COLD BLOOD (Kim Taehyung)

[ T W E N T Y • S I X ]

•ARIA•

"Blue Skies" de Frank Sinatra toca baixo enquanto Victor dirige pela cidade a caminho da festa de Woong. Ele está tamborilando com os dedos no volante seguindo a melodia, enquanto meus olhos estão travados na paisagem que passa diante da minha janela como borrões de luzes coloridas.

Taehyung havia desistido que eu o atendesse, e não sei se me sinto aliviada por isso. A verdade é que mesmo quando eu não devia me importar, eu continuo me importando.

Porque uma parte de mim, quer que ele saiba da verdade. Quero contar tudo á ele. Quero que ele saiba, que ele foi a única coisa boa que me afastou de uma mente perturbada por lembranças. Ele havia trazido a arte que estava esquecida em uma versão antiga de mim.

Taehyung havia se tornado todas as cores que eu sentia falta quando pintava.

­- Ansiosa ? – Victor pergunta de repente abaixando o volume do rádio, sem tirar os olhos do trânsito.

Acho que ele havia notado que eu estava inquieta pela maneira como eu agitava meus dedos sobre o tecido do vestido. E eu odiava como ele sempre parecia saber ler minhas reações quando eu não percebia.

- Apenas pensando... – digo mantendo os meus olhos na janela.

- Em quê ?

- Viramos algum tipo de melhores amigos que trocam conselhos, ou o quê ? – pergunto levantando a guarda.

Ele solta um riso baixo.

- Sabe Aria, acho que já podemos parar de nos tratar como dois inimigos em um campo de guerra. Estávamos bem enquanto você ainda estava na Itália– ele diz casualmente e isso me faz revirar os olhos.

Victor sabia das consequências em insistir que eu assumisse o caso. Ele sabia que me mandar á Seul para investigar sobre a minha irmã poderia tomar proporções maiores, eu só não contava que no meio disso, iria salvar Taehyung de ser morto e acabar me apaixonando por ele.

- Você poderia ter assumido o caso, Victor. – digo com a voz baixa. – Poderíamos ter evitado isso...

Estou sentindo tantas coisas nesse momento.

E ele sabe do que estou falando. Sabe que isso não se trata apenas sobre Erin e a morte de Woong, agora também se trata sobre mim.

- Eu só quis te ajudar... – ele diz com a voz no mesmo tom baixo.

- Nada disso vai trazê-la de volta. – digo com minha voz falhando e sentindo as lágrimas pinicarem meus olhos.

Ultimamente tem sido difícil evitar que minhas lágrimas denunciem o modo como tenho me sentido. É como se depois de tudo que passei até aqui, me fizesse ver que estou chegando ao meu limite. Já estive nos quatro cantos do mundo, me metendo com pessoas com poder suficiente para matar á mim e todos que eu conheço. Recebi quantias absurdas de dinheiro enquanto entregava a cabeça de criminosos para o FBI, e enquanto eu via a vida esvair de seus corpos, eu sentia que uma parte de mim também se perdia. Mesmo que eu evitasse o contato com o sangue, a morte era a linha que me ligava a eles.

A morte ainda me ligava a Erin.

E agora eu só queria poder romper essa linha.

Sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha, mas a enxugo rapidamente tentando evitar que as outras cheguem a transbordar pelos meus olhos.

- Só mais essa noite, Aria. – ele diz, me fazendo virar a cabeça em sua direção. – E quando isso acabar, prometo que nós vamos voltar pra casa.