3. A Fazenda Baronesa

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Faltavam quinze minutos para as duas tarde quando ela conseguiu sua primeira informação valiosa, deveria esperar até as três quando viria um ônibus que levava qualquer pessoa que morasse fora da cidade, o atendente da lanchonete havia sido gentil com ela, achou estranho no começo quando ele a atendeu normalmente, sem perguntar por sua mãe como todo mundo fazia, já havia comido suas bolachas mas aquelas coxinhas na vitrine pareciam tão apetitosas que não teve como resistir, pediu também um refrigerante, e enquanto comia, aproveitou que o rapaz do balcão era sorridente e perguntou tudo o que precisava saber, depois entendeu por que ele não havia perguntado por sua mãe, entrava muita criança da sua idade ali, aquela lanchonete ficava perto de uma escola e os alunos sempre paravam ali pra comer alguma coisa ou simplesmente fazer algazarra pelas mesas, o que obrigava o rapaz magro de cabelos louros a sair do balcão e os expulsar dali.


A passagem custava quinze reais, não era muito, mas esse ônibus levava qualquer pessoa que morasse em fazenda, e certamente o motorista pelo menos saberia onde era a tal fazenda Baronesa, depois de pagar por sua refeição, sentou-se na pequena praça e esperou, duas e meia, três horas, três e meia, quatro horas da tarde e nada, estava desesperada, em pouco tempo ficaria escuro, entraria a noite, e ela estaria em sérios apuros se não estivesse na fazenda.


Mas enfim chegou o ônibus que a levaria, ou pelo menos que fosse esse, era um ônibus velho e lamacento, todo sujo de barro vermelho por fora, com a pintura arranhada, janelas empoeiradas, parou bem à sua frente e desligou o motor, desceram umas trinta pessoas, todos com cara de empregados de fazenda, um deles até usava botas. "Eu pensei que essas botas eram só para se trabalhar no mato" pensou, mas foi até o motorista perguntar de seu destino e por que ele estava fechando a porta do ônibus, será que esse ônibus não sairia mais dali naquele dia?


- Com licença, o senhor sabe onde fica uma fazenda chamada Baronesa?


- Sei sim, por que? Você mora lá?


- Moro, e eu preciso voltar pra casa.


- Certo, então espera aí que eu acabei de chegar, o ônibus só sai as cinco horas da tarde e tua fazenda é uma das últimas.


- Fica muito longe?


- Você não sabe? Como mora lá e não sabe?


- É que é a primeira vez que meu pai me deixa sair sozinha.


- Esses peões de fazenda são mesmo uns malucos, como teu pai deixa uma menina bonita como você viajar sozinha? Esse mundo é muito perigoso minha filha.


- Eu sei, mas foi preciso, eu precisava comprar remédios pra ele.


- 'Tá certo, isso não é da minha conta, a passagem custa dezoito reais, não saia daqui que eu volto em uma hora. - saiu virando as costas e indo pra mesma lanchonete onde ela havia comido horas antes.


Pelo menos estou no caminho certo pensou, o moço da lanchonete disse que a passagem custava quinze reais, o motorista falou dezoito, "acho que ele subiu o preço" ela pensou.


Vinte minutos depois os passageiros começaram a voltar, primeiro voltou uma senhora morena com chapéu de palha e um carrinho de feira, ela era magricela e devia ter uns quarenta anos pensou. Pouco depois chegou um senhor de óculos com cara meio de japonês, mais umas três pessoas, e ninguém parecia notá-la, ela parecia invisível, as pessoas se preocupavam mais com suas próprias vidas do que com uma garotinha de doze anos que viajava sozinha. Mas já tinha sua estória na ponta da língua, não gostava de mentir, mas estava se acostumando a isso, era o preço que pagava por sua viagem.


Quando deu cinco horas da tarde, o motorista voltou, pelo menos ele era pontual pra sair, demorou chegar mas voltaria na hora certa, pagou sua passagem e entrou, não tinha bilhetes, nem recibo nem nada, era só pagar e entrar, o ônibus era tão velho por dentro quanto por fora, vários bancos estavam com o estofamento rasgado com a espuma aparecendo, que diferença do ônibus que a tinha trago de Amador Bueno, aquele era lindo, geladinho por dentro, cheiroso, esse era velho todo rasgado, e fendendo a mofo. Mas isso não importava, em poucos minutos sairia dele, sentou-se no meio, numa poltrona vazia, ao seu lado sentou-se a senhora morena e magricela, atrapalhando todo mundo com seu carrinho de feira.

ISABELAOnde histórias criam vida. Descubra agora