Quando a porta de entrada foi aberta, Jackson enxergou um Jooheon com um olhar confuso. Os olhos já pequenos estavam praticamente fechados e ele tinha um biquinho nos lábios, mostrando o nível de sonolência que tinha atingido. O chinês ergueu as sobrancelhas antes de abrir passagem e entrar na casa do amigo. Retirou os sapatos antes de subir o pequeno degrau único para a sala de estar.
― São nove da manhã, caralho. ― Jooheon xingou se jogando de bruços no sofá. Wang deu risada pelo palavrão, por mais que fossem amigos há anos devido à esgrima, ele ainda ria da quantidade de palavras sujas que o coreano falava.
― Eu sei. ― Disse, se sentando. ― Você não teria um quarto sobrando, né?
Jooheon fez uma careta pensativa, erguendo a cabeça.
― Tenho um colchão. ― Deu de ombros. ― Serve?
― Dá pro gasto. É melhor do que ser expulso. ― Ele sorriu quando ouviu a risada do amigo.
― Por que o Jinyoung te expulsou de casa? Terminaram essa porra de noivado?
Jackson encarou a expressão de nada que o ruivo descabelado lhe fez e esticou uma das pernas, chutando o ombro do coreano.
― O quê?! ― Lee exclamou, alisando o local atingido.
― Não consegue nem fingir que essa notícia te abala um pouquinho só, Honey? ― Wang retrucou, gesticulando com o dedo indicador. Jooheon estalou a língua e se levantou indo em direção a cozinha. ― Nós não terminamos, ele me expulsou porque eu não contei sobre o Jaebum.
Jooheon se curvou, olhando dentro da geladeira e procurando uma garrafa de vidro. Soltou um murmúrio em concordância com o que ouvira Jackson dizer, mas até agora não havia se chocado com a notícia. Ele sabia que uma hora isso aconteceria, só foi mais cedo que o esperado.
― Quer uma cerveja? ― Jooheon perguntou, agarrando duas garrafinhas longneck e voltando para a sala.
― São nove da manhã. ― Wang riu. A risada alta e verdadeira.
― É, mas você foi expulso de casa e vai ter que dormir em um colchão velho que eu tenho.
O chinês pensou por uns segundos antes de agarrar a bebida alcoólica da mão do melhor amigo.
― Me dá isso aqui. ― Resmungou. ― Só uma, depois nós vamos treinar.
Jooheon bebeu um pouco e correu as mãos pelos fios embaraçados. Suspirou pesadamente de maneira teatral e arrancou um rolar de olhos do chinês. Apoiou os antebraços nas coxas firmes para ouvir melhor a fofoca.
― E como estão as coisas com o Jaebum?
Jackson deu de ombros.
― Nada mudou.
― Nada? ― Ele suspirou quando ouviu o chinês concordar com um murmúrio. ― Nem uma tensão sexual de leve?
O esgrimista ergueu as sobrancelhas, apoiou os cotovelos nos braços da poltrona e encarou o amigo beber um pouco mais de cerveja para esconder um sorriso.
― Você tem falado com o Bambam, não é?
― As vezes. ― Ele riu da cara de deboche e ciúme que Jackson fez. ― Não rolou nem um beijinho?
― Eu respeito o Jinyoung. ― Wang respondeu como se fosse a coisa mais óbvia do mundo e Jooheon abriu um sorriso, dando um gritinho ao perceber o que o amigo disse.
― Ah, é? Então, se não tivesse Jinyoung, você o beijaria?
― Até parece. ― resmungou, balançando a cabeça. ― Agora vai pegar o seu traje, vamos treinar essa porra de esgrima.
Naquele dia, Jaebum chegou mais cedo do que o usual. As reuniões estavam ficando mais curtas e em breve ele começaria a gravar no estúdio, no caminho dentro do táxi, escreveu em um bloquinho amarelo ― que sempre carregava na bolsa lateral ― alguns versos soltos. Palavras que havia escutado na rua que tinham um fonema poético e atraente, rasurou frases sem o menor sentido que, em sua cabeça, eram menos toscas antes de passar para o papel.
Resmungou baixinho, irritado com tudo o que escrevia. Cada letra, palavra e verso eram, juntos, patéticos. Ao mesmo tempo que sentia a mente em constante movimento, trabalhando e buscando memórias inspiradoras; fossem fotos, lugares, objetos, pessoas. Nada de interessante cruzava sua mente, se sentia completamente vazio enquanto encarava a neve do lado de fora do táxi cair lentamente. O céu estava em um bonito azul e lilás, mas a temperatura, de alguma forma, continuava baixa.
Pagou o motorista quando o mesmo estacionou em frente sua grande casa e lhe desejou um bom trabalho. Checou as horas e a data do dia no celular. Três da tarde, quarta-feira. Por algum motivo, saber que Jackson estaria dentro de sua casa o fez se sentir mais relaxado, só não soube o porquê daquele sentimento e entrou em sua casa, ignorando sua mente confusa e agitada. Precisava descansar.
― Bem-vindo de volta, hyung. ― Jackson se curvou educadamente quando viu o cantor adentrar a casa. Ele era extremamente profissional quando estava em horário de serviço e isso assustava JB, mas estava começando a se acostumar aos poucos.
Jaebum sorriu para a cena antes de retirar seus sapatos.
― Não sei se vou me adaptar a isso tão cedo.
― Deseja que eu o chame de outro modo, hyung? ― Wang deu um sorriso ladino e esperançoso. O coreano se aproximou para ajeitar-lhe a gravata como de costume. Dessa vez, mesmo que não percebesse, eles haviam ficado um pouco mais próximos. JB encarava o acessório torto no pescoço do chinês enquanto fazia uma careta pensativa, um biquinho pequeno nos lábios.
― Hmm... Não tenho nenhum outro nome em mente no momento. ― Murmurou, os olhos se encontraram na mesma altura. Os dedos de do cantor permaneceram segurando as pontas da gravata borboleta mesmo que ela já estivesse perfeitamente ajeitada.
― Tem um bem bonito que eu tenho certeza que você conhece.
― Ah, sério? ― Ele se interessou. ― E qual seria?
Jackson inclinou a cabeça para o lado, achando graça do coreano não saber a resposta.
― O seu nome, talvez, Jaebum? ― Wang ironizou, fazendo JB sorrir largamente.
― Está dizendo que meu nome é bem bonito, Jackson?
― É uma das coisas que dá pra salvar em você.
― Uma das? E o que mais dá pra salvar em mim? ― Jaebum se interessou,
Jackson riu pelo nariz, se afastando e indo em direção à sala para voltar ao trabalho. JB o seguiu, ansioso para a resposta do mordomo. Apoiou as mãos no encosto do sofá e esperou.
― O que mais? ― Repetiu. Jack o olhou por cima do ombro, um sorriso travesso enfeitando seus lábios naturalmente rosados.
― Quem sabe eu te conte na sexta. Mas saiba que o seu sorriso é... Intrigante.
― ... Intrigante? Isso é elogio que se faça? ― Jaebum bufou, estava desapontado e Jackson gargalhou pela reação.
― Eu sinto alguma coisa quando você sorri. ― Falou, pegando uma almofada e a encarando com um sorriso sincero. ― Não sei o quê, mas é intrigante.
JB fez uma nota mental, se imaginou escrevendo no seu bloquinho amarelo com aquele cotoco de lápis que ele tinha guardado dentro do bolso. Anotou aquela palavra ao lado dos rabiscos dos versos, perto de onde havia escrito "confusão" e não tão longe de onde "pensamentos" estava. Ali no meio "intrigante" se destacava com êxito, Jaebum se viu circular a palavra três vezes em uma linha contínua e, finalmente, se sentiu inspirado.
Jackson, com um elogio esquisito, criara uma melodia inteira para o novo álbum do coreano.
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New Perspective
RandomJACKBEOM / +18 / FLEX Por mais que tentasse esconder e ignorar os pensamentos irritantes e repetitivos que percorriam sua mente, Jaebum, no fundo, sabia que aquela não era uma boa ideia. Quando aceitou que, Jackson Wang, o homem que mais odiava no m...