O dia já estava amanhecendo, os ônibus já rodavam a uma hora e nada dela encontrar a tal rodoviária, "Por que será que tudo parece tão perto quando se está de carro" pensou, já andava há duas horas e nada, estava exausta, faminta e principalmente preocupada, e se algum conhecido a visse, pensava, e se a pegassem e a levassem à força para casa? Eram dúvidas que a perturbavam constantemente. Mas ela andava assim mesmo andava, depressa, à caminho do centro da pequena Amador Bueno, sabia que a rodoviária não era tão longe do centro, já tinha ido lá com seu avô.
Então decidiu perguntar, não queria ter contato com ninguém, mas estava desconhecendo aquela parte da cidade, avistou uma mercearia, entraria, perguntaria onde ficava a rodoviária e sairia depressa, atravessou a rua, caminhou pela calçada, parou na esquina esperando o semáforo fechar, olhava de longe a mercearia, com medo de encontrar alguém conhecido, mas enfim o sinal fechou, e quando se preparou para atravessar a esquina e ir à mercearia, um ônibus de viagem parou bem ao seu lado, era amarelo e branco, muito alto, lindo, parecia ter dois andares, tinha umas letras marrons ao lado, ficou estacada na esquina com o coração acelerado, olhando o ônibus e tentando descobrir para onde ele iria, de repente, se lembrou, era proibido o ônibus virar a esquerda, ele só poderia virar a direita, então desatou a correr no sentido dos carros, indo pela calçada, alguns minutos depois o sinal abriu e o ônibus veio em sua direção, passou por ela e seguiu seu rumo, ela continuou correndo, mas o ônibus era bem mais rápido, desapareceu de sua vista entrando em outra esquina, três ruas adiante, seu coração quase lhe saía pela boca, tamanha era sua euforia, chegou na esquina onde o ônibus havia entrado, seguiu direto apreensiva, cem metros adiante encontrou uma cerca de arame trançado, alta, com um conhecido prédio amarelo, bem a sua frente, encostou na cerca e viu o ônibus amarelo e branco de letras marrons encostar numa plataforma, havia mais outras tantas dezenas de ônibus ali, alguns nas plataformas, outros estacionados perto da cerca pelo lado de dentro, e outros ainda mesmo ali por fora, era lindos, de várias cores diferentes, modelos diferentes, com nomes diferentes escritos por fora. Um deles a levaria até seu pai, tinha certeza, era só descobrir qual deles.
Deu a volta seguindo acerca e encontrou a entrada, entrou no prédio, era grande com pelo menos três ou quatro andares, com muita gente diferente, todas com pressa, agitadas, com malas, bolsas, sacolas e até carrinhos com várias malas em cima, haviam crianças chorando, mulheres bravas, velhinhos assustados, senhoras tristes, famílias se despedindo, umas sorrindo, outras chorando, de repente ao longe viu o guichê onde se vendiam as passagens, em um deles ela teria de encontrar um ônibus que fosse pra tal cidade Torre de Pedras, viu uma senhora com uma bolsa grande e uma bengala, na fila, ela era bem gorda e estava com a aparência de preocupada.
– Com licença senhora, Bom dia?
– Bom dia meu amor, o que foi?
– A senhora sabe me dizer onde se pega ônibus pra ir pra uma cidade chamada Torre de Pedras?
– Torre de Pedras? Mas é em São Paulo mesmo?
"E agora" pensou, não tinha se lembrado de ver isso antes, então respondeu sem pensar: – É sim senhora.
– Olha, então não deve ser nessa fila não, deve ser mais pra lá, aqui todos os ônibus vão para outros estados, vai mais adiante ali pra esquerda, que lá todos os ônibus vão para São Paulo.
– Muito obrigada, já ia saindo quando a senhora falou:
– Onde está sua mãe?
– Ela... ela foi... foi ao banheiro, ela me mandou comprar nossas passagens pra gente não perder o vôo.
– Vôo não, querida, ônibus, aqui não é aeroporto meu amor, mas volte até lá e espere por ela, por que eles não vão vender passagem pra uma garota sozinha, quantos anos você tem?
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ISABELA
AdventureUma garota de 12 anos q foge de casa a procura de seu pai, até aí a história não teria nada de especial, o problema é que Isabela não sabe nada dele, nome, endereço, profissão, absolutamente nada, mas mesmo assim ela atravessa o país sozinha sem ter...