Tomás é um menino muito bonito, ele tem olhos tão grandes, redondos e espertos que poderia facilmente ser confundido com duas bolas de gude; tem também bochechas rosadas e a boca pequena, quase desenhada.
Era um menino bonito, mas triste.Lá em Santa Fé eu nunca tinha visto uma criança triste, muito pelo contrário, eram todas alegres, cheias de vida, prontas para brincar e andar a cavalo, mas Tomás não parecia disposto nem para trocar de roupa.
Isso não deveria ser normal. Ele era tão novinho.Ele também não fala muito e nem me olha nos olhos por muito tempo, porém eu ajudo-o a se vestir - já que ele vai me guiando onde está cada item que precisa - e por fim, após se aprontar, eu abro a porta do quarto com os lençóis sujos embaixo do braço e ponho a cabeça para fora, só para averiguar se o viúvo mal humorado não está passando.
Deus me livre encontrá-lo.- O que foi? - Tomás pergunta. Ele está logo atrás de mim. - O que você está olhando?
Eu já ia responder quando vejo o vulto estressado do viúvo passando a passos largos e desaparecendo por uma porta que deveria dar em algum cômodo que eu provavelmente não poderia entrar. Antes de fechar a porta, eu noto que ele estava murmurando algo.
Ok, ele fala sozinho.- Estou tentando não esbarrar com seu pai. - Explico abrindo caminho para que o menino passe por mim. - Eu acho que ele não gostou muito de mim.
Tomás olha para a porta por onde Ruggero havia acabado de passar e depois olha para mim.
- A Marg disse que o papai está doente. Ele nunca sorri e nem brinca.
Hummmm... Bato repetidas vezes o dedo indicador no queixo enquanto penso em algo.
Doente? Então talvez fosse por isso que ele estava de mal humor. Ninguém é feliz doente.- Doente? Então será que é algo no estômago? Bom, talvez seja dor de barriga ou prisão de ventre... Será que é verme? - Confabulo em voz alta.
- Verme? - Tomás repete, curioso.
Agito a mão no ar.
- Não. Acho que o que ele tem é prisão de ventre mesmo. Acontece muito. - Concluo por fim.
- O que é prisão de ventre? - Tomás indaga.
Umedeço o lábio inferior já imaginando um ótimo chá para aquilo.
- É quando a pessoa tenta fazer o número dois quando está no vaso sanitário, mas não consegue. - Explico.
Os olhinhos de Tomás se acendem.
- Papai tem prisão de ventre!
Assinto.
- Isso mesmo! - Concordo. - Eu vou fazer um chá que minha mãe me ensinou. É um chá de boldo, logo ele irá melhorar, você vai ver!
O menininho finalmente sorri e aponta para um corredor.
- Eu sei onde fica a maleta que a Marg guarda o chá, posso te ajudar?
Que menino esperto!
- Claro que sim, vamos curar seu papai!
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A cozinha da mansão não ficava alheia ao resto da casa, já que era enorme e cabia duas cozinhas da que tinha lá na fazenda.
Eram tantos armários que iam até o teto, sem contar nos inúmeros eletrodomésticos que eu não saberia nem pronunciar os nomes.Deixei Tomás sentado na ilha e ele foi me dizendo onde tinha cada coisa e, por incrível que pareça, ele sabia até como ligar aquele fogão esquisito que parecia mais um espelho colado na mármore da ilha.
Gente rica tem cada frescura.
Custava um fogão comum com um botijão de gás do lado?
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Nos Seus Olhos (Volume 1)
FanfictionAcusado da morte da esposa a quem tanto amava, recluso em sua mansão, dependente de álcool e remédios para dormir e um pai relapso, é isso que Ruggero Pasquarelli se tornou desde o falecimento da esposa; Desde que sua mulher desaparecera ao cair do...