Karol

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Claudio Guerra.

Eu não conheço esse tal jornalista, mas saber que ele está remexendo em um assunto tão delicado para Ruggero me deixa irritada. Na verdade, furiosa.
Por isso me esgueiro pela cozinha logo depois de colocar Tomás no banho e espero até que Marg acabe de lavar os pratos para então perguntar.

− Marg... – Pego o pano de prato branco que está sobre a ilha e começo a enxugar um prato. – Quem é esse tal de Claudio Guerra?

Ela fica tensa, posso notar, e esfrega o avental rosa que está usando.

− O que esse demônio aprontou de novo?

Nego com a cabeça enquanto coloco o prato enxuto em cima da pia.

− Nada. Eu só... Eu li algo com o nome dele lá na mesa da biblioteca. Enfim, achei o nome familiar, não sei.

Marg dá de ombros, parece cansada. Talvez falar nesse tal fofoqueiro seja reviver alguma dor.

− Karol, esse homem transformou a vida do meu menino em um inferno. Ele vivia ligando, escrevendo e procurando Ruggero para obter uma entrevista exclusiva e sair na frente dos outros jornais. – Ela bufa. – Você precisa entender que Cristina era uma mulher muito famosa e querida por muitos, e a morte dela mexeu com o país inteiro. Todo mundo queria saber o que Ruggero tinha a dizer sobre o ocorrido.

Esfrego a ponta do nariz e me encosto na pia.

− Parecem abutres. Digo, esses jornalistas. Não entendo como alguém pode querer fuçar em cima de uma dor tão grande. – Divago. – Por isso Ruggero é tão ressentido. Pisaram muito na dor dele sem se importar que por trás de um suposto culpado, havia um ser humano. Um ser humano que não tem culpa alguma.

Eu sempre detestei injustiças. Sempre fui a garota briguenta que defendia as crianças menores ou que batia nos valentões; meus pais viviam na diretoria da escola. Mas é que me doía ver alguém se aproveitando das fraquezas dos outros. Era tanta covardia.
Se eu pudesse, eu encheria a cara desse tal Claudio Guerra de sopapos. Uns bons sopapos.

− Você fala como se acreditasse no meu menino.

Abro um sorriso fraco e assinto.

− Eu acredito, Marg. Quanto mais convivo com o Ruggero, mais acredito que ele jamais poderia machucar a ex-mulher. Só de olhar nos olhos dele a gente percebe que não a maldade em sua alma.

− Eu fico tão feliz! – Ela vem até mim e segura minhas mãos com gentileza. – Você era tudo que ele precisava, sabia? Você está iluminando a vida do meu menino. Obrigada por isso.

Balanço a cabeça lentamente para cima e para baixo sem entender direito o que ela quis dizer com aquilo, porém resolvo não retrucar.
Marg me abraça e eu acaricio suas costas, só que meus pensamentos estão em Claudio Guerra e no que eu posso fazer para ele deixar Ruggero em paz.

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A hora do jantar chega logo e nem sinal de Ruggero. Ele está trancado no quarto faz tanto tempo e foi logo após aquela ligação estranha.
Não tenho um bom pressentimento quanto a isso. Meu peito está apertado.

Seguro minha medalhinha e caminho de um lado para o outro em frente a porta do quarto dele.
Não gosto de saber que ele está angustiado, pois nos tornamos próximos de certa forma e isso talvez queira dizer que somos amigos. E eu sempre me preocupo com meus amigos.

Ainda mais quando um amigo meu se tranca no quarto com tantas garrafas de bebidas.

Sabe lá Deus se ele está bem.
Aproximo-me da porta e coloco o ouvido encostado nela, porém não escuto nenhum barulho a não ser o do ar condicionado.

Nos Seus Olhos (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora