Treze - Pó descolorante e tinta azul.

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Jackson acordou assustado quando ouviu um barulho alto vindo do andar debaixo e levantou da cama no segundo som estrondoso. Não estava raciocinando direito por conta do sono interrompido, mas logo supôs que a casa de Jaebum estava sendo invadida.

E que o ladrão era muito burro.

Pegou sua bolsa lateral que sempre trazia quando ia trabalhar de mordomo e de lá tirou seu sabre de esgrima. Jackson tinha vários, se não fosse um esgrimista com certeza seria um colecionador, porque amava o design minimalista daquela arma.

Checou se a ponta estava boa o suficiente e a cutucou com a ponta do polegar, vendo uma bolinha de sangue ser formada logo após.

Alisou esse dedo com o polegar conforme caminhava silenciosamente para fora do quarto de hóspedes vestindo um conjunto de moletom vinho de JB. Desceu as escadas com pés descalços e silenciosos, sentindo a temperatura morna e gelada do piso de madeira. Conforme passava pelos degraus, ouviu murmúrios sem entender exatamente o coreano das palavras, só conseguiu identificar alguns palavrões e risadas baixinhas.

Jaebum estava ali, com a mesma roupa de quando saiu de casa. Era ele quem estava rindo, xingando e, aparentemente, derrubando tudo da casa. O cabideiro que sempre ficava ao lado da porta de entrada estava agora no chão, além dos casacos e cachecóis e chapéus que estavam pendurados neste. Jackson inclinou a cabeça diante a cena, colocando a mão livre no quadril; JB tinha a intenção de colocar tudo de volta no lugar, mas acabou se distraindo e agora estava passando o terceiro cachecol pelo pescoço e com dois bonés e uma touca na cabeça.

― Que porra você está fazendo? ― Jackson falou alto, assustando o coreano que se desequilibrou (por mais que já estivesse sentado como um indígena) e gargalhou pela ação.

― O quê? Eu não entendo quando você fala em mandarim.

O atleta percebeu que seu cérebro ainda estava funcionando em chinês e fez uma careta de constrangimento.

― Era cantonês. ― Resmungou, apoiou o sabre no pé da escada e ajudou o coreano a se levantar; ergueu o cabideiro de volta ao seu lugar correto e colocou as peças de vestuário de volta, incluindo aquelas no corpo de um Jaebum embriagado. ― O que é isso? ― Perguntou, puxando a sacola plástica da mão do cantor antes mesmo que ele tivesse alguma reação.

― Ei, devolve!

Jackson puxou as caixinhas de papelão de dentro do plástico e leu os nomes dos produtos, sua expressão se tornou confusa e ele encarou o coreano em sua frente.

― Pó descolorante? Tinta azul? Está pensando em pintar o cabelo sozinho?

JB deu de ombros, sorrindo.

― Alguns fãs me deram a ideia. Achei que talvez fosse ficar bom.

― E eu suponho que você também comprou uma tinta preta caso isso fique horrivel. ― O chinês comentou, lendo as outras caixinhas que estavam dentro da sacola.

― Claro que sim, é a embalagem amarela.

― Isso? ― Ele pegou o objeto quadrado para confirmar e JB acenou com a cabeça. Jackson riu pelo nariz. ― Isso aqui não é tinta, é uma caixa com trinta preservativos, Jaebum.

O coreano piscou algumas vezes, surpreso com a sua verdadeira compra. Jackson suspirou.

― Não estou surpreso, você está bêbado pra cacete. ― Disse, rindo. JB se limitou a sorrir, porque nada estava funcionando direito na mente não sóbria do rapaz. ― Me espera no banheiro, eu vou procurar algum tipo de pincel e potinho pra misturar essas coisas.

― Tuuudo bem. ― Jaebum cantarolou, dançando enquanto andava até o banheiro da suíte. Seus olhos passaram pelo sabre apoiado no pé da escada, quando se virou para trás, Jackson já havia sumido em busca dos objetos citados. ― Essa espada é sua?

