Ela acordou de repente, assustada, sem saber ao certo onde estava, era dia ainda e o caminhão continuava em movimento. O barulho do motor agora estava mais baixo de maneira que agora já podia ouvir alguma coisa do diálogo na cabine:
– E você acha que ela vai dar atenção pra um zé mané como você?
– Ah vai sim, a Júlia é diferente, mano, ela não é como aquelas meninas da venda não.
– Tô te avisando, esse tipo de mulher acha que os homens são descartáveis, elas te usam e depois te jogam fora, não dão atenção pra qualquer um não, rapaz, e quando dão é pra te usar, to te falando, segue meu conselho, sai fora dessa.
– Que horas são? – perguntou a primeira voz após alguns minutos de silêncio.
– Falta quinze pras cinco.
– Acha que a gente chega antes de escurecer?
– Chega sim, falta só vinte quilômetros.
Olhou no relógio e conferiu, realmente, estava bem tarde e pelo que ouviu as vozes comentando faltavam poucos quilômetros pra chegarem a algum lugar, e não tinha parado pra pensar em como desceria dali, sua sorte é que devido a grande quantidade de caixas, não a encontrariam logo que abrissem as portas, o que lhe daria uns minutos a mais de vantagem, o resto era torcer pra que não houvessem muitas pessoas na saída e talvez ela pudesse sair correndo.
Abriu novamente uma das caixas e voltou a comer biscoitos, esses eram diferentes dos primeiros, eram doces e recheados, embora fossem de sabor muito melhor que os primeiros mesmo assim ela preocupou-se pois isso lhe daria sede e ainda não tinha nem ideia de quando poderia beber água novamente.
Um tempo depois, ainda comia seus biscoitos quando sentiu que o caminhão mudou de movimento, o ronco do motor aumentou e sentiu que agora subiam uma ladeira bem inclinada, logo após mais algumas curvas pra direita e pra esquerda, diminuíram a velocidade drasticamente até pararem por completo, o ronco do motor quase silenciou, ouviu vozes lá fora como de quem pedia permissão pra entrar, então era isso, chegaram.
O caminhão voltou a andar, agora bem devagar, dobrou mais umas duas ou três vezes pra esquerda e pra direita até que parasse por completo e desligassem o motor, enquanto o coração de Isabela quase lhe saía pela boca.
– E aí, dá tempo de descarregarmos hoje ainda?
– Não já vai escurecer, além do que são poucas caixas, deixe tudo aí mesmo, a gente descarrega amanhã cedo.
Depois disso o silêncio absoluto seguiu sem mais interferências.
Estava sozinha novamente, teria de sair pela mesma janela por onde entrou ou passaria a noite ali trancada. Seu relógio marcava seis e dez da tarde, em menos de meia hora começaria a escurecer, precisava agir rápido, abriu as mesmas caixas de onde tirou os biscoitos, e encheu sua mochila com vários deles, tanto doces quanto salgados, não tinha nem ideia de quando iria precisar deles de novo, por isso preferiu prevenir-se.
Arrastou algumas caixas e subiu nelas pra alcançar a pequena janela por onde ela tinha entrado, conseguiu se esticar e com um pouco de dificuldade já estava do lado de fora do caminhão. Estava num grande galpão com vários caminhões iguais ao que ela tinha vindo, todo parados um ao lado do outro, o galpão estava meio escuro devido ao horário, mas conseguiu encontrar a saída ao longe, porem passar por ela não seria fácil, havia varias pessoas na saída, teria de se esconder e esperar que saíssem, o problema era que não tinha tempo disponível.
Parada atrás de uma pilha de caixas num corredor escuro, Isabela refletia no que fazer, quando uma voz grave lhe surpreendeu por trás, quase matando-a de susto:
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ISABELA
AdventureUma garota de 12 anos q foge de casa a procura de seu pai, até aí a história não teria nada de especial, o problema é que Isabela não sabe nada dele, nome, endereço, profissão, absolutamente nada, mas mesmo assim ela atravessa o país sozinha sem ter...