—Você acha que ele vai contar pra alguém? —Perguntei preocupada com Maite.
Ele tocou delicadamente uma mecha de cabelo que teimava em cair nos meus olhos e a colocou atrás da orelha.
—Não se preocupe com isso. Gomes é muito discreto. Faz parte de seu trabalho ser discreto.
Afastei-me um pouco dele.
—Não quero te causar problemas—Recuei um pouco mais.
—E não causou. Se me lembro bem, fui eu quem começou isso.—Ele me observava atentamente. —Por que está se afastando como se eu fosse perigoso?
A distância agora era de alguns passos.
—Por que dessa forma, poderemos conversar civilizadamente sem acabar... Do jeito que acabou agora pouco. —Falei envergonhada.
Ele riu.
—Acho que tem razão.—Correu uma das mãos em seus cabelos negros. —Creio que precisamos conversar sobre o que está acontecendo entre nós dois. Você não pode mais fugir do que sente.
—Eu sei —concordei, pensando na conversa que tinha tido com Teodora na sala de música. Ele precisava saber da minha história, toda a história, para poder entender que eu não era livre para decidir nada. —Preciso te explicar muita coisa. Mas não agora, Maite está me esperando e você tem que ver as bebidas...
Eu estava presa à parede outra vez. Dessa vez, apenas pela parede. Ele não pareceu satisfeito em adiar a conversa.
—Outra hora, então—Disse, solenemente — Vou acompanhá-la até a sala de jantar para que Maite não se preocupe mais. —Ofereceu-me seu braço.
Sacudi a cabeça. Suas sobrancelhas arquearam.
—Você vai daí — Indiquei a outra parede—E eu vou daqui. Essa casa tem muitos corredores iguais a este —Esclareci meio sem graça.
Ele sorriu.
—Não vou atacá-la, Anahí.
—Mas talvez eu te ataque. —Sorri também.—Melhor não arriscar!
Ele assentiu, ainda sorrindo. Andamos alguns passos em silencio. Eu espiava seu rosto de vez em quando e sempre encontrava seus olhos me observando. Depois de um tempo, Alfonso resolveu falar.
—Então irá até a vila esta tarde? —Perguntou casualmente.
—Vou. Acho que Maite não me deu outra opção.
—Pode ficar aqui comigo se quiser. —Ele se aproximou
—Já prometi que iria — Menti. Era melhor evitar a tentação de ter a casa só para nós dois outra vez.
Ele continuou andando, colocou as mãos no bolso e se aproximou um pouco mais.
—Talvez depois do jantar possamos conversar. —Sua voz mais baixa me causou calafrios.
—Talvez. Ou amanhã durante o dia, num lugar onde não tenha portas nem paredes. —com certeza, seria mais prudente se, pelo menos, não tivéssemos a facilidade de tantos quartos ao alcance das mãos.
Ele se aproximou mais, as mãos ainda dentro dos bolsos, mas nossos cotovelos se tocavam. De repente, um pensamento desagradável encheu minha cabeça. Eu parei e o puxei pelo braço fazendo com que ficasse de frente para mim.
— Alfonso, preciso te dizer uma coisa!
—Diga!
Observei seu rosto atentamente.