Dezenove again

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— O que eu faço? O que eu faço?

Sussurrou enquanto olhava frenético para o corpo franzino que outrora teve e para as roupas que vestia.

O tempo apagava algumas coisas e entre elas, lhe fez esquecer de como seus braços eram finos e frágeis. Como jogou futebol assim? Não era atoa que tinha fraturado o tornozelo... E calças... Há quantos anos não usava uma. Eram desconfortáveis de verdade como sentia ou era só o seu choque intensificando todos os sentimentos?

O gosto amargo na boca de uma ressaca horrível lhe incomodava também. Aquela foi a primeira e última vez que bebeu daquele jeito e isso pelo menos se recordava bem, já que nunca mais repetiu o erro.

— O mestre deveria beber bastante água nesse momento.

Can arregalou os olhos e os ergueu em direção ao imenso espelho do banheiro do Tin e viu lá o mesmo rosto que lhe apareceu no espelho em que a mulher que saiu da árvore da floresta disse ter lhe dado.

Mas aquilo fazia ainda menos sentido e sentiu seu coração ir a milhão, o que não seria bem sua reação diante de uma situação como essa.

— Este corpo é do seu eu de antes, jovem e responsivo. É normal os sentimentos desenfreados...

— Como você está no espelho do meu marido?

Perguntou indo até ele, dividido entre o pânico do seu corpo e o assombro da sua mente.

— Posso estar em qualquer superfície reflexiva desse seu mundo desde que meu espelho original esteja seguro e bem guardado e ele de fato está, ele chegou na sua casa há dois dias como presente póstumo da sua avó. Sua mãe ficou bem surpresa em me ver, mas me levou ao seu quarto mesmo assim. Se me permite dizer, precisa de um lugar maior, mestre. Aquele ambiente não combina com meu espelho vintage.

Can o olhou e suspirou fundo. Primeiro temia que Tin pudesse ouvir o que acontecia ali porque o banheiro não era acusticamente bom e segundo porque os ouvidos dele sempre foram bem perfeitos. Por isso não se exaltou e disse o mais baixo possível, embora audível.

— Você é mesmo um espelho mágico?

— Eu sou O espelho mágico, Sua Graça, criado da essência de um espelho poderoso com sangue, essência e outros sortilégios mágicos da alma em ebulição da antiga deusa da morte – Ele disse estreitando os olhos e era estranho ver um rosto sombreado indefinido em um espelho ao invés da própria imagem e que ainda poderia fazer expressões bem claras. O espelho terminou sacudindo a cabeça - Vamos começar do início. Primeiro: eu posso ouvir seus pensamentos porque fui dado a você pela minha criadora e mestra. Isso nos une em espírito enquanto durar os laços. Você é um humano com algumas peculiaridades entre elas o dom de conceber, isso lhe dado por magia antiga que nem mesmo no mundo onde a magia existe e nasceu, alguém conhece ainda. Você será o ventre da yin e yang desse mundo e isso sabe bem e voltou para o passado, nesse exato ponto por dois motivos. O mais óbvio é que deve salvar o coração do filho da minha criadora, ou seja, Pete não pode se ferir ou morrer e se Yim morrer no futuro, ele vai tomar veneno e pôr fim em sua vida preciosa, assim, aqui estamos para evitar esse dia nefasto. Segundo: a significância desse momento. Você começou a amar o Tin aqui, não que não amasse antes, mas sua mente e seu coração têm esse ponto como chave de mudança e isso foi um presente. O mestre sabia que gostaria de uma segunda chance para arrumar algumas coisas e já que voltaria para o passado, por que não voltar ao ponto onde teria tempo e espaço plausíveis? E por isso está aqui, nesse ponto. E eu, por que fui dado a você? Para guiá-lo e ajudá-lo nesse retorno. Existem explicações cientificas e magicas para explicar o que aconteceu, mas sei que nenhuma das duas lhe interessam. Então vou pular para a segunda situação que nos interessa: Eu posso ouvir seus pensamentos e atender o seu chamado onde estiver, desde que tenha uma superfície reflexiva diante de você. Também posso fazer algumas alterações fora do mundo dos espelhos e uma delas é fazer com que ninguém nos ouça como agora. Também podemos conversar por pensamentos se preferir. Isso longe do meu espelho, com ele eu posso te mostrar qualquer coisa em tempo real na minha superfície. Eu posso assumir um corpo que só você veria e também apenas você pode me ouvir falar a não ser que me ordene que eu seja ouvido e visto por outro alguém, mas lembre-se, eu obedeço apenas ao meu mestre, que no caso é você temporariamente e não deve em hipótese alguma dizer a verdade sobre como chegou aqui, sobre que é uma pessoa do futuro no seu corpo do passado e tudo o que isso signifique.

Minha Seme EmpoderadaOnde histórias criam vida. Descubra agora