Capítulo 2

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Sem ordem

Acordei meio perdido, tive sonhos durante a noite toda, e nesse sonho eu me via destruindo tudo, a terra estava em colapso, o céu cinzento, a noite era sombria e sem qualquer vestígio de lua no espaço. O completo purgatório. Me levanto devagar e fico sentado na cama refletindo sobre o sonho, ou pesadelo, procurando algo na mente que justifique, talvez seja uma visão, ou apenas uma peça louca da minha mente que misturado a essa marca torna tudo pior. Quase ia me esquecendo dela, tinha sumido da minha bochecha mas sabia que ainda estava lá. Me visto para a aula e faço minhas higienes no banheiro. Saiu do quarto e vou até a cozinha, minha mãe estava sorridente, deve ser por causa do novo pretendente dela, eu sinceramente não gosto muito dele, sei lá por que. Ela fazia um bolo em frente a pia onde procurava umas panelas. Cheguei e vi meu café da manhã na mesa, fresco e quentinho pronto para mim.

-- Mal dormir hoje de noite, tive um pesadelo horrível -- algo sussurrou na minha mente, é sempre assim, e não é só ela. Afastei essa voz da minha mente -- Vou te deixar hoje na escola, preciso ir ao hospital ver como o Pedro está.

-- Okay né... -- Debochei, ela bufou e jogou alguns pingos de água em mim, revirei os olhos e fui espera-la no carro que já estava do lado de fora da casa. Estava frio lá fora e tinha algumas crianças passeando indo a escola, minha vizinha Chloe estava brincando com seu cachorro novo, nos conhecemos desde que nasci eu acho, mas não éramos os melhores os melhores amigos que todos achavam, ela me vê e tira o cabelo da boca, seu cachorro corre para dentro de casa, eu sempre tive uma quedinha por ela mas não era ao ponto de querer namorar, só gostava da presença dela. Ela vem até mim me analisando.

-- Olha, está cheiroso, quer conquistar alguém?

-- Nossa claro! Uhum consigo muito -- ironizei, ela riu e olhou para dentro de casa vendo minha mãe saindo e trancando a porta.

-- Preciso ir também, tchau -- ela me abraçou quando ia ir embora, mas meu cérebro entrou em crise, eu acho que invade sua cabeça sei lá, mas vi um garoto, que estava com ela em um celeiro, espera, eu conheço esse, meu primo Connor, elas estavam fazendo sexo, mas de alguma forma ela não queria, estava sendo abusada, e logo uma areia negra fez essa visão mudar para ela chorando no canto do quarto, com sangue nas suas pernas, estava frio, e doía, sua pele estava meia avermelhada. Senti um ódio dele, logo voltei a realidade e acordei do transe. Ela sorriu e me partiu para sua casa. Fiquei congelado por alguns segundos até minha mão aparecer me chamando. Entrei no carro e fui para a escola.

Depois de alguns minutos cá estava eu na temível escola, Connor estudava comigo e vi ele conversando com suas amigas em um canto, tive nojo mas não sabia se era mais uma vez minha mente mentindo então não fiz nada, Henry apareceu do nada e me empurrou querendo me acordar da paranóia, e conseguiu.

-- Estava viajando? -- pergunta me olhando fundo nos olhos.

-- Um pouco -- o sino toca e ele me puxa para dentro da escola,estava uma grande movimentação por lá, entrei na sala e sentei no velho canto de sempre, eu sinceramente só queria dormir mais, alguns alunos pareciam acabados por não dormir essa noite, a professora entrou e começou a aula como sempre, no final da aula fui até o Henry.

-- Acho que tem algo estranho comigo, me procure na floresta depois da aula okay? -- Ele assentiu confuso, o sinal tocou novamente, peguei minha mochila e sai da sala mas levei um empurrão de alguém e caí com tudo no chão, mas não senti a mínima dor , olhei para ver quem era, Julian. Aquele garoto típico da escola, irritante, por mim eu jogava ele de um prédio, mas não ia dar certo mesmo, vaso ruim não quebra.

-- Foi você que pintou aquilo na minha casa né moleque? -- ele exalava ódio, aquela arte que fiz na casa dele foi pura vingança pela vergonha que ele me fez passar esses dias, colocando chiclete na cadeira. Ele me segurou pela gola da camisa e me apertava forte, as luzes piscavam por todo lado, Henry olhou em volta como todos, até que uma estourou e todos se assustaram, aproveitei e me soltei dele puxando Henry comigo até a floresta.

-- Não me diga que era aquilo -- ele perguntou respirando fundo para não desmaiar da correria.

-- Sim. Isso é muito louco né! -- ele sorriu e concordou, depois olhou ao redor.

-- Preciso ir para casa depois você me conta isso tudo, não falo para ninguém tá -- ele arruma a mochila nas costas e respira fundo andando para fora da floresta.

Aquele garoto sombrio apareceu de novo, sentado em um árvore olhando para um suco que tomava.

-- Parabéns! Pelo visto você é a última reencarnação das trevas, na verdade de todos eu acho, está em uma profecia. Um garoto que será a chave para o apocalipse, ou não, e possivelmente se trata de você, já que é o único com poder para isso -- permaneci calado só observando atento, como assim eu era o último? Ele não fala coisas com sentido -- viu que sua mãe acordou com um pesadelo?

-- Isso é normal ué.

-- Não, foi você que fez isso, sua maldição, não vê? Sua mãe vai enlouquecer de tantos pesadelos, quando você dorme perto de alguém, ela não dorme direito e sentiu isso na pele, ninguém pode ter paz perto de você -- cala a boca! gritei mentalmente -- não adianta, logo terá que fazer uma escolha, como eu fiz, abandonei minha casa e hoje eles vivem felizes, porque sabiam que eu era um tormento na vida deles, um monstro, e logo verão -- sua voz sumiu, era verdade? Eu seria um tormento? Não serei igual ele, irei mudar isso.

Lá pelas 17 horas eu voltei em casa meio cansado. Coloquei minha mochila no sofá e fui para meu quarto, minha mãe ainda estava fora de casa, não sei por onde, mas ela sempre volta, meu quarto estava a maior bagunça então eu tirei a roupa ficando só de cueca e fiz uma limpeza no quarto, tirando cada grão de poeira e arrumei várias roupas jogadas pelo chão, sentei na cama depois do banho e alguém me liga, pego meu celular e atendi.

-- O que foi Henry? -- perguntei deitado na cama de toalha.

-- Cara, estou em uma festa de uma garota da nossa escola, mas não quero ficar sozinho -- senti que sua voz estava alterada, acho que ele bebeu demais.

-- Aguenta estou indo aí -- desligo o celular e me apresso para me vestir, pego meu celular e guardo no bolso da calça. Saiu de casa trancando tudo rapidamente, vou a pé para a tal festa, chegando lá vejo todos aqueles alunos me apertando, entro no meio deles mas não encontro Henry, onde aquele garoto se meteu? Saiu procurando ele em todo lugar até que vejo ele no banheiro, sentado no chão meio sonolento -- parabéns conseguiu ficar bêbado! -- digo frustrado, ele me olha meio murcho como cachorro sem dono e fico com dó dele, o pego pelo braço e o ergue do chão, ele geme um pouco por causa da tontura e cambaleia um pouco, fixo seu braço no meu ombro, alguém entra pela porta e era o Julian, ai que ódio dele.

Ele nos vê e rir da nossa cara, logo pegou o celular e tirou um foto, fiquei logo muito bravo.

-- Deleta! -- ele me olhou com deboche e riu zoando com minha cara -- Apaga isso! -- seu celular começou a queimar e logo ele jogou na pia enquanto ele dava curto e ligou a torneira deixando a água cair sobre o celular.

-- Vagabundo! Vai pagar -- ele veio até mim e foi meter um soco na minha cara, porém desvio ainda segurando Henry com força, ele olhar perplexo e tenta desferir outro soco, só que dessa vez seguro sua mão e entorto fazendo ele gemer de dor, ele se ajoelha pedindo ajuda e tenta se soltar -- me solta seu louco! -- gritou, logo senti um formigamento no fundo do cérebro, mais uma daquelas viagens. Eu estava na casa dele, e o vi chegar da casa super feliz com alguma coisa. Seu pai estava no sofá o esperando e logo a imagem mudou para ele chorando com ferimentos. Mas aí vi um sorriso, alguém o levantou e o abraçou passando segurança, eu não conhecia quem era, mas aquela garota era familiar não para mim, mas acho que para o tal Jasper.

-- Nunca te deixarei, saiba disso Julian. Mesmo que o palco caia, nunca pare de dançar -- em um flash minha mente voltou a realidade, ele se soltou e saiu bravo do banheiro. Conseguir levar mesmo que com muito esforço Henry para sua casa, seu pai o ajudou a ir para o quarto enquanto eu fui para minha casa. Minha mãe tinha voltado com aquele Pedro, eles não desgrudam. Passei direto pela sala sem ver a cara dele e fui para meu quarto, o único lugar de paz nessa casa. Tranquei a porta e coloquei uma música na minha caixa de som em cima do armário e deitei na cama e logo o sono pegou.


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