—O que esta acontecendo? —Perguntei, enquanto Alfonso abaixava os braços lentamente.
—Parece que deixaram o estábulo aberto mais uma vez. —Ele bufou. —Mas é a primeira vez que não tenta encontrar a estrada.
—Ele se perdeu?
—Não. Já perdi as contas de quantas vezes o capturei perto da vila. Ele conhece o caminho. —Ele encarava o cavalo com curiosidade. Storm prestar atenção em todos os movimentos de Alfonso. Como se entendesse o que ele dizia.
Alfonso deu um passo à frente com as mãos erguidas, o cavalo recuou um pouco. Alfonso tentou alcançá-lo pela lateral, mas Storm não era bobo e se afastou um pouco mais, bufando.
—Calma, cavalinho. O Alfonso só vai te levar pra casa. —Tentei distrair o cavalo para que Alfonso pudesse pegar a ponta da corda que estava amarrada em seu pescoço.
Deu certo. Storm ficou quieto alguns segundos e Alfonso conseguiu pegá-la.
—Você tem muito jeito com cavalos, senhorita. Especialmente com este aqui. —Ele passou a corda de uma forma que prendesse o focinho de Storm. —E eu nunca vi este cavalo dar ouvidos a ninguém!
—Mas eu não sou ninguém. —Brinquei. —Somos amigos. Ele sabe disso. Quando eu disse isso, o cavalo ergueu a cabeça e olhou direto para mim. Senti um arrepio se espalhar por meu corpo. Era como se me entendesse e quisesse me mostrar isso. Muito estranho!
—Acho melhor voltarmos... —Alfonso começou a conduzir Storm para o caminho que levava até a casa —Antes que ele resolva fugir outra vez. Sozinho, não serei capaz de detê-lo.
—Tudo bem. —Concordei.
Andamos em silêncio por um tempo, sua voz dizendo que já tinha encontrado a garota certa ainda ecoava em minha cabeça. Eu não queria que fosse outra garota, mas também não queria que fosse eu. Alfonso estava certo e eu não poderia ficar, mesmo que quisesse e eu não queria! Ele se magoaria quando eu voltasse pra casa.
—Você disse que sente falta de música, não foi?—Perguntou ele, me arrancando do conflito interno.
—Disse. Uma das coisas que mais sinto falta. Eu meio que sou movida à música.
Seu rosto ficou confuso.
—Música é como o combustível da minha alma... A música é como o alimento da minha alma, dá pra entender?
—Sim, dá! Que música prefere?— Ele me observava com curiosidade.
—Ah! Eu gosto de quase tudo, mas minhas favoritas são as de rock, pop rock, rock alternativo... enfim, qualquer tipo de rock. É que o grito da guitarra me arrepia e... Deixa pra lá Alfonso. Não vou conseguir te explicar isso. —Se eu ainda tivesse meu antigo celular, poderia mostrar a ele uma das centenas de músicas armazenadas. Contudo, se eu ainda tivesse meu antigo celular, jamais teria comprado aquela porcaria e nunca teria conhecido Alfonso. Eu estava muito confusa. Minhas emoções e minha cabeça estavam em conflito constantemente.
—Temos um piano em casa, pode usá-lo quando quiser. —E sorriu —Adoraria ouvi-la tocar
—Não, eu não toco nada não! Gosto de ouvir música, mas não sei tocar nada.
—Talvez... —Ele hesitou. —Talvez gostasse de ir à ópera! Sei de uma que estreou na cidade há algumas semanas. Fica há uns cinquenta quilômetros daqui. Se sairmos no início da tarde, poderemos assisti-la.
—Eu nunca fui a uma ópera, sabia? —Havia muitas em cartaz na minha cidade.
—Não posso acreditar que nunca tenha assistido um concerto! —Alfonso não sabia se ria ou se ficava espantado. —Tenho que retificar isso. Como pode dizer que aprecia música e nunca ter apreciado uma ária?