― O sabre? Sim, é meu. ― Jackson respondeu, de longe. Jaebum fez um biquinho pensativo, cutucando a arma de esgrima.

― O que ia fazer com ela? Me atacar?

― Eu pensei que fosse um ladrão muito burro que tivesse invadido.

Jackson separou a quinta mecha de cabelo do coreano que, a cada dois minutos, dava longos goles na garrafa de água que o mordomo o fizera beber. Ele poderia ser engraçadinho quando bêbado, mas, querendo ou não, era o trabalho de Wang cuidar do cantor, e ele não queria que Jaebum acordasse com uma ressaca miserável no dia seguinte.

― E você foi beber com quem, mesmo? ― Jackson perguntou, fingindo pouca curiosidade enquanto aplicava o produto azulado e um tanto pastoso nos fios escuros. Não sabia o que estava fazendo ao certo, mas esperava que desse certo no final.

Jaebum deixou o líquido parado dentro da boca e congelou por alguns segundos, agora seu nível de sobriedade estava quase em cem por cento novamente, e ele passou a lembrar o que havia feito.

― Meu Jesus.

― Hm? ― Wang murmurou, sem entender. ― Conheceu um cara chamado Jesus é bebeu com ele? Isso não seria pecado?

― Não, Jackson. ― Jaebum revirou os olhos. ― Eu saí com dois amigos e acabei falando mais do que devia. Merda...

O chinês congelou assim como o cantor, olhando para JB pelo espelho, as mãos paradas na mesma mecha de cabelo. Jaebum viu seu peito subir e descer, numa tentativa falha de se manter calmo.

― Eles me perguntaram o porquê de não bebermos aqui em casa como sempre.

― E você não disse que seu mordomo era muito tímido, sei lá?

― Disse!

― Então tudo bem. ― Jackson voltou a respirar. Jaebum pressionou um lábio contra o outro e ficou em silêncio. Wang estreitou os olhos e largou o pincel na pia, voltando a encarar o cantor pelo reflexo do espelho com ambas as mãos nos quadris. ― Você não disse que o seu mordomo tímido sou eu, certo, Jaebum?

― Eu...

― Puta merda. ― Ele passou as mãos pelo rosto, nervoso. ― Jaebum, caralho!

― Eu estava bêbado, tá legal? Não fiz de propósito, você sabe.

Jackson suspirou e os dois ficaram em silêncio por um tempo, esperando que o chinês se acalmasse enquanto ele continuava a passar o descolorante no cantor.

― Eles nem conhecem você, Jackson. ― Jaebum resmungou, fazendo Wang dar um sorrisinho por mais que tentasse não fazer.

― Ah, é? ― Perguntou sem tirar os olhos do que estava fazendo. ― Como eles se chamam?

― Youngjae e Mark. ― O mais velho suspirou, encarando o próprio reflexo. ― Youngjae é meu ex-namorado, namoramos por uns dois anos e terminamos ano retrasado. É um sexólogo.

― E você descobriu a profissão dele antes ou depois de conhecerem? ― Wang provocou com um sorriso travesso. Jaebum lhe mostrou o dedo do meio pelo espelho e o chinês gargalhou em resposta. ― E o Mark?

― Conheci por causa do Jinyoung.

O pincel caiu da mão de Jackson.

― Mark... Tuan? O americano?

― Você o conhece? ― Jaebum inclinou a cabeça e ouviu o esgrimista respirar fundo antes de dar uma risada claramente nervosa.

― Eu o conheço muito bem, JB. É meu ex.

Antes que o coreano pudesse responder ou ter sequer uma reação, o toque de notificação do celular de Wang atraiu a atenção dos dois rapazes e Jackson fez um sinal para que Jaebum esperasse um segundo antes de continuarem a conversa.

"Vamos nos encontrar amanhã." A mensagem de Jinyoung dizia.

Jackson fechou com os olhos e soltou um grunhido de frustração, a cabeça virada para cima.

― Inferno!

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