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Coragem, Anahí. Você já enfrentou coisas piores! -Eu disse a mim mesma, parada em frente à casinha, me lembrando do banheiro químico que usei no último show de rock e, em vão, tentei me convencer de que a casinha não era tão ruim assim.

Ela era um centro cirúrgico esterilizado comparada aos banheiros químicos. E eu não podia esperar mais, já estava no limite. Juntei coragem e fechei a porta, amaldiçoando aquela vendedora macumbeira por não me mandar para algum lugar que pelo menos tivesse banheiros decentes. Porque ela tinha que ser uma bruxa, já que podia fazer uma garota ir para o século passado. Dois séculos passados, na verdade.

Quando eu conseguisse voltar pra casa, precisaria de muita vodca pra me esquecer daquilo, pensei. E, sem dúvida alguma, jamais comeria alface outra vez na vida! Ainda era cedo, talvez umas sete da manhã, mas a casa toda já estava de pé. Fui para a cozinha procurar por Alfonso novamente ele tinha que comer, não tinha?

Eu precisaria da ajuda dele. Mais uma vez. Encontrei Madalena com a barriga colada ao fogão de lenha, terminando de passar o café num coador de pano que se parecia muito com uma meia suja e encardida.

—Bom dia, senhorita. Gostaria de se juntar ao Senhor Herrera e à senhorita Maite? Estou indo levar o café. —Ela mexia com uma colher o líquido preto dentro da meia.

—Bom dia, Madalena. Eu estava mesmo procurando por ele, mas posso ajudá-la, se quiser. Quer que eu leve alguma coisa?— Ofereci, querendo ser prestativa.

Ela pareceu ofendida com minha oferta.

—De forma alguma, senhorita. Isso não é trabalho para uma convidada do Senhor Herrera. Meu Deus! A senhorita nem deveria estar aqui na cozinha!

Realmente ofendida!

—Tá bem. Entendi. Ninguém mexe na cozinha da Madalena.—Brinquei, tentando acalmá-la.

Ela corou e ficou meio abobalhada.

—Não, senhorita. Não é isso. Mas os trabalhos da cozinha são tarefas dos criados. E a senhorita não é uma criada. —Ela piscava rapidamente, seu rosto escarlate.

—Ah! Tudo bem, Madalena. Eu só estava brincando. Não se preocupe. Eu não sei nem fritar um ovo! —Eu vou até a sala então.

Fui até uma grande bacia — parecida com um ofurô de madeira, só que um pouco menor —e lavei minhas mãos.

Passei a mão úmida no mesmo vestido que tinha usado no dia anterior pra alisar uns amassados, depois deslizei os dedos pelos cabelos e fui pra sala. Não que eu quisesse impressionar alguém, mas sabia que Teodora estaria pronta para me analisar. E ela não perderia a oportunidade de me irritar.

—Bom dia. — Saudei assim que entrei na sala.

—Bom dia, senhorita Anahí. —Disse Alfonso, se levantando e fazendo uma reverência. —Como está hoje?

—Bem, obrigada. —Olhei em volta e não encontrei as duas garotas. —Onde está sua irmã? Pensei que todos estivessem acordados.

—Ela e a senhorita Teodora acabaram de sair. O Senhor e a Senhora Moura vieram buscá-las para a missa. —Ele sorriu. —Hoje é domingo.

Ah! —até no meu tempo domingo era dia de ir à Igreja. Isso não mudou com o passar dos anos.

—E você, não vai à igreja? — Perguntei, imaginando se ele era pagão ou coisa assim. Se bem que não conhecia muitos homens que fossem à igreja sem serem arrastados por suas mulheres, namoradas, mães, casos ou coisa do tipo.

—É claro que vou, mas como a senhorita ainda estava dormindo, pensei que seria melhor ficar em casa hoje, para o caso de precisar de alguma coisa. —Ele me fitou e um sorriso meio irônico apareceu em seus lábios.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now