17. O Retorno

106 22 214
                                    

A viagem de volta pra Amador Bueno, fora marcada pra aquela noite, o que significava que não teriam a tarde toda, apenas algumas horas.

Isabela nunca tinha viajado de avião, de maneira que no saguão de espera, enchia o pai de perguntas:

- O senhor prometeu me deixar sentar na janela, lembra?

- Lembro sim, mas não creio que você vá querer ficar olhando pela janela o tempo todo.

- Por que, acha que eu tenho medo?

- Não, eu já vi que você é bem corajosa, só que não vai adiantar ficar olhando pela janela, primeiro por que está escuro e você não vai ver nada e mesmo que estivesse claro, você não ia ver nada do mesmo jeito, só nuvens, esqueceu que avião não é como ônibus?

- Ah, eu tinha esquecido, pode ir o senhor na janela então.

Fernando não conseguiu esconder o riso ante a decepção de Isabela: - Não fique assim, minha querida, serão poucas horas, além do que você vai dormir.

- Acha que eu durmo fácil assim?

- Viagem de avião é meio entediante, não se tem muito o que fazer.

- Mas pelo menos passa rápido, né?

- Passa sim, bem rápido.

- E sempre tem turbulência?

- Como sabe o que é isso?

- Vi na televisão.

- Quase nunca tem turbulência, só se o tempo estiver meio ruim, mas nessa época do ano sempre tem tempo bom.

- Como agora?

- Sim, como agora.

Após a decolagem Isabela estava elétrica, era a primeira vez que viajava de avião na vida e junto com seu pai tornava a viajem ainda mais empolgante. Abriu a janela do avião e tal qual seu pai lhe dissera não se podia ver nada, apenas uma escuridão tão densa que dava até pra pensar que por trás das pequenas portinhas suspensas não havia janelas e sim pequenos quadrados pretos iludindo os passageiros que aquilo fosse uma janela.

Pouco depois ela estava mais calma, olhava em volta tentando contar quantas poltronas havia no avião:

- Já está com sono?

- O senhor não acredita, né? Já disse que não vou dormir.

- Então se prepare pra um longo tempo de tédio, eu disse que serão várias horas, lembra?

- Não se preocupe, tenho que escrever coisas novas no diário.

Assim Fernando pôs fones de ouvido, pegou um livro pra ler enquanto Isabela escrevia ao seu lado, porém, menos de vinte minutos depois, ao virar uma página, percebeu Isabela agarrada ao diário, com uma caneta na mão, dormindo encostada no ombro esquerdo do pai. Fernando apenas sorriu: "Eu te falei que você ia dormir" pensou consigo mesmo, guardou o diário de Isabela, fechou o livro que estava lendo e tentou dormir um pouco também.

Quando o avião estava pra aterrissar, pai e filha foram acordados pela aeromoça que lhes pedia pra colocarem o cinto, o que era pra ter sido um pequeno cochilo acabou tornando-se sono de uma noite toda.

Isabela abriu a janelinha do avião e pode ver o aeroporto bem pequeno lá embaixo, as casas, carros e pessoas todos bem pequenos como formigas.

- O senhor dormiu também.

- Viajar de avião é meio entediante.

- Mas a gente não chegou de madrugada.

- É por que nosso voou fez escalas.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora