adoravam.

A pressão era extremamente alta, porque além da grana ferrada que o vencedor ganhará, sua equipe realmente precisa daquela vitória para ganhar mais reconhecimento.

Jooheon jogou uma garrafa de água na direção do chinês que a agarrou no ar com maestria.

― Pronto?

― Acho que sim. ― Jackson sorriu e se levantou. 

Jooheon passou a mão pelos cabelos ruivos e, enquanto assistia o amigo beber a água gelada, lembrou de contar o ocorrido na noite anterior.

― Ele me ligou ontem. ― Disse, a voz baixa para que não ecoasse pelo ginásio todo. Os atletas estavam ocupados demais treinando em duplas.

― Ele? ― Jackson franziu o cenho, fechando a garrafa e deixando-o num canto do chão.

― Minhyuk.

― Ah. Ele. ― Wang deu um sorriso de sarcasmo, o nome do ex-namorado do amigo o fazia sentir vontade de vomitar.

Jooheon suspirou, analisando a ponta do sabre com os dedos enluvados. Não queria olhar para o amigo chinês quando terminasse de contar a história.

― Ele me disse que eu entendi as coisas errado...

― Certo, então ele não estava com a boca no pau do Changkyun. Deve ter sido o ângulo que você viu então.

― Jackson...

― Ou então aquele não era o pau do Changkyun! ― Wang atuou, fingindo uma grande descoberta. ― Talvez era uma baguete com forma cilíndrica e com leite condensado escorrendo.

― Caralho, que horror. ― Jooheon fez uma careta e encarou o esgrimista. ― Você é nojento, cara.

― E você é burro. Vai me dizer que não ficou pensando na possibilidade de você ter entendido errado.

― Eu aceitei tomar um café com ele hoje.

― Pelo amor de Deus...

Jinyoung se sentia perdido na própria casa. Entre o casal, ele era o que mais ficava longe da residência devido aos horários rígidos que precisava cumprir no escritório. A janta estava sempre pronta e quentinha quando chegava em casa, e tinha direito a beijos e abraços de boas vindas do noivo chinês. 

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