O diário

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Noah P.O.V
Eu me sentia a ponto de explodir. Tudo está uma bagunça. Me sinto confuso, perdido. Josh realmente voltou. Eu realmente vou precisar olhar pra ele todo dia. Bom, o ódio dele não é recíproco. Eu tenho medo de olhar em seus olhos e ver o mal que eu o causei. A culpa é como uma faca que te mutila enquanto você não pode fazer nada além de sofrer. Eu tenho medo de olhar em seus olhos e lá no fundo, ver que ele mudou, mas não em um sentido bom. A escola é um inferno.

Eu voltei a mansão, estava um pouco desnorteado. A culpa me dava náuseas. Depois de longos anos, finalmente posso vê-lo. E mesmo que seja um dos meus desejos mais profundos, é também uma das coisas que eu simplesmente não saberia como lidar. Coisas que eu não sei lidar. Tudo está acontecendo em minha frente, diante os meus olhos.

Eu consegui chegar em meu quarto, e a primeira coisa que eu consegui fazer foi deitar em minha cama. Eu preciso falar com ele. Ele. Em algum momento da minha vida, tudo começou a girar ao redor dele, mesmo que indiretamente. Eu levantei de minha cama, e fui em direção ao quarto ao lado do meu, tenho certeza que esse é o novo quarto dele. E mesmo que ele tenha chegado a poucas horas, o quarto já estava a sua cara. A sua fragrância havia se tornado o aroma padrão do quarto - e isso está longe de ser ruim -, suas roupas estavam todas jogadas pela cama, e seus outros itens como perfume, desodorante etc estavam todos em cima da cômoda. O quarto se tornou totalmente ele. Ao olhar a sua mala novamente, foi inevitável não perceber. O seu diário. Josh tinha um incrível desejo de ter um diário quando tinha 9 anos de idade, e desde então tem um. Sempre que um acaba, ele compra outro igual. E sempre foi assim. Eu me aproximei cuidadosamente da mala e peguei o diário dele. Uma breve nostalgia tomou conta de mim. Eu o abri. Parei na última página escrita e comecei a ler.

"Querido diário, eu estou em casa, no Canadá. Eu não aguentava mais aquele lugar. Eu larguei a todos para me livrar da dor que aquele lugar me causava. Ah, claro, o motivo disso tudo? Noah."

Uau.

"Bom, tudo começou na minha casa. Eu lembro de estar sentado na cama, e eu estava nervoso, foi a primeira vez que eu me assumi pra alguém. Eu precisava contar isso pra alguém, e a única pessoa que me vinha a cabeça, era Noah. Eu me lembro da expressão de choque dele, seria cômico se não tivesse acarretado no inferno da minha vida. E foi ali que tudo começou. Eu me lembro disso como se fosse ontem, o dia que o inferno começou. Noah subiu em um tipo de palco que tinha no refeitório da escola, ligou o microfone e começou a tagarelar sobre qualquer coisa, como sempre. Até ele falar o meu nome. Eu me lembro de suas palavras até hoje, elas me machucaram tanto. 'Ah, quase me esqueci. O queridinho de vocês, Josh Beauchamp é gay. Sim, gay. Nós merecemos uma aberração como ele na nossa escola?' aquele foi o pior dia da minha vida. Além de ter sido arrancado do armário, também tive a minha confiança e amizade com Noah quebrada. Ele me traiu, me expôs, me arrancou do armário, e como eu o odeio por isso. Na hora da saída, os atletas me agrediram. E aconteceu de novo 3 dias depois. De novo. De novo e de novo. Mas, teve uma agressão em especial, que eu não me machuquei só fisicamente. Foi a agressão que o Noah presenciou. Sabe, eu ainda tinha um fio de esperança, bem lá no fundo. Mas não aconteceu. Essa também foi a agressão que me fez parar no hospital. Eles de algum jeito, conseguiram quebrar um osso do meu pulso. Quando eu estava no hospital, eu decidi voltar para o Canadá. Mesmo que LA fosse o meu lar, ele me fazia mal. Muito mal. E quando eu saí do hospital, eu fui pra casa, arrumei as minhas coisas e fui embora. Antes de realmente ir, eu me despedi de apenas metade do nosso grupo. Após tudo o que aconteceu, metade do grupo ficou do lado do Noah, e a outra metade do meu lado. Depois que eu fui embora, os lados voltaram a se falar, mas não era a mesma coisa que antes. A pessoa que eu mais sinto falta é a Any. É impossível descrever o quanto eu a amo e o quanto ela é importante pra mim. E o melhor? É recíproco. Eu espero que quando eu finalmente voltar a LA tudo entre nós continue do mesmo jeito. Eu tenho medo de perdê-la.

-Com amor, ocean eyes. "

Uau. Isso foi chocante. Eu me sinto pesado. Mas antes que eu pudesse sentir a culpa me corroendo, a sua assinatura me chamou a atenção. Ocean eyes. Era o apelido que eu dei a ele. Era exclusivamente meu. Eu era o único que podia chamar ele assim. Uau.
Passos pesados subindo as escadas me trazem de volta a realidade, e antes de qualquer coisa, saí do quarto de Josh e entrei no meu, aonde eu posso chorar e apenas sentir a culpa em paz.

O amor da porta ao ladoOnde histórias criam vida. Descubra agora