Dois - Pontos em Comum.

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No terceiro dia em que Jinyoung o convocou, Jaebum quase pensou em meditar antes de sair de casa, para ver se arranjava um pouco de paciência do fundo de seu âmbito.

Cogitou também a ideia de fingir que estava passando mal, mas quando o barulho da buzina ecoou do lado de fora, ele saberia que Jinyoung o arrancaria pelos cabelos se ele não se apressasse, então saiu logo de casa, trancando a porta logo após.

Além de estar sendo um saco, Jaebum não tinha feito nenhum progresso de fato, já que Jackson não compareceu em nenhum dos encontros para os planejamentos, Jinyoung dizia que ele estava muito ocupado com os treinos, pois o campeonato de esgrima estava chegando, por mais que o chinês não estivesse tão animado com a ideia, o prêmio em dinheiro ajudaria muito o casal.

Jinyoung não contou essa parte para JB, porque sabia que o rapaz não ia pensar duas vezes antes de lhe dar algum dinheiro. Dar, não emprestar; Jaebum não gostava de falar o quanto ganhava com a carreira, mas era grana até demais, e, sinceramente, ele não tinha com o quê gastar aquilo tudo. Dar dinheiro aos amigos não tinha nada a ver com esbanjar ganância e luxo, ele só gostava de ajudar em tudo que era dentro de seu alcance.

O noivo tagarelava dentro da loja, gesticulando com ambas as mãos e dizendo o quanto era importante à parte da seleção da louça. Os olhos já pequenos de Jaebum, estavam ainda menores por conta do sono.

― Eu preciso pensar em o quê vamos servir no casamento, ― Jinyoung comentou, parando na frente de uma estante cheia de pratos decorados com fundos brancos ― o branco vai ser predominante, pelo menos disso eu tenho certeza.

― Por Deus, Jinyoung. ― Jaebum reclamou, olhando envolta. A loja era imensa, não conseguia nem ver onde estava a porta por onde entraram. ― Você pretende ficar olhando pratos por quanto tempo?

Jinyoung deu de ombros, sorrindo diante do mau-humor do amigo.

Pegou dois pratos delicados nas mãos, encantado com os arabescos coloridos em um e da sequência de violetas em outro.

― Estou muito atrasado?

O noivo olhou para trás, agora estava ainda mais radiante. Jaebum quase bufou quando ouviu a voz animada de Jackson e o estalo do selinho que os dois deram ao se cumprimentar. O Wang dizia coisas no ouvido do coreano que o faziam rir; JB odiou ser deixado de lado, mas fingiu indiferença, finalmente conseguiu pensar que olhar para aquele monte de pratos não era tão doloroso assim.

― E você está fazendo o quê aqui, exatamente? ― Jackson perguntou ao rapaz um mês mais velho. Jaebum o olhou de baixo, por mais que fossem da mesma altura.

― Jinyoung me chamou. ― Respondeu voltando o olhar para a estante. Até a respiração do chinês fazia seu sangue ferver.

― Tenho certeza de que você não é mais útil agora. ― Falou, suspirando e enlaçando o pescoço do noivo. ― Podemos decidir sozinhos, não podemos, gatinho?

― Jaebum-hyung é nossa dama de honra, anjo.

Os apelidos eram ridículos e o cantor precisou pressionar os lábios para que não gargalhasse de maneira debochada na frente do casal. Não sabia se ia aguentar por muito tempo ficar perto daqueles dois, se Jackson não agisse como um completo retardado, as coisas seriam mais fáceis. Nunca se incomodou de sair com algum outro casal de amigos, porque ambos sempre o trataram bem.
Mas para tudo tem uma primeira vez.

― De qualquer forma, ― o Park se desfez do abraço e se colocou na frente dos dois depois de segurar um prato com decorações laranja ― eu estava pensando em fazer a combinação de branco com essa cor.

― Odeio laranja. ― O chinês e o coreano responderam em uníssono.

Jinyoung ergueu as sobrancelhas e viu o noivo e o amigo se entreolharem com desgosto. Ambos vestiam preto dos pés a cabeça e Jackson tinha um boné virado para trás escondendo seu lindo cabelo castanho.

Apesar de toda essa briguinha entre os dois, Jinyoung não conseguia não reparar no quanto eles eram parecidos, não na aparência física em si, mas na necessidade em mostrar que eram inabaláveis como uma árvore. Alguns poderiam achar até atraente, já Jinyoung falaria nitidamente o quanto aquilo era irritante.

― Viram? Vocês já têm alguma coisa em comum!

Jackson ergueu uma sobrancelha.

― E daí? Você quer que a gente se junte para conversar sobre o quanto a cor laranja é horrorosa? ― Jaebum disse, sarcástico.

Jinyoung revirou os olhos e começou a andar pela loja de braços cruzados, seguido por dois homens logo atrás.

― Não, mas vocês poderiam conversar sobre essa mania esquisita de comer ouvindo música, por exemplo.

O tom de voz dele era despreocupado, por mais que soubesse o que estava fazendo. Jinyoung temia que aquela rivalidade tosca nunca tivesse fim e, se o comportamento de Jackson influenciasse tanto a decisão de Jaebum sobre ir ou não ao casamento, ao ponto de ele se recusar comparecer, Park não saberia como reagir. Com quem gritaria primeiro? Com o noivo ― ou marido, ― ou com o melhor amigo?

O coreano e o chinês pararam de andar, subitamente. Não era possível, aquilo era uma coincidência muito anormal. Jaebum sempre manteve em silêncio o quanto gostava de ouvir música quando se sentava para comer, o único que sabia disso, na verdade, era Jinyoung. Porque sempre que eles saíam para almoçar ou jantar, JB levava os fones de ouvido.
Jackson, por outro lado, não fazia questão de esconder. Deixava muito claro o quanto apreciava o silêncio durante as refeições, assim poderia ouvir sua música sem interrupções. Fora esse um dos pontos que fez o casal se aproximar, já que, por estar acostumado com essa mania de Jaebum, Jinyoung não costuma falar muito enquanto come.

― Ou até mesmo falar sobre o medo de baratas. ― Ele espiou por cima do ombro e viu o rosto dos dois adquirirem uma feição irritada.

― Não tenho medo de baratas! ― Jackson rebateu depois de falar um "Ya!" em tom alto.

― Aquilo era um grilo. ― Jaebum retrucou, a voz tão alta quanto o chinês.

Jinyoung deu um risinho e se voltou para frente. Tão parecidos.

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