22. Iago

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A partir desse incidente a vida de Isabela entrou numa calmaria por muito tempo, a amizade de Débora provara-se sincera, quando não saiam juntas pra algum passeio, viviam grudadas ao telefone, apesar da diferença de idade de mais de dois anos a favor de Débora.

Num certo dia estavam na pracinha do condomínio onde morava Isabela sentadas lado a lado no balanço, mas sem se balançar, apenas conversavam sobre os pais de Débora.

– E se eles se separarem mesmo você vai morar com sua mãe ou com seu pai?

– Lógico que é com minha mãe, se pelo menos meu pai fosse metade do que é o seu, eu ainda pensava no assunto.

– Meu pai é muito bom mesmo, ele é tão calmo! Esses dias um cara de moto ficou bravo com ele no trânsito, parou a moto do lado do nosso carro, xingou meu pai de tudo que é nome, eu fiquei morrendo de medo, meu pai não disse nada, só pediu desculpas com a maior calma do mundo, sabe?

– Dá pra ver que ele é bastante calmo mesmo. Quem dera meu pai fosse assim!

– Ele já brigou com sua mãe na frente de você e do seu irmão?

– Claro que já, ele já até bateu nela.

– Meu Deus, Débora, que horror!

– Meu irmão sempre diz pro meu pai aproveitar enquanto nós ainda somos crianças, mas um dia ele vai crescer e nunca mais meu pai encosta um dedo na nossa mãe.

– Coitada dela, Débora.

– Eu acho que meninas tem que morar com a mãe mas no meu caso, eu não tenho mesmo outra opção.

– Você fala como se fosse difícil viver com sua mãe.

– Não que seja difícil, eu realmente penso q ela precisa de mim muito mais que meu pai, mas as vezes ela também sabe ser bem chatinha, sabe?

– Eu imagino como seja, minha mãe sabia bem como ser insuportável.

– Você nunca fala dela, vocês tem algum problema?

– Ela escondia meu pai de mim.

– Sério? E o que fez ela mudar de idéia e te deixar vir morar com ele?

– Quem disse que ela mudou de idéia, Debby?

– E o que aconteceu então?

– Eu não gosto muito de falar disso, amiga.

– Eu imagino, ja somos amigas a várias semanas e até hoje não sei quase nada de sua vida, você sempre muda de assunto.

– Minha mãe sempre falava pra mim que meu pai tinha morrido, mas que antes disso ele era mau, batia nela, quando descobriu que ela tinha engravidado desapareceu largando ela sozinha.

– Mas que sujeito miserável!

– Aí é que tá amiga,eu nunca consegui acreditar nisso, tinha sempre uma coisinha martelando na minha cabeça que isso tudo era mentira dela, o pior é que todo mundo em casa apoiava ela, meus tios e avós e até meu irmão acredtava nela, então eu fugi de casa e vim conhecer meu pai.

– Como assim? Você tinha me falado que sua família morava em São Paulo!

– Exatamente, peguei o cartão do meu avô, fui ao caixa eletrônico um dia que ele me levou pra fazer compras com ele, saquei tudo o que tinha lá, uns dias depois eu fugi, peguei um ônibus e fui pra fazenda onde minha mãe conheceu meu pai, de lá vim seguindo o rastro dele, levei um mês inteiro, mas consegui, trinta dias depois eu bati no portão dele e descobri que ele não era um décimo do que minha mãe dizia.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora