Ruggero

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Sinto-me menos doente e zonzo quando Karol me pede para sentar em cima da tampa do vaso sanitário que ela acabara de baixar; observo-a me analisar e tento focar em seu rosto vermelho e em seus lábios trêmulos.
Mesmo agora ela ainda continua com medo.
Eu também tenho medo.

Lentamente ela abre os botões da minha camisa e sinto seus dedos roçarem na minha pele; meu corpo se arrepia com seu toque.

− Está tudo bem? – Ela pergunta com a voz trêmula, ou talvez seja minha mente confusa que esteja ouvindo demais. – Ruggero, você está bem?

Balanço a cabeça, mas é uma péssima atitude, pois parece haver água dentro do meu cérebro e isso faz chacoalhá-la.
Abro os olhos bem abertos e a encaro.

− Posso tomar banho sozinho. – Respondo.

Eu sei, mesmo que esse pensamento esteja em marcha lenta, que Karol não está confortável com a situação; ela não é acostumada a ver homens pelados e isso fica nítido em suas bochechas coradas e suas mãos atabalhoadas que empurram minha camisa para trás.

− Você mal consegue ficar em pé sozinho. – Rebate. – Dessa vez eu irei te desobedecer.

Consigo sorrir, ou pelo menos acho que sorri.

− Você acabou de salvar a minha vida, pode me desobedecer para sempre.

Ela me olha de soslaio.

− Isso não é engraçado, Ruggero. – Contrapõe mais séria. – Você não sabe como eu quero te encher de porrada, mas você está grogue demais e não bato em animais feridos.

Toco em sua cintura quando ela se estica para pegar algo. − Não quero que pense que não sei da dimensão do que aconteceu. – consigo dizer.

Ela volta à posição normal e apóia nos ombros a toalha que pegou.

− Eu simplesmente não quero mais ter que pensar nisso que aconteceu, ok? Eu só quero esquecer aquilo que eu vi... Eu quero apagar da minha cabeça, Ruggero.

Puxo sua mão e ela acaba se agachando entre as minhas pernas. Nossos olhos se encontram.

− Aquilo tudo que você falou...

− São a mais pura verdade. – Se adianta. – Se não contei antes foi porque passei por muitos altos e baixos emocionais nesses últimos tempos e precisava ter a certeza do que sentia.... Porém, quando te vi ali, daquela forma, indo embora... Ruggero, eu só pensei que eu não sei mais como é acordar de manhã sem você. Se você me deixasse...

− Não vou deixar. – Digo rapidamente. – Nunca mais farei uma coisa daquela. Nunca mais.

− Me promete? – Ela segura minhas mãos com força. – Me promete que vai me ajudar a te ajudar? Que não vai mais esconder bebida, nem... Nem fazer uma coisa daquela com aquela arma?

Sinto uma lágrima descer pelo meu rosto quando levo sua mão gelada até meus lábios e beijo-a.

− Prometo. Não irei perder você e o meu filho. Não irei. – Digo com firmeza.

Ela acaricia meu rosto e enxuga as lágrimas que caem.

− Vou te dar esse voto de confiança, por favor, não me desaponte.

Assinto.

− Não irei.

Ela parece acreditar em mim e isso me faz respirar aliviado finalmente.

− Então levanta que eu preciso deixar você apresentável para o Tomás. – Diz brincalhona e eu acabo sorrindo. – Banho frio, ok?

Faço uma careta.

Nos Seus Olhos (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora