29

222 14 0
                                    


Assim que entramos na sala, todas as cabeças se viraram para nos observar. Corei um pouco e procurei por rostos conhecidos. Encontrei Maite, com um imenso sorriso, me olhando maravilhada. Estava parecida com uma princesa, tão delicada e encantadora com seu vestido marfim, que realçava ainda mais seus cabelos negros. Também encontrei Teodora, que não sorriu, mas também não me olhou de forma gélida. Fez um leve aceno com a cabeça e voltou a conversar com uma garota. Diferente de Maite, Teodora gostava de coisas mais extravagantes, e seu vestido dourado e cheio de pedras era extremamente exótico.

—Tá todo mundo olhando pra mim! —Cochichei para Alfonso.

—E por que não estariam? Não creio que algum deles já tenha visto uma jovem mais bela e encantadora tão de perto.

—Pare de brincar, Alfonso! —Ralhei baixinho.

—Não estou brincado. — O rosto sério, os olhos traziam o mesmo brilho da noite passada. Meu coração deu um solavanco. Tentei me distrair para não acabar arrastando Alfonso por uma das dezenas de salas vazias.

Observei a sala abarrotada e fiquei desconfortável. Não gostava daquele tipo de reunião social, sempre me sentia excluída. Imaginei que estar num século que não era o meu não tornaria as coisas mais fáceis para mim. Alfonso se esforçou para me deixar à vontade, me conduziu pela sala até onde estava Maite e imediatamente me apresentou as pessoas com quem ela conversava animadamente. Tentei guardar alguns dos nomes, parecia importante para Alfonso que seus amigos me conhecessem. Esforcei-me muito para nãoenvergonhá-lo dizendo besteiras e gírias. Por experiência, me limitei a perguntas educadas. Como vai você? Linda noite, não? Na verdade, estava linda apenas dentro de casa, parecia que vinha chuva pesada ainda naquela noite.

Admirei os vestidos brilhantes e cheios de plumas tão diferentes do meu e me perguntei se a tal gaiola era mesmo tão desconfortável quanto parecia. Nenhuma das mulheres pareciam incomodadas e, a julgar pelo diâmetro das saias, elas seguramente usavam a gaiola. Pensei que estivessem tão habituadas a ela que nem se importavam mais. A sala imensa estava praticamente vazia de mobília.

Sobraram apenas algumas cadeiras, um sofá pequeno e uma mesa grande com muita coisa sobre ela: castiçais, os talheres que ajudei a polir, taças de cristal, pratos e muita comida. Vários tipos de carne assada, batatas e legumes, bolos delicadamente decorados, frutas e pães se espalhavam sobre a mesa. Uma tigela contendo um líquido rosa e pedaços de alguma coisa me chamou a atenção. Descobri mais tarde que se tratava de um ponche, feito com vinho tinto, conhaque e maçã picada. Eu ainda preferia chope, mas o ponche até que era bom.

Uma pequena banda no canto da sala afinava os instrumentos. Conversei um pouco com a família Albuquerque. A mãe de Valentina não pareceu muito feliz ao me ver usando um bonito vestido. Valentina, contudo, foi mais educada e elogiou o trabalho de madame Georgette, mas seu rosto estava triste e eu sabia o motivo. Não importava onde ou com quem Alfonso estivesse, ele simplesmente não tirava os olhos de mim. Não fui a única que notou isso.

Senti-me mal por Valentina, mas também por mim. Nenhuma de nós duas conseguiria o que queria. Ela pertencia àquele século e queria Alfonso, mas não o tinha. Eu tinha Alfonso, mas não pertencia àquele tempo. Talvez, quando eu fosse embora, ela pudesse consolá-lo. Quem sabe ele não acaba se apaixonando por ela e me esquece pra sempre... Meu coração afundou no peito.

A banda ou seria pequena orquestra? Começou uma música animada. O violino vibrante contagiou as pessoas, que se puseram em fila, homens de um lado, mulheres de outro. A dança era familiar, meio parecida com a quadrilha que eu conhecia, só que séria, sem brincadeiras. Fiquei observando como homens e mulheres sabiam todos os passos, sem errar nada, como num balé. Imaginei que ensinassem isso no colégio. Vi Maite dançando com um carinha a quem fui apresentada mais cedo. Talvez seu nome fosse Christian, mas eu não tinha certeza. Ela parecia radiante e o rapaz não tirava os olhos dela.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now