4. Tia Graça

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Acordou em torno de umas nove horas, tia Graça deixou que ela dormisse o quanto quisesse, depois de viajar tanto e viver tanta aventura num só dia, ela realmente estava cansada, mas agora, depois de um banho quente, escovou seus dentes, trocou de roupas, foi a cozinha, tinha pão fresco e leite quente na mesa, cobertos com um pano de prato limpo, a casa era de madeira, pequenas vigas cortadas ao meio, com a parte reta para dentro e a parte redonda para fora, todas em pé, bem juntinho uma ao lado da outra. O chão de cimento vermelho bem lisinho e encerado, seus tênis tinham desparecido e no lugar deles havia um par de sandálias rosas, pequenas e confortáveis, de pano, tinham a aparência de bem velhas e desgastadas, mas eram muito confortáveis.


Tomou seu café observando cada detalhe da casa, as paredes de madeira, o chão de cimento, as cortinas de pano pelas portas e janelas, tudo era simples demais, mas transmitia uma paz inigualável, a casa estava em silêncio e embora fosse pobre e de madeira, estava perfeitamente limpa, as panelas pela cozinha reluziam de limpeza, havia um fogão a lenha numa pequena varanda que saía pela porta da cozinha aos fundos, um forno a lenha feito de tijolos, só tinha visto um desses em revistas ou pela televisão, na sala tinha dois sofás antigos cobertos por uma colcha marrom clara com babados que ia até o chão.


Saiu pelo quintal pela varanda dos fundos, ao lado do fogão a lenha, tia graça estava bem longe alimentando uma porção de galinhas, o tempo estava com um sol leve, cheio de nuvens quase nublado.


- Que bom que você acordou meu anjo, espero que tenha dormido bem.


- Dormi sim senhora, eu achei pão na mesa da cozinha, espero que não se importe.


- Oh, claro que não meu amor, era pra você mesmo.


- A senhora acorda cedo em?


- Ah sim, em fazenda a gente tem que acordar bem cedo.


- Que horas a senhora se levanta? - abaixou-se no chão e deixou que algumas galinhas comessem milho em sua mão.


- Quatro horas.


- Minha nossa, todos os dias?


- Todos os dias, eu levanto, tomo um banho, preparo o café do seu tio quando ele está, ou quando não, vou cuidar de algum serviço. Você dormiu bastante.


- Que horas eu me deitei?


- Era umas nove horas, você estava bem cansada - como Isabela já estava em pé novamente, tia Graça alisou seu rostinho com sua mão enrugada - está com uma carinha melhor.


- Quando meu tio vem do trabalho?


- Só no final de semana, eles foram sábado de manhã vacinar uns bois na fazenda vizinha.


- Como eu faço pra ir pra Itapecerica da Serra?


Antes de responder ela olhou em seus olhinhos claros, pensou um pouco antes de responder: - Você quer mesmo conhecer seu pai, né?


- Quero tia.


- Está com uma determinação que pode te levar até o fim do mundo.


- Estou sim senhora, eu saí de casa pra conhecer meu pai, e não volto pra lá enquanto não conseguir isso.


- Ou não volta nunca mais?


Ela não teve coragem de responder, ficou olhando assustada pra tia, como ela sabia seu pensamento? Por um instante teve medo que tia Graça a devolvesse de volta a Amador Bueno, teria de fugir novamente?


- Fique tranquila, não vou te devolver pra sua mãe, de que adiantaria isso? Você fugiria de novo e nunca mais poria os pés aqui. Mas eu conheço esse olhar - abaixou-se ao lado da nova sobrinha que continuava alimentando seus franguinhos na mão - você está com uma raiva monstruosa de sua mãe e de qualquer um de sua casa.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora