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-Senhorita Anahí, podemos conversar um pouco? —Alfonso perguntou, todo educado, tirando minha atenção da janela da carruagem, quando já estávamos a caminho da vila.

Era a primeira vez que eu entrava em uma carruagem. Muito diferente do carro e muito diferente do que eu imaginava por "carruagem". Quando era criança, eu fantasiava que era uma princesa indo para o baile dentro de uma daquelas, mas as minhas sempre eram enfeitadas e cheias de cor-de-rosa e dourado por toda parte. A carruagem de Alfonso, no entanto, era marrom, com quatro grandes rodas de madeira e duas lamparinas pendiam nas laterais —imaginei que fossem os faróis.

A cabine era fechada como uma caixa de fósforo, apenas duas pequenas janelas nas laterais, uma delas estava coberta por um tipo de cortina de tecido. Dentro dela, caberiam quatro ou cinco pessoas. Os assentos e as paredes eram forrados por um tecido grosso e estampado de fundo bege, uma minúscula lamparina em um dos cantos, que provavelmente servia para iluminar a pequena cabine em viagens noturnas. A viagem dentro dela era cheia de solavancos e lenta, mas supus que, num acidente de trânsito entre duas carruagens, não haveria vítimas fatais. Talvez os cavalos se ferissem.

—Claro. Sobre o que quer falar?

—Sobre hoje. —Ele limpou a garganta.—Sobre o café da manhã. Claramente, Alfonso estava constrangido. Suas mãos inquietas pareciam não saber onde queriam descansar

—Tudo bem — Eu disse cautelosa. Não queria voltar ao assunto, especialmente por que não queria ficar irritada com ele. —Fala aí.

—Você disse — Ele pigarreou outra vez e, então, começou a falar rapidamente.

—A senhorita disse algumas coisas que me deixaram confuso. Muitas palavras que não reconheci, mas algumas delas eu conheço. Fiquei espantado que uma jovem dama as conhecesse também - Seus olhos se abriram um pouco mais.—E as usasse! Mas você disse algo que me deixou inquieto.

E ele estava inquieto, realmente. Imaginei que, se a carruagem fosse mais alta e ele um bom tanto menor, começaria a andar de um lado para o outro, como fazem nos filmes.

—E que coisa foi essa? —Perguntei.

—Sobre ir para a cama com homens casados. —Ele baixou a cabeça. Ficou mexendo nos joelhos da calça como se tivesse alguma coisa presa ali.

—Eu nunca fui, já disse! Não estou mentindo.

—Eu acredito, senhorita. Mas — Ele continuava com a cabeça baixa, sua voz ficou um pouco abafada. —A questão é que me pareceu que a senhorita conhece bem o assunto. Ir para cama com um homem quero dizer. —Sua voz diminuiu até um sussurro.

Oh! Esse assunto!

—E conheço. —Eu tinha vinte e quatro, já conhecia há rio tempo.

—Foi o que pensei. —Murmurou, levantando a cabeça olhando pela janela.

Eu não podia ver seu rosto, apenas seu pescoço e seus cabelos negros. Esperei que ele continuasse, mas ele não continuou.

—E você pensa que eu não deveria conhecer, acertei?

Ele se virou e me olhou nos olhos. Olhou profundamente. Senti a força deles me arrastando, exatamente como um ímã. A força era tanta que recuei um pouco, assustada.

—Certamente que não devia! Jovens solteiras não devem conhecer certos assuntos até que estejam formalmente comprometidas. —Ele parecia muito irritado. Mais que isso, parecia furioso. —E quando digo formalmente comprometidas me refiro ao matrimônio.

—Alfonso... —Minha voz estava um pouco rouca, com medo.

Do que? Daqueles olhos?

—Eu tenho vinte e quatro anos, sou solteira. O sexo faz parte da vida das pessoas com certa frequência. Onde eu vivo pelo menos é assim. E mesmo que eu não conhecesse na prática, minha mãe me explicou como tudo funcionava quando eu tinha onze anos.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now