Enquanto Any fazia pipoca, eu pedia mais comida. Serviços de delivery são (sempre) a minha salvação, já que eu tenho preguiça de cozinhar quando chego muito cansado e sempre esqueço de comprar alguma coisa essencial pra receita. Mesmo que hoje eu tivesse a disponibilidade pra cozinhar, a preguiça falava mais alto. Eu e Any passamos o dia todo vendo série e conversando sobre a vida. Essa "reunião" virou costume dos domingos, mas ultimamente, a vida adulta anda nos consumindo demais, então sempre que possível, assisto séries ou filmes. E a maioria das vezes se torna útil quando dou aula para adolescentes. Vida de professor é cansativa.
- Posso dormir aqui hoje? - Any sentou ao meu lado e colocou a vasilha de pipoca no colo. - O Lamar foi visitar os pais, e eu não gosto de dormir sozinha.
- Medo de fantasmas?
- Talvez.
Ela me olhava com expectativa, esperando minha resposta.
- Tá, pode sim. Você já tem uma gaveta no meu armário mesmo.
- Duas. São duas gavetas.
- Por que que eu virei seu amigo?
- É o destino, Josh, o destino. Só que ele errou um pouquinho nos cálculos, em vez de hétero, te botou viado. Graças a Deus, imagina namorar você? Eu prefiro a morte.
Eu fiquei ligeiramente ofendido, mas mesmo assim eu ri.
- Seria horrível namorar você. Na verdade, seria horrível ser hétero. Eu gosto da minha vida gay.
- Eu também. Eu não preciso me restringir por medo ou algo do tipo, e ainda podemos compartilhar histórias sobre a nossa vida romântica e reclamar de macho.
Eu ri.
- Falando em macho...
- Você vai falar com o Noah, certo?
-Sim, mas tem um porém. Aparentemente ele tá apaixonado por mim e eu por ele, na teoria é bonitinho e fofo, mas na prática não vai funcionar assim, não por enquanto. Faz anos que não conversamos ou temos algum tipo de contato direto. E você sabe como eu fiquei quando nós terminamos. Resumidamente, não tenho estruturas emocionais pra aguentar algo do tipo sem emocionalmente, partir no meio. Então inspirado nas músicas pop atuais e nos conselhos da minha psicóloga, decidi aprender a me amar. Quando nós viemos pra cá, eu falei que queria aprender a me amar sem ele ou algo do tipo, mas tipo assim, eu não fiz porra nenhuma disso, só chorei, dei aula e ficava lembrando dele pra poder chorar mais. Mas agora eu tô diferente e eu realmente vou me conhecer sem ele, pelo pouco tempo que ainda tenho antes dele impregnar na minha vida.
Any começou a rir nada discretamente, mesmo com sua tentativa de ser discreta.
- Você precisa ficar bêbado antes dele impregnar que nem barata.
- Semana que vem, Any, semana que vem. Você precisa ficar bêbada também. Será que tem alguma balada brasileira por aqui? - Minha animação era perceptível.
- Provavelmente. A gente vai descer na boquinha da garrafa, loira do tchan!
Eu ri com vontade.
- Me fale como anda sua vida romântica, Gabrielly. Ultimamente aconteceu tanta coisa na minha vida que virou o assunto principal.
- Eu não acho que tem muito o que falar. O Lamar é perfeito. Ele é mais amorzinho ainda quando tá só comigo. Ele se prende um pouquinho quando tá com você pelo Noah. Acho que ele tem medo de sem querer falar alguma coisa e te deixar mal.
- Seu macho é perfeito.
- Eu sei amigo, eu sei. Ele é tão o amor da minha vida. Tipo, eu quero casar com ele. Eu quero ficar nervosa e ter você pra me acalmar antes de entrar na igreja. Quero casar com um vestido incrível, como um reflexo de mim mesma. Eu quero que a minha lua de mel seja na Grécia. Eu quero morar naquelas casas enormes que tem um quintal gigante e que fica do lado de uma floresta. Eu quero ficar com medo de ter um urso no meio da noite no quintal e ter ele pra verificar enquanto eu fico debaixo das cobertas do inverno canadense. Eu quero ter filhos com ele e ensinar para as crianças como o amor é lindo. Eu quero fazer isso tudo com ele, sabe? Eu também quero fazer bonecos de neve com ele.
- E você vai me deixar aqui?
- Claro que não, você e o Noah morariam na casa ao lado. Você acha mesmo que vai escapar fácil de ser o padrinho das minhas crias? Claro que não, nem que vá no inferno te buscar.
- Você falou que eu e o Noah moraríamos na casa ao lado, mas e se não for o Noah? E se não tiver ninguém, e ser apenas eu, o Magnus e a Annie?
- Não tem problema não ser ele. Ou se não for ninguém. Você tem a você mesmo, seus doguinhos e eu.
- E se o Noah não quer mais nada comigo? Se ele não estiver apaixonado ou nada do tipo?
- Você tem razão em querer amar a você mesmo. Saber viver sozinho. Não se resumir a alguém. Talvez quando você terminar esse processo, você queira algo com ele. Mas por enquanto, eu te aconselho a ficar com apenas você mesmo. Você mesmo sabe os seus limites, então relaxa e goza.
Eu deitei minha cabeça no ombro de Any e comecei a prestar atenção na televisão.
❤️❤️❤️
Oi :)
Aviso rápido: Por decisão unânime entre eu e eu mesmo, os novos caps passam a ser na quarta, em vez do domingo.
Só isso mesmo, até o próximo cap :)
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O amor da porta ao lado
Fiksi PenggemarJosh finalmente volta ao seu lar, Los Angeles, para cursar sua faculdade, mas não esperava ter que ficar na casa de Noah Urrea, pessoa que mais odeia em toda face da terra, mas também, a única por quem se apaixonou profundamente. Plágio é crime.