11. A Última Jornada

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Sentou-se numa parada de ônibus, o dia começava a amanhecer, seu coração ainda estava despedaçado de tristeza e solidão, abriu sua mochila e comeu o que restava do lanche que sua amiga lhe dera, duas maçãs. 

Ainda sentia fome, mas agora provavelmente teria mais sorte, eram quase seis da manhã e o dia estava amanhecendo, ao longe já podia ver a luz do sol que se aproximava, suas roupas estavam húmidas da chuva, pegou seu diário e registrou sua noite de terror.

Provavelmente aquele tenha sido o maior período que Isabela escreveu, geralmente era trinta ou quarenta minutos, no entanto, dessa vez ela só guardou seu diário, uma hora e meia depois. Talvez a falta de alguém com quem conversar tenha feito com que ela descarregasse no diário tudo o que estava sentindo e que gostaria muito de desabafar com alguém.

Sete e meia da manhã, Isabela sentia-se bem melhor, decidiu iniciar a etapa final de sua jornada, achar o endereço de Fernando Marcatto, seu pai, levantou-se do banco do ponto de ônibus ao mesmo tempo que um carro preto de vidros brilhantes entrava numa garagem azul e branca bem atrás do ponto de ônibus onde ela tinha sentado para descansar, ajeitou o boné rosa na cabeça, sua mochila nas costas e foi-se embora, deixando atrás de si, bem no alto, uma enorme placa que Isabela não se importou em ler: MARCATTO ENGENHARIA E ARQUITETURA.

Logo a frente encontrou uma senhora lavando a calçada, pouco antes que Isabela a alcançasse ela entrou pra dentro de seu portão aberto pra pegar qualquer coisa no quintal e deixou a mangueira ligada derramando água no chão, ao passar pela mangueira, Isabela a pegou do chão, prendeu entre os joelhos e aparou a água com as duas mãos em forma de concha, lavou o rosto umas três vezes com força, quando a mulher chegou, parou ao lado sem nada dizer, Isabela terminou e devolveu a mangueira pra mulher, esta não sorriu e também não fez cara de mal humorada, apenas pegou a mangueira e continuou fazendo seu serviço sem se importar totalmente com a presença de Isabela. Ela até agradeceu, mas a mulher não respondeu. Isabela deu três passou deixando a mulher para trás e de repente virou-se para ela:

- A senhora podia me dar uma informação?

- Se eu souber...

Isabela então tirou sua mochila das costas, abriu o zíper, enxugou a mão rapidamente na calça e tirou seu diário, procurou a página certa e mostrou a mulher:

- A senhora sabe onde fica esse endereço?

A mulher leu em silêncio e depois respondeu:

- Nossa Senhora de Fátima? Nunca fui lá, mas sei que é bem longe daqui.

- Muito longe?

- Ah, é longe sim, - devolveu o diário à Isabela já fechado. - mas você pode pegar um ônibus logo aqui em baixo, tem um que vai pra lá.

- Sem querer me aproveitar de sua bondade, a senhora poderia me emprestar o dinheiro da passagem?

- Desculpe garota, mas não posso não, aliás nem precisa, garotas da sua idade não pagam passagem.

- Mas eu não sou tão pequena assim. Tenho doze anos.

- Mesmo assim, já vi garotas do seu tamanho entrarem pela porta de trás e o motorista não falar nada, faz o que estou falando, entre pela porta trazeira e você nem paga passagem.

- Sim senhora, obrigado de qualquer forma.

A mulher novamente não respondeu nada, virou-se de costas e voltou pra dentro de seu quintal, dessa vez com a mangueira na mão deixando Isabela sozinha na calçada.

A notícia parecia boa demais pra ser verdade, alcançou o ponto de ônibus mais próximo e esperou alguns minutos.

Haviam outras pessoas aguardando o ônibus, assim que chegou um ônibus qualquer e parou pra que as pessoas entrassem e outras descessem, Isabela ficou olhando, havia um garoto pouco menor do que ela, tão logo o ônibus parou e as pessoas pararam de descer este entrou rápido pela porta trazeira e tal qual a mulher lhe dissera, o motorista fechou a porta e alguns segundos depois foi embora.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora