Karol

1.1K 100 93
                                    


Entro no meu quarto, fecho a porta e encosto-me nela.

Eu havia dormido nos braços de Ruggero e, não apenas isso, eu havia também sonhado com ele.

Estou perdendo o juízo, é isso, já não tenho mais o juízo de antes. Estou fora dos eixos e enlouquecendo por um homem que, claramente, não pode ser meu.
Além do mais, eu amo Mike.
Ou amei.
Não sei mais.

Esfrego a testa com a palma da mão direita e me encontro febril, adoecida, mas ao mesmo tempo reconfortada pela noite tranquila que tive; adormeci ouvindo as batidas do coração dele, contei-as uma a uma e lentamente fui caindo no sono.

Eu nunca tinha dormido com Michael. Jamais havíamos tido intimidades, de nenhum tipo.
No entanto, lá estava eu dormindo nos braços de Ruggero tão intimamente.

Se fecho os olhos ainda posso sentir a textura de sua pele me servindo de travesseiro, o subir e descer de seu peito, tão calmo, tão pleno; posso vivenciar intensamente cada detalhe da noite como se tivesse acontecendo agora.
Toco nos meus lábios como toquei os lábios dele e me arrepio completamente com a lembrança de sua língua passando lentamente pelo meu dedo; ele é intenso. Intenso demais.

Preciso de um banho frio.

------

Depois de tomar um banho gelado e pentear os cabelos para trás, me visto e saio do quarto.
Preciso aprontar Tomás para a aula particular e depois irei até a biblioteca recolher todas as garrafas de bebida que há por lá; irei ajudá-lo.

Amigos se ajudam.

E ele é só meu amigo.

Eu devia enfiar esse conceito de amizade na minha cabeça. Talvez eu devesse abrir minha cabeça com uma marreta, escrever isso em um papel bem bonito e colocar dentro e depois fechar com fita adesiva.
Seria menos vergonhoso do que me permitir sentir esse frio na barriga e esse nervosismo só de saber que irei vê-lo.

Mas... Dormir com ele foi algo tão intimo que, nem que eu quisesse, poderia ignorar.

− Oi.

Paro.
Meu coração dá uma batida tão rápida que chega a doer.
Coraçãozinho traidor de uma figa!

− Tirou a barba.

É serio, Karol? É serio que a primeira coisa que você vai dizer é isso?

− Sim. – Ele ri sem jeito e passa a mão pelo rosto liso. – Fazia bastante tempo que eu não via meu rosto sem aquele monte de entulho que eu chamava de barba.

Acabamos sorrindo e ele cruza os braços, pigarreia e por fim aponta com a cabeça para o quarto de Tomás.
Estamos parados no corredor.

− Ficou mais jovem. – Observo, ainda falando da barba. – Com menos cara de bravo.

Isso faz o rir de novo.

− Obrigado, acho. – Dá de ombros suspirando. – Pedi a Marg que cuidasse do Tomás.

Franzo o cenho.

− Por quê?

− Nós dois temos um compromisso, esqueceu? Você falou que ia se livrar de todas aquelas bebidas... Eu até tentei, mas não consigo fazer isso sozinho. – Ruggero dá alguns passos na minha direção e eu prendo a respiração. Ele para na minha frente. – Preciso de você.

Era tão estranho ver aquele homem alto, bonito, forte e rico tão vulnerável assim. Precisando de mim, pedindo minha ajuda, me olhando como se eu fosse um antídoto que ele sempre procurou.

Nos Seus Olhos (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora