Karol

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[Ps: A música pode ser ouvida lá para o meio do capítulo. É a música do nosso casal.]

*************

Assim que Ruggero sai, Tomás me ajuda a colocar a massa do bolo na forma e a colocamos dentro do forno pré-aquecido. Daí então encaramos a cozinha e colocamos as mãos na cintura.

Está imunda.
Somos dois porquinhos.

Eu queria focar meus pensamentos na bagunça e começar a limpar, mas meus pensamentos vagueavam até Ruggero. Ele havia agido tão normal. Quase como se não fosse aquele homem rude que nem sequer olhava nos olhos das outras pessoas.
Ele parecia o homem bom e amoroso que Marg descrevia sempre.

Queria que ele agisse assim sempre. Pelo Tomás, lógico.

− Escutou? – Tomás puxa minha mão me trazendo para a realidade. – Alguém entrou.

Pisco os olhos duas, três vezes para me situar e então me dou conta que faz tão pouco tempo que Ruggero saiu. Não pode ser ele.

− Quem será? – Indago pegando o pano de prato para limpar as mãos. – Será que é a Marg? Ela disse que só ia voltar de noite.

Tomás encolhe os ombros.

− Não sei.

Olho para o forno por cima do ombro antes de sair da cozinha com Tomás no meu encalço; adentramos o corredor que está cheirando a ovo cru que vem lá da cozinha, e caminhamos até a sala onde uma mulher muito magra e de cabelos escuros está de costas, ela nos escuta e se vira.
Não a conheço, mas por seu olhar superior e sua bolsa carérrima já deduzo que não é uma mera convidada. Deve ser família.

− Onde está Ruggero, menina? – Pergunta com uma voz fina demais e que soa até irritante. Ela cruza os braços e lança um sorriso amarelo para Tomás que ainda está do meu lado. – Nossa! Vocês estão fedendo a ovo podre! – Torce o nariz arrebitado.

Passo a mão pela minha roupa e tenho que concordar. Estamos sujos e fedendo, mas ela me parece bem grosseira.
Talvez as aulas nas escolas caras estejam bastante ruins. Só vejo rico sem educação.

− O papai foi comprar uma vela para mim. É meu aniversário, Candelária. – Tomás responde.

Ah. Então a girafa metida é a tal Candelária que a Marg falou outro dia.
Encaro-a de cima a baixo e constato que nem todo o estilo e beleza a faz ser alguém aceitável. Seu olhar é frio, seu jeito é frívolo e não esbanja nem um pouco de simpatia. Muito pelo contrário.
Agora eu entendo o motivo do meu patrão não ter casado com ela. Apesar de tudo, ele merece alguém menos azeda.

− Vai ficar ai me encarando? Quem é você mesmo? A nova empregada? – Ela dispara na minha direção uma torrente de perguntas e eu estreito os olhos. – É muda por acaso?

Limpo a garganta.

− Me chamo Karol Sevilla. Sou a nova faxineira.

Sua boca se contorce, como se eu tivesse dito que era uma assassina fria e calculista e não uma pessoa que trabalhava ali.

− Quem está precisando de uma faxina é você. – Ela diz e então olha para Tomás. – E você, seu pai não vai gostar de ver você assim. Sua educação é outra, Tomás. Vá tomar banho agora!

Tomás agarra minha mão e eu retribuo segurando sua mãozinha com força.
Estreito mais ainda os olhos para ela e empino o queixo. Quem essa filhote de cobra pensa que é? Mas é cada uma!

− E você acha que é mãe dele por acaso? Quem te deu o direito de falar assim com ele? – Retruco. – Tomás estava me ajudando a fazer bolo, por isso estamos sujos, mas isso não quer dizer que somos sem educação.

Nos Seus Olhos (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora