8. A Fuga

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No  dia seguinte, Isabela acordou de madrugada com Drica chacoalhando ela e chamando baixinho: 

– Isa, acorda, a gente tem que conversar, acorda! 

– Que foi? O que aconteceu? Já é de manhã? 

– Não, ainda é de noite, acho que é uma meia noite, não sei. 

– Por que você tá me acordando agora então, o que aconteceu? 

– Você dormiu rápido, eu fiquei acordada sem sono e ouvi meus pais assistindo TV na sala, depois eles vieram deitar e eu fui lá na porta do quarto deles, ouvir o que eles 'tavam conversando. 

– E você ouviu eles falarem algo interessante? – perguntou Isabela já se sentando na cama, agora mais desperta e interessada no assunto. 

– No começo não, mas eu 'tava quase vindo deitar quando eu ouvi minha mãe perguntando se meu pai tinha falado com o Flavinho. 

– Quem é Flavinho? 

– É o amigo do meu pai que é advogado. 

– E o que ele respondeu? 

– Disse que conseguiu falar com ele, contou pra ele de você, falou até que 'tava achando que você fugiu de casa e que 'tava com medo de ficar muito tempo com você aqui por que podia se complicar com a lei. 

– Sim e daí? 

Drica deitou-se na mesma cama que a amiga pra conversarem melhor, com a luz apagada, e dividindo a mesma coberta as duas planejavam: 

– Daí que ele falou que eles podem se complicar sim, a justiça pode achar que foi meu pai que te sequestrou. 

– Mas não foi nada disso! 

– Eu sei que não foi, escuta que eu ainda não acabei. 

– Fala. 

– Minha mãe mandou ele convidar o Flavinho pra almoçar com a gente no domingo próximo. 

– Mas hoje já é quinta-feira, tá muito em cima! 

– Calma, meu pai 'tava falando pra minha mãe que ele só vem pra te conhecer, dependendo de como for ele volte aqui na segunda ou na terça pra te levar. 

– Mas eu não quero nem conhecer ele. 

– Eu também não quero que ele te conheça, você vai ter que sair no sábado então, mas sábado já é amanhã! 

– Hoje é quinta, amanhã é sexta-feira! 

– Que seja, tá muito em cima do mesmo jeito. 

– Tá mesmo, mas não se preocupe, vai dar tudo certo. 

– Ai minha nossa, o que eu faço? – virou-se de barriga pra cima na cama com as duas mãos apoiadas no travesseiro. 

– Vamos pensar em algo, não se preocupe, eu vou ajudar você a planejar, vamos dormir amanhã a gente pensa numa solução! 

No dia seguinte, à mesa do café da manhã, o diálogo entre a família foi algo mais ou menos previsível: 

– Amor, por onde anda aquele seu amigo que estudava direito? 

– Já se formou, 'tá trabalhando num escritório de advocacia lá perto do galpão – era assim que os funcionários da transportadora de biscoitos se referiam ao seu trabalho – de vez em quando eu vejo ele lá pelas bandas.  

– Você bem que poderia convidá-lo pra almoçar conosco um dia desses. 

– Até que não seria má ideia, há muito tempo a gente não senta junto pra bater papo, que tal se eu trouxesse ele pra almoçar conosco no domingo? 

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora