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Não fui trabalhar naquela sexta-feira. Não me importava como eu pagaria o aluguel. Eu tinha que encontrar a tal mulher. Pensei em pesquisar na internet para descobrir informações sobre ela, mas eu nem mesmo sabia o seu nome.

Peguei meu carro e rodei pela cidade, entrando em todas as lojas que vendiam celular, sentindo o desespero me dominar a cada "não". Ninguém nunca ouviu falar dela. Procurei o dia todo em vão.

Claro que ela não deixaria rastro depois do estrago que fez.

Dulce bancava a detetive virtual, procurava na internet casos de pessoas que diziam ter viajado no tempo, mas sem encontrar nada concreto.

Procurei por ela durante dias, até mesmo nas cidades vizinhas, até em delegacias.

Nunca havia nada. Nada de nada.

Uma semana depois, mudei meus planos. Pensei que a vendedora talvez fosse uma daquelas bruxas que faziam magia. Procurei nas páginas amarelas e visitei cada buraco que pude encontrar o endereço.

Numa dessas incursões, fiquei tentada a me deixar levar depois da minha viagem ao passado, não havia mais muita coisa em que eu não acreditasse.

Dentro de uma sala minúscula e repleta de incensos, cristais coloridos e tecidos, a cigana Odara tentou me convencer de que sabia de alguma coisa.

— Você está aflita. — ela afirmou.

— Sim. — confirmei. Mas isso era evidente, então não me surpreendi

— Vejo que tem assuntos mal resolvidos no passado. — ela disse, com a ponta dos dedos pressionados contra as têmporas observando uma bola transparente que soltava faíscas azuis.

— Tenho.

— Um homem — ela continuou. — Que você ainda a...

— É. — eu disse empolgada.

— Você o quer de volta. Por isso está aqui.

— Sim, — confirmei. Afinal, o motivo para encontrar a vendedora era para que ela me levasse até Ian outra vez, não era?

— Posso fazer isso pra você. Posso trazê-lo de volta em três dias.

— Como?

— A magia de cigana Odara é muito poderosa. Custará 300 reais.

—Trezentos? — não que não valesse à pena. Se funcionasse, claro. Mas eu tinha que me certificar de que ela não era uma espertalhona — Que garantias eu tenho de que está me dizendo a verdade?

Ela estreitou os olhos verdes carregados de maquiagem.

— Cigana Odara não mente. Cigana Odara é poderosa. — era tão irritante que se referisse a si própria na terceira pessoa!

— Tá, mas me dá mais alguma coisa. Mais informações.

— Muito bem. — ela disse pressionando a testa outra vez. — Ele é bonito e educado, — até aí tudo certo. — Te amava muito. — meu coração começou a bater forte com a esperança. — Mas não foi capaz de resistir à tentação. A culpa foi da outra.

Murchei.

— Outra? — repeti desanimada.

— A outra mulher. Pela qual ele te trocou.

O complicado de se procurar em lugares místicos é que alguém sempre tenta te convencer de eles sabem exatamente o que você procura.

Depois de cigana Odara, tomei mais cuidado, prestando atenção nas frases — quase todas generalizadas: Você está infeliz. Vejo que esta procurando alguém, tem um homem no seu destino, posso trazê-lo de volta por duzentos. Cem. Cinquentinha e não se fala mais nisso! Mas, na última espelunca em que me atrevi a entrar, me surpreendi. Primeiro, por não se tratar de uma espelunca, mas de uma sala agradável, branca com diversas velas coloridas e algumas imagens de santos. A segunda surpresa foi Mãe Cleusa não querer me oferecer seus serviços, apenas respondeu que não conhecia nenhuma outra vidente com as características que eu descrevi a ela. Mas a grande surpresa aconteceu mesmo quando eu estava de saída. Depois de me dizer para seguir em paz, os olhos de Mãe Cleusa tremularam e ela ficou diferente, como se não estivesse ali na sala. Fiquei imóvel. Segundos depois, ela sacudiu a cabeça e piscou.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now