Abro os olhos e a primeira coisa que vejo é um teto branco e uma lâmpada forte que me faz fechar os olhos novamente. Respiro. Minha cabeça lateja e na mesma hora eu lembro do que aconteceu.
Lembro de Ruggero virando as costas para ir na direção do carro levar umas sacolas e em seguida algo pesado atingiu minha cabeça e uma dor dilacerante me fez perder os sentidos.
A última coisa que vi foi o rosto dele.
− Minha querida, finalmente! – Ouço a voz de Marg e logo seu rosto preocupado aparece no meu campo de visão. Ela sorri e acaricia meu ombro. – Como está se sentindo? Me parece melhor do que a outra vez que acordou.
Franzo o cenho, mas isso faz a minha cabeça doer.
− Outra vez? – Murmuro e umedeço os lábios. – Como assim?
− Há poucas horas você acordou um pouco agitada, chamou pelo Ruggero e depois acabou caindo no sono de novo. Talvez seja por causa dos remédios.
Meu peito sobe e desce devagar.
Respiro uma, duas, três vezes.− Cadê o Ruggero? – Indago. – Ele está bem, né?
Marg desvia o olhar, mas em seguida me olha e sorri. Um sorriso amarelo, forçado.
− Ele está bem. Está em casa.
Quero fazer que sim com a cabeça, mas até isso parece esforço demais. Meu cérebro parece ter dobrado de peso e tamanho.
− Eu pensei que ele estava por aqui... – Umedeço os lábios novamente. – Ele está bem mesmo? Não quero que minta...
− Está tudo bem sim. Eu juro. – Marg ajeita uma mexa do meu cabelo. – Ele só... Ele me pediu para ficar com você.
Aquilo parece confuso demais.
Não. É esquisito. Algo dentro do meu coração grita que tem alguma coisa errada. Muito errada.− Ele vai vim? – Pressiono. – Quanto tempo estou aqui?
Margarida passa a mão pela testa e depois começa a ajeitar meu lençol.
− Faz quase uma semana. Uns cinco dias, talvez. Você estava sob observação, mas está tudo bem. Os médicos me falaram que o inchaço no seu cérebro diminuiu bastante e até agora você parece bem. Sem sequelas aparentes.
Levo a mão até a cabeça. A dor continua aqui.
− Você não me respondeu se o Ruggero vem. – Seguro a mão dela. – Porque não me olha nos olhos? Aconteceu alguma coisa? Cadê o Thomas?
Sinto um leve tremor nas mãos, mas ignoro.
Tem algo muito estranho no ar e eu não sei o que é. Mas eu sei que tem haver com Ruggero.− Querida, o médico falou que provavelmente irá assinar sua alta mais tarde, então, por favor, apenas espere. Quando chegar em casa você poderá conversar com Ruggero.
Não gosto do tom de voz que Marg usa. Esse tom de voz me deixa apavorada. Quero Ruggero. Preciso dele como preciso do ar para viver.
Porém sei que algo ruim está me rondando.− Porque não fala? Para que tanto suspense, Marg? – Insisto.
Margarida nega com a cabeça e enxuga o canto do olho.
− Preciso ir ao banheiro. Daqui a pouco eu volto. – E então sai sem nem olhar para trás.
Olho ao redor, mas não vejo nenhum telefone. A agonia no meu peito só cresce e eu sei que estão me escondendo algo.
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No caminho de volta para casa – depois de receber a alta e um trilhão de recomendações médicas que incluíam evitar esforços físicos e estresse – tentei arrancar algo de Marg, mas ela parecia totalmente deslocada, quase como se fosse chorar a qualquer momento.
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Nos Seus Olhos (Volume 1)
FanfictionAcusado da morte da esposa a quem tanto amava, recluso em sua mansão, dependente de álcool e remédios para dormir e um pai relapso, é isso que Ruggero Pasquarelli se tornou desde o falecimento da esposa; Desde que sua mulher desaparecera ao cair do...