CAPÍTULO 11-ALEXANDRE SE REFUGIA NA CASA DE MANOEL E CEDRIC

1K 157 28
                                    


Alexandre não teve a mínima dúvida quando saiu do consultório e rumou para a casa de Manoel e Cedric, seus melhores amigos.

Os dois homossexuais tinham a mesma idade: 75 anos. Eram espíritas e moravam numa casa que o urologista costumava chamar, secretamente, de refúgio, o porto seguro para ele se esconder de algo ou alguém que o estivesse incomodando.

Fora na casa de Manoel e Cedric que Alexandre se escondera no dia em que salvara Santiago de apanhar na escola e ficara tão confuso com os próprios sentimentos. Estava curioso demais para esclarecer o que o porteiro havia lhe dito sobre o primo ter algo a ver com o seu futuro e ter um papel fundamental em sua vida. Foi a partir dali que ele se interessou pela doutrina espírita e passou a frequentar a casa dos dois amigos.

Conhecer Cedric, naquela época, foi como dar mais luz à vida de Alexandre, pois logo que chegou ao pequeno apartamento onde os dois homossexuais moravam, a empatia entre os três foi instantânea! Era como se já se conhecessem há anos e logo o adolescente se sentiu em casa!

Mesmo quando fazia especialização fora do país, era a Cedric e Manoel que Alexandre recorria quando precisava de um amigo. 

Costumavam brincar, quando Alexandre já  trabalhava como urologista:

_Nunca vi dois veados passivos se relacionarem...especialmente um sendo descendente de português e o outro sendo descendente de francês!_dizia Alexandre rindo pra provocar Cedric, que diferente de Manoel, era o mais extrovertido.

_E eu nunca vi um homem que se diz hétero e ao invés de se tornar ginecologista para examinar xoxotas, prefere se formar como urologista, se especializar  em câncer de próstata e agora vai passar o resto dos seus dias metendo o dedo no cu de outros homens!_Cedric ria ironicamente._Isso é o que eu chamo de gay enrustido...até se casou e teve dois filhos pra disfarçar, mas a mim não engana.

Uma das coisas mais atraentes para Alexandre naquela casa, além da aura de algo mágico e maravilhosamente protetor, era o fato do quintal estar, a cada dia que passava, maior do que a casa em si!

_Eu não estou pedindo permissão a vocês dois, eu só estou avisando que passo aqui amanhã com um engenheiro para que vocês possam dizer como vão querer a tal casa dos sonhos._dissera o médico quando já estava em condições de ajudar os amigos pobres.

Os dois, Manoel e Cedric, já viviam das pequenas aposentadorias e dividiam o aluguel de um apartamento minúsculo.

_Janete vai ter um troço quando souber que você vai nos dar uma casa._alertara Manoel, o mais responsável.

_Não se preocupe. Ela nunca saberá. Casamos com comunhão de bens e não com comunhão de almas._piscou Alexandre._Não preciso contar a minha esposa tudo  o que faço com o meu dinheiro! Estou ganhando bem e vou dar sim uma casa para vocês dois. Considerem como presente de casamento, pronto. Só exijo uma coisa: preciso de um quarto pra mim e, claro, uma garagem para o meu carro, para quando eu precisar de um esconderijo. Fora isso, peçam o que quiserem que o engenheiro vai dar um jeito de fazer.

E assim foi feito: uma casa pequena com dois quartos, um para os homossexuais e outro para Alexandre. O restante do terreno, que era enorme, era todo coberto de plantas. Havia uma horta enorme e bem cuidada, plantas medicinais e plantas ornamentais.

_E aí vocês resolveram trazer a Mata Atlântica para cá._ria o médico quando estava estressado demais e vinha deitar-se debaixo daquelas copas de árvores maravilhado com tanto verde.

A esposa de Alexandre odiava mato, dizia que não era um bicho e preferia o conforto da cidade, onde não haviam mosquitos.

Cedric dizia que era Manoel quem tinha dedo verde para as plantas. Já Manoel protestava e dizia que era Cedric. O urologista tinha que reconhecer que a relação entre os dois gays era mais pacífica do que a dele com a esposa.

EM PRIMEIRO LUGAR...NÓS TRÊS!-Armando Scoth Lee-romance espírita gayOnde histórias criam vida. Descubra agora