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Os dois homens iniciaram uma animada conversa sobre caça ainda que eu não pudesse imaginar Alfonso atirando em qualquer coisa. Valentina se sentou ao meu lado. Ela nãotirou os olhos de Alfonso, e sua mãe, de mim. Eu não parava de pensar que aquela visita para me apresentar a seus pais era apenas uma desculpa e que, no fundo, Valentina e sua mãe queriam investigar o que eu estava fazendo ali e o que Alfonso achava disso.

Adelaide parecia desconfiar de alguma forma e, na verdade os instintos dela estavam quase certos. Falei pouco para não correr o risco de dizer asneiras, mas ouvi boa parte daconversa das mulheres. Coisas sem importância para mim: a família Borges também adquiriu uma nova carruagem, o alfaiate brigou com o padeiro, e se negava a abrir a lojaenquanto ele não retirasse a banca de pães da frente da sua porta. E falaram sobre fitas e vestidos um assunto discutido muito animadamente.

Descobri que Valentina realmente estava apaixonada por Alfonso. A forma como olhava para ele, com adoração, com prazer, com constrangimento, deixava claro o que sentia por ele. Não gostei dessa parte. Vez ou outra Alfonso olhava em nossa direção e sorria. Não pude ter certeza se seus sorrisos eram destinados para a garota pequenina, delicada e inocente ao meu lado ou se para mim. Valentina corou e baixou a cabeça toda vez que o viu sorrir. Senti meu rosto esquentar também, mas não por constrangimento. Como ele se atrevia? Flertar com Valentina bem na minha frente? E todas as coisas que me disse naquela tarde? E aquele beijo?

No entanto, assim que consegui recuperar o bom senso, pensei que talvez fosse bom se ele se interessasse por ela. Valentina poderia ser uma ótima esposa e uma irmã muito atenciosa para Maite. Dava pra ver que as duas tinham afinidade. Se bem que eu achava difícil Maite não gostar de alguém, praticamente impossível. Com o coração pesado, compreendi que talvez a vida dele seguisse esse curso se eu não tivesse simplesmente me transportado para aquele século e bagunçado sua vida.

E eu queria que ele fosse feliz. Valentina seria perfeita para ele. Era linda apesar do seu pisca-pisca irritante, usava o vestido bufante sem parecer ter problemas, saberia comorecepcionar os convidados nas festas e jantares, saberia organizar a casa e os empregados. Ensinaria Maite o que uma mulher do século dezenove precisaria saber e, quando conversasse com seus amigos, não os chocaria. Eu era a pedra no sapato, não ela. De repente, meu estômago se retorceu, a fome esquecida.

—Maite, se importa se eu for pro meu quarto? Estou com dor de cabeça e não serei uma companhia muito agradável para ninguém. —Sussurrei.

—Ah! Que pena! —Ela disse desanimada. —Quer que eu peça à Senhora Madalena para lhe fazer um chá?

—Não, obrigada.—Eu só queria sair dali, o mais rápido possível!

—Espero que melhore logo, senhorita Anahí.—Valentina me disse, com os olhos sinceros.—É uma pena não termos sua companhia no jantar...

Apenas assenti com a cabeça. Não queria ficar perto dela nem mais um minuto. Por que, apesar de tudo, ela parecia ser uma boa garota. Não queria acabar gostando dela e me sentindo uma vadia por interferir no seu destino. Pois, diferente de Teodora, Valentina parecia se importar com Alfonso, e eu não poderia odiá-la mesmo que tentasse. Ela era amável e gentil, a mulher certa para ele. Meu estômago revirou outra vez.

Desculpei-me com os outros convidados e disparei feito um raio para meu quarto. Não olhei para Alfonso. No entanto, quando eu estava na metade do longo corredor mal iluminado, ouvi passos pesados atrás de mim e me virei para ver quem era. Alfonso, claro, vindo ao meu encontro. Andei mais rápido, tentando chegar ao quarto antes que ele pudesse me alcançar.

—Senhorita Anahí.—Ele chamou à meia voz.

Por que me arrepia o corpo todo apenas ouvir o som de sua voz? Argh! Não parei. Continuei mais rápido até quase estar correndo. Ouvi seus passos se acelerarem também.

Perdida AyA - (Adaptada) - FinalizadaWhere stories live. Discover now