1. A Vida em Amador Bueno

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Mais uma tarde ensolarada na pequena cidade do interior de São Paulo, um céu completamente azul revelava um dia de sol bem quente, porém já era quase uma da tarde e nada dos gêmeos chegarem da aula, Cristina começava a ficar preocupada, o horário normal deles chegarem era sempre em torno do meio-dia, porém, quando era o Júnior que "os buscava" na escola na hora da saída sempre demoravam chegar. A casa ficava estranhamente silenciosa sem a presença de suas adoráveis "crias" como ela dizia.


Cristina havia criado os dois praticamente sozinha embora houvesse milhões de ofertas e pedidos de seu pai e de seu irmão pra trabalhar no mercado, não conseguia se sentir à vontade ali, era um ambiente meio hostil à sua timidez, preferia fazer qualquer coisa que a mantivesse longe dali, também não gostava muito de cortar cabelos, mas era o que a ajudava a criar seus pequenos. Queria mesmo lecionar, amava ver pessoas aprendendo a ler ou escrever pela primeira vez mas essa gravidez precoce, a fizera adiar seus planos meio que "temporariamente. "


- Mãe, mãe, manhê, entra André largando a bolsa no chão e se escondendo atrás da mãe, ela quer me pegar.


- Mas o que foi desta vez?


- Ele achou uma nota de vinte reais e em vez de dividir comigo gastou tudo sozinho mãe.


- Que história é essa André?


- Eu achei perto do portão da escola, mas não tenho obrigação de dividir tudo com ela.


- Mas eu dividi com você quando o tio Júnior me deu dinheiro aquele dia.


- Problema seu, eu não mandei você dividir nada.


- André, deixa de ser mal-educado, você tinha de ter um pouquinho de consciência não acha?


- Se ela gosta de ficar dividindo tudo problema dela ora essa.


- SEU INGRATO, MAL-EDUCADO.


- Olha o que você fez.


- E daí?


- E daí? Vai agora pedir desculpas dela.


- Eu não vou nada...


- André você a fez chorar, vai pedir desculpas da sua irmã agora.


- Mas mãe, ela...


- Eu disse agora.


Na verdade, ele nem chegou a entrar no quarto, ao abrir a porta encontrou sua irmã deitada na cama de casal na qual dormiam os três, agarrada no travesseiro chorando e resmungando sozinha:


"Tenho certeza de que se ao menos meu pai estivesse aqui, isso não tinha acontecido. Grosso, mal-educado. "


- Mãe...


- Falou com ela?


- Não, ela...


- Então volte lá.


- Mas mãe, escuta. Ela está falando sozinha daquele negócio de novo.


- Que negocio?


- Do... pai...


De um salto ela levanta do sofá e voa como um raio para dentro do quarto:


- Isabella, do que é que você está falando?


- Nada.


- Como assim nada, seu irmão ouviu você falar outra vez do seu pai.


- Eu não falei nada.


- Eu já te disse um milhão de vezes, seu pai está morto, morto entendeu, e mesmo que estivesse vivo, duvido que ao menos ele teria vindo perguntar se vocês precisavam de alguma coisa, eu criei vocês dois praticamente sozinha. Ele era grosso e estúpido.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora