[ T W E N T Y • F I V E ]

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•ARIA•

"Está nevando lá fora.

O couro da cadeira é frio quando encosto meu corpo contra ela, e vejo a neve grudar no parapeito da janela formando uma camada grossa. Encaro as paredes brancas sem graça enquanto cutuco o esmalte descascado das unhas, essas paredes poderiam ser preenchidas com quadros, com tinta, ou com qualquer coisa que tire a sensação de que estou aqui para me tornar algo que nunca imaginei me transformar.

Eu matei uma pessoa.

E mesmo que essa pessoa tenha feito coisas ruins, ainda é uma pessoa. É uma vida.

Abraço meus joelhos com os braços para tentar evitar o frio que está dentro de mim. Para evitar de lembrar o que eu havia feito há menos de 24 horas atrás.

Eu estou me tornando o que ele quer que eu seja, e o pior de tudo é que eu não me importo com isso.

Ultimamente não me importo com muitas coisas...

A dor transforma as pessoas.

Ouço a porta ser aberta e a figura com um terno preto de grife entra e se senta na cadeira a minha frente. Os olhos verdes que lembram tons que já usei em uma pintura, me encaram com a expressão cautelosa. Os lábios estão em uma linha fina quando ele cruza as mãos sobre o colo e respira fundo.

- Lila me disse que você se recusou a comer com os outros no refeitório. – Victor diz franzindo as sobrancelhas levemente.

- Pra que eles fiquem me olhando como se eu fosse um tipo de aberração ? – mantenho meus olhos na neve lá fora.

- Você apenas superou as expectativas de todos aqui, Aria. Ninguém esperava que uma garota da sua idade conseguisse efetuar uma missão de nível alto, sem que tivesse o apoio de outros agentes.

Um riso sem humor escapa da minha boca.

- Vocês subestimam a capacidade de alguém usar a dor a favor de algo ruim, Victor. – minha voz não esconde a angústia que estou sentindo nesse momento.

Meus olhos desviam para minhas mãos agora pálidas, que esfreguei tanto para tirar o sangue delas que por um momento achei que seria capaz de arrancar a minha pele.

- Aria, quero que entenda que não quero ser seu inimigo. – ele diz com a voz calma. – Eu quero te ajudar a encontrar respostas para o que realmente aconteceu com a Erin.

A menção do nome dela me faz virar o rosto para encará-lo. Falar dela causava dor em mim, causava dor por não poder ter feito nada para salvá-la, causava dor por ter que substituir os pincéis por ferramentas que tiravam a vida de outras pessoas.

Tudo isso a troco de quê ?

Nada disso vai trazer Erin de volta.

- Me ajudar ? – um riso estranho ecoa na sala. – Eu não posso pintar mais quadro algum por que de acordo com você, eu preciso apagar tudo o que eu fui até agora, minhas pinturas refletiam isso. Aquilo era a minha vida e sabemos que não é bom pro treinamento de vocês e blá, blá, blá. Mas o que você não sabe, é que pintar era o meio de não perder a minha cabeça enquanto vejo as coisas horríveis que vocês querem que eu faça.

Minhas palavras parecem atingir Victor e percebo sua expressão vacilar.

- Eu estou protegendo você das piores partes daqui. Me diga uma coisa Aria, já chegou a ver uma sessão de tortura para que alguém confesse um crime ? – sua voz sai fria e firme e me faz engolir em seco.

COLD BLOOD  (Kim Taehyung)Onde histórias criam vida. Descubra agora