Onde estavam os prédios? Onde estava a rua? Onde estava a praça em que tropecei meio minuto atrás? —Perguntei desesperada. Eu me encontrava no chão de um vasto gramado —como um campo de futebol —apenas uma árvore de médio porte a alguns metros. Notei uma estreita estrada de terra batida onde deveria estar à rua.
Eu devia ter batido a cabeça com muita força! Só poderia ser isso! Olhei freneticamente em todas as direções e nada estava ali. Nada! As pessoas, a cidade, tudo havia sumido.
Quanto eu bebi noite passada? Talvez ainda esteja bêbada! Isso. Com certeza, bêbada!
Eu não conseguia me mover, me levantar e provar que estava tão embriagada que não podia sequer ficar de pé, que estava tão doida que tinha feito tudo desaparecer.
Fechei os olhos e os apertei bem forte, rezando para que, quando os abrisse novamente, tudo voltasse ao normal. Então ouvi um barulho. Abri os olhos rapidamente. Avistei um homem em cima de um cavalo marrom claro vindo em minha direção. Estreitei os olhos para entender o que estava vendo.
Realmente era um homem e um cavalo! Continuei a observar enquanto ele se aproximava e notei que o cavalo diminuía sua corrida. Diminuiu um pouco mais até parar bem perto de onde eu estava.Olhei para o homem, completamente confusa. Suas roupas eram muito esquisitas e antigas. Muito, muito antigas! Vestia um casaco escuro e comprido, um colete sob ele, gravata —ou talvez fosse um lenço branco amarrado no pescoço — e botas pretas na altura dos joelhos. Ele estaria indo para alguma festa à fantasia? Ou um casamento temático, talvez?
Fiquei observando o rapaz enquanto ele descia de seu cavalo com uma expressão preocupada no rosto.
—Você está bem, senhorita? —Ele perguntou, se agachando ao meu lado.
Continuei a encará-lo de boca aberta. Seus olhos procuraram alguma coisa ao redor. Assim como eu, também não encontrou nada ali, apenas a árvore, a pedra e eu, ainda caída no chão. Ele voltou a observar meu rosto, depois seus olhos avaliaram o resto de mim e sua cara assumiu um tom avermelhado quando examinou minhas pernas.
Rapidamente, voltou a me encarar, sua face confusa.
—Você está bem, senhorita? —Ele repetiu.
Minha cabeça girava, me deixando tonta.
-O que? —Respondi pateticamente.
—Tem um ferimento na cabeça. Está sangrando muito. —Ele moveu sua mão em direção à minha testa, mas não me tocou.
Estava tão confusa que não notei, a princípio, a umidade quente e pulsante em minha têmpora.
—Ah! —Eu disse tocando minha testa debilmente. Doeu um pouco.
Então, eu não estava sonhando! Ou tendo um pesadelo.
—O que aconteceu? Parece assustada e...suas roupas... Hã...
—Cadê a cidade? —Inquiri, com a voz quase sem som.
—Foi de lá que a senhorita veio? —Sua testa franziu.
—Como foi que eu vim parar aqui? Como tudo sumiu tão depressa? Cadê as pessoas? —Disse eu, agarrando com as duas mãos a gola de seu casaco.
Olhei em volta, procurando uma forma lógica para explicar o que estava acontecendo, mas não havia nada ali, além da paisagem rural. Estava assustada demais para entender qualquer coisa. O rapaz se espantou um pouco com minha reação. Mas o que mais eu poderia fazer, além de ter um ataque?
—Melhor levá-la até minha casa e chamar o médico. Depois arrumarei uma carruagem para levá-la até sua casa. —Seus olhos me fitavam de uma forma muito estranha. Era muito intenso. Fiquei zonza. Soltei seu casaco imediatamente